spoiler visualizarLucas1429 17/02/2024
O Quinze como forma e expressão
Trazendo da autora algumas das características comuns aos interioranos do sertão nordestino que lêem, o Quinze é a observação da necessidade e da busca constante por uma vida com menos misérias. Entre tais características desdobra-se sobre Rachel a de leitora, quando vê-se em sua obra sua ilustração das reações do sertanejo sob a forte seca ocorrida em 1915 e a profunda ótica que faz um paralelo entre os sentimentos do sujeito e suas reações diante da necessidade. Representando um dos lados da forma, Chico Bento, Cordulina e seus filhos lidam com um estado de miséria ocasionado pela seca lançando ao leitor uma proeminente sensação da urgência que traz a fome, levando-o a entender os movimentos que fazem os retirantes quando se deslocam para outras cidades e até mesmo outros estados para verem-se livres desta condição. Entrementes, não deixando o livro de ser um romance, Conceição traz o outro lado da forma, o lado que suaviza a visão da necessidade e leva o leitor a reconhecer os sentimentos que o sertanejo tinha nessa época, mesmo no estado de escassez em que vivia. Seu par romantizado, Vicente, é faz um ponto entre a dignidade do trabalho e a frustração no amor, uma singela contribuição do aspecto de vida que havia mesmo se sabendo do pouco que se tinha para sobreviver. O Quinze é um relato único da literatura das secas, com uma escrita informal e justificada quando traz os maneirismos do sertanejo quanto á sua forma de falar, não exagerando no prosaísmo e fugindo da característica Parnasianista costumeira dos romances clássicos. Aliás, o livro não é um romance clássico. A autora não apresenta o que ocorre com um dos seus personagens principais, Chico Bento, que fugido para São Paulo com a mulher e os filhos se viu em um vislumbre de vida melhor, deixando para o sertão nordestino sua má sorte. Ao mesmo tempo, Conceição e Vicente também não seu caso de todo resolvido, ficando em suspenso o que ocorreria após a seca. O Quinze é um relato direto da autora sobre sua observação e conclusão das formas que o sertanejo tem de lidar com a necessidade. Ela buscou o destaque do sofrimento para relatar a miséria e a incerteza para relatar o sentimento. Sua obra fala de si mesma, enquanto leitora solitária, fazendo pontes com sua própria vida, como exemplo do menino Josias que morreu ainda criança, em contraste com sua filha Clotilde que também morrera criança. Em suma é uma obra fiel da expressão e forma do sertão nordestino que traz as características do sentimentalismo quando exposto á necessidade e ao amor.