Comentários sobre o viver

Comentários sobre o viver Krishnamurti




Resenhas - Comentários sobre o viver


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Enéas 02/10/2012

MATAR
... Há um grande problema envolvido em tudo isso, o problema de matar, e não apenas matar animais para comer. Um homem não é virtuoso porque não come carne, nem é menos virtuoso por comer. O deus de uma mente estreita também é estreito; sua estreiteza é medida pela estreiteza da mente que coloca flores a seus pés. A questão maior inclui os vários e aparentemente distintos problemas que o homem criou dentro e fora de si. Matar é realmente um problema muito grande e complexo. Vamos analisá-lo, senhores?
Existem muitas formas de matar, não é? Há o matar com uma palavra ou um gesto, matar por medo ou raiva, matar por um país ou uma ideologia, matar por um conjunto de domas econômicos ou crença religiosas.

"Como alguém mata com uma palavra ou um gesto?", perguntou o terceiro.

Não sabe? Com uma palavra ou um gesto você pode matar a reputação de um homem; por meio de fofocas, difamação, desprezo, pode acabar com ele. E a comparação não mata? Não matamos um menino ao compará-lo com outro que é mais esperto ou hábil? um homem que mata por ódio ou raiva é considerado um criminoso e é sentenciado à morte. No entanto, o homem que deliberadamente bombardeia milhares de pessoas e as elimina da face da Terra em nome de seu país é honrado, condecorado; é visto como um herói. A matança está espalhada pelo planeta. Em nome da segurança ou da expansão de uma nação, outra é destruída. Os animais são mortos pela alimentação, pelo lucro ou pelos chamados esportes; são dissecados pelo "bem-estar" do homem. O soldado existe para matar. Progressos extraordinários são feitos na tecnologia para assassinar grande número de pessoas, em poucos segundos e a grande distâncias. Muitos cientistas se ocupam totalmente com isso, e os sacerdotes abençoam o bombardeio e a gerra. Além disso, matamos um repolho ou uma cenoura para comer, e destruímos uma praga. onde devemos traçar o limite do que não vamos matar?

"Isso cabe a cada indivíduo", respondeu o segundo.

É algo tão simples assim? Se você se recusa a ir à gerra, é morto ou mandado para a cadeia, ou talvez a uma clínica psiquiátrica. se você se recura a tomar parte no jogo do ódio nacionalista, é desprezado e pode perder seu emprego; hã pressão exercida de várias maneiras para forçá-lo à conformidade. Ao pagarmos impostos, mesmo comprando um selo, apoiamos a gerra, o assassinato de inimigos sempre diferentes.

"Então, o que podemos fazer?", indagou o vegetariano. "Sei muito bem que matei legalmente, nos tribunais, diversas vezes; mas sou um vegetariano estrito, e nunca mato qualquer criatura viva com minhas próprias mãos.

"Nem mesmo um inseto venenoso?" perguntou o segundo.
"Não, se eu puder evitar."
"Outra pessoas faz isso para você."

"Senhor", prosseguiu o advogado vegetariano, "está sugerindo que não deveríamos pagar impostos ou escrever cartas?"

Mais uma vez, preocupando-nos com os detalhes da ação, especulando se deveríamos fazer isto ou aquilo, ficamos perdidos no particular sem abranger a totalidade do problema. O problema tem de ser considerado como um todo, não?

"Percebo que deve haver uma visão abrangente do problema, mas os detalhes são importantes também. Não podemos negligenciar nossas atividade imediatas, podemos?"

O que chama de "uma visão abrangente do problema"? é uma questão de mera concordância intelectual, acordo verbal ou você realmente compreende o problema total de matar?

"Para ser franco, senhor, até agora eu não havia prestado muita atenção a todas as implicações do problema. Fiquei preocupado com um aspecto particular dele."

O que é o mesmo que não escancarar as janelas e ver o céu, as árvores, o povo, todo o movimento da vida, mas, em vez disso, ficar espiando por uma fenda estreita no batente. E a mente é assim: uma parte pequena e insignificante é muito ativa, enquanto o restante está dormente. Essa atividade insignificante da mente cria os próprios problemas insignificantes sobre o bem e o mal, seus valores políticos e morais e assim por diante. Se pudéssemos ver de fato o absurdo desse processo, exploraríamos, naturalmente, sem qualquer compulsão, os campos mais vastos da mente.

Assim, a questão que estamos debatendo não é apenas matar ou não matar animais, mas a crueldade e o ódio que são cada vez maiores no mundo e em cada um de nós. Esse é o nosso verdadeiro problema, não é?

"Sim, respondeu o quarto, enfaticamente. A brutalidade está se espalhando no mundo como uma praga; uma nação inteira é destruída por seus vizinhos maiores e mais poderosos. Crueldade, ódio, esta é a questão, e não se alguém gosta ou não do sabor da carne."

A crueldade, a raiva, o ódio que existe em nós mesmo é expresso de diversas maneiras: na exploração dos fracos pelos poderosos e astutos; na crueldade de obrigar todo um povo, sob pena de morte, a aceitar um certo padrão ideológico de vida; na construção do nacionalismo e de governos soberanos por meio de intensa propaganda; no cultivo de dogmas e crenças organizadas, que chamamos religião, mas que, na realidade, separam o homem do homem. As formas de crueldade são muitas e sutis.

"Mesmo que passássemos o resto de nossas vidas pesquisando, não revelaríamos todas as forma sutis em que a crueldade se manifesta, não é mesmo?", perguntou o terceiro. "Então, como podemos prosseguir?"

"Parece-me", disse o primeiro, "que não estamos abordando a questão central. Cada um de nós está se protegendo; defendendo os próprios interesses, os bens econômicos ou intelectuais, ou, talvez, uma tradição que nos propicie algum lucro, não necessariamente monetário. Esse interesse egotista em tudo que tocamos, desde a política até Deus, é a raiz da questão".

Mais uma vez, se me permite perguntar, esta é uma mera afirmação verbal, uma conclusão lógica que pode ser destruída ou astutamente defendida? Ou reflete a percepção de um fato real que tem importância em nossa vida cotidiana de pensamento e ação?


(PARÁGRAFO MEU - ENÉAS) - BOM, O DIÁLOGO SEGUE E É BEM INTERESSANTE, MAS PENSO Q ESSA PARTE AÍ JÁ OFERECE UMA BOA REFLEXÃO. DEIXO APENAS UM ÚLTIMO GRIFO DO CAPITULO EM QUESTÃO.

... Sem amor, você não pode compreender a crueldade. Um arremedo de paz pode ser criado no reino do terror, mas a guerra, a matança, continuará, em outro nível de nossa existência.
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