Euflauzino 12/10/2012Como o ódio pode romper os diques da realidade
Desde o primeiro momento senti uma atração inexplicável por este livro – O devorador (Suma de Letras, 197 páginas). O título me chamou a atenção, me ganhou. Depois a capa, trabalho sempre caprichado desta editora que já faz história, acabou de completar o serviço. Pensei comigo: seria um novo autor estilo Stephen King? Completamente enganado – é uma autora e italiana (preciso rever meus conceitos).
O livro narra em flashbacks a história de Denny, 7 anos, que sofre bullying de seus colegas por ter uma mãe dependente e um pai alcoólatra. Para fugir deste mundo ele se refugia em sua imaginação criando histórias cada vez mais cruéis, criando um ser imaginário – o “Homem dos Sonhos” – que se vingaria por ele de toda a humilhação sofrida.
No presente Pietro, 14 anos, sofre de Síndrome de Asperger (para quem não sabe é uma espécie de autismo, com um Q.I. verbal significativamente mais elevado, chamado borderline de alto rendimento), ele consegue desenhar o que lhe atormenta, ele é a chave para desvendar o mistério, o único a presenciar o “Homem dos Sonhos”, porém não consegue se comunicar por causa de sua disfunção.
Alice, terapeuta de Pietro, é a única que pode chegar até ele, a única que pode arrancar a verdade dele. É também o elo entre o presente e o passado. Mas ela não quer se lembrar disso, está bloqueado há muito tempo, é horrível demais retornar ao pesadelo.
A autora Lorenza Ghinelli é rápida ao definir suas personagens, não tem firulas, pode até ser maniqueísta, mas não deixa dúvidas para o leitor de quem é mocinho e quem é bandido:
“Filippo... já aprendeu várias coisas. Primeira: a vida é suor. Segunda: apanhar dói. Terceira: melhor bater primeiro... sabe uma quarta coisa: se os outros enxergam você, se te enxergam de verdade, você está frito.”
Pronto, você já sabe com que tipo de personagem está lidando, se sofreu e se aprendeu com o sofrimento. A autora capta a fala suja dos jovens, como o velho e bom King fazia (e eu estava sentindo um pouco a falta disso):
“— Puta que o pariu do caralho, por que você não cuida da droga da tua vida, não entende que esta merda é importante pra mim, que eu tô estudando isto aqui, vai se foder, caralho. Papai tem razão de beber, morando com você até eu vou começar a beber, puta merda!”
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