Contos e causos em uruguaianês

Contos e causos em uruguaianês Valéria Surreaux




Resenhas - Contos e Causos em Uruguaianês


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benhurb 06/08/2012

CONTOS E CAUSOS EM URUGUAIANÊS, por José Alberto Leal --
Buenas que aqui me chego…
Esse talvez fosse introito mais adequado a este livro, rico no linguajar campeiro e como anuncia o título, desta nossa Santana do Uruguai, tão singular que já mereceu até dicionário.
O convite para apresentá-lo surpreendeu, já que, no meu entender, me qualificam apenas dois predicados: ser amigo do editor e fã de carteirinha do que Valéria Surreaux escreve, por sua rara capacidade de síntese e por sua extremada sensibilidade, que lhe permitiu captar e reproduzir todas as nuances dos causos que conta. Mas como dizem na caserna, missão dada é missão cumprida e para desempenhar um amigo, a gente se desdobra.
O livro é uma coletânea dos causos que Valéria nos brinda semanalmente, publicando-os na coluna Expressão da terra, do jornal Tribuna de Uruguaiana.
A prosa é enxuta, direta e leve, temperada por um humor natural e espontâneo que atenua as circunstâncias mais trágicas. Não há palavras difíceis nem parágrafos extensos, os personagens falam por si. A capacidade de dizer muito em poucas palavras, caracterizar pessoas e situações com uma única frase é uma marca da autora. Exemplo disto, a carga de frustração, mágoa e desencanto que acomete Camélio, voltando para casa “mal sustentando o peso da tristeza e do casacão molhado”.
A linguagem, regional ou culta, é o instrumento escolhido para definir personalidades e expor defeitos e virtudes. O como falam, quando falam, porque falam e até quando calam, desvela os meandros da alma, expondo até o que o personagem quer esconder. Um conveniente glossário, ao pé da página, auxilia no entendimento das expressões mais típicas.
Os contos estão reunidos em três seções, conforme o tema que tratam.
A primeira seção, “De chircas e outros temas de saúde”, gira em torno de mazelas e mezinhas, reflexo talvez da ligeira propensão à hipocondria da autora. O conto Falsa Via, que abre o livro, é um tratado de sociologia sobre a particular relação entre patrão e empregado nos campos gaúchos. Revela o peso cultural das tradições e costumes, quando o peão busca o conselho e a discrição do patrão. Deste, a última frase é um compêndio sobre manutenção da autoridade. Nos demais contos, o nobre leitor se depara com outros tipos e outros tratamentos e passará a entender a importância de uma pílula cor-de-rosa.
Segue-se “Camélio, Seu Marcos e outras entidades” por onde desfilam pitorescos e tragicômicos personagens, dos quais o mais notável, sem dúvida, é Camélio. Arrisco até um conselho: leiam o conto inicial, “Resistência”, saltem para “Insubordinável” e, em seguida “Desilução”. Finalizem com “Ocaso” e terão o retrato de corpo inteiro dessa figura, que se torna ainda mais interessante quando se sabe que não é inteiramente ficcional.
Encerra a trilogia, “Romances e outras tecnologias”, com contos que tratam do amor e da especial relação do peão com produtos de tecnologia de vanguarda como o rádio de pilha.
A divisão em seções tem mais fim didático, já que todos os causos da Valéria têm sempre um mesmo objeto: gente.
Gente nossa, gente desta fronteira de três pátrias, de tantas histórias e tradições. Gente de todos os tipos e origens, bons e maus, ilustrados e obtusos, de alta e baixa extração, bacudos e povoeiros — traduzo para os não iniciados: campeiros e citadinos — gente que faz rir e faz pensar desfila por estas páginas.
Riam, pensem e aprendam com eles.


José Alberto Leal
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