João Nogueira

João Nogueira Luiz Fernando Vianna




Resenhas - João Nogueira


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Guting 23/08/2012

Vida, Paixão e Morte pelo Samba.
Eu não esperava aqui ler um livro que falasse em duzentas e poucas páginas sobre tudo o que aconteceu na vida de esplêndido homem. Uma história parecida com a de muitos outros, porém com uma coisa a mais: O sorriso cativante do protagonista e suas falas. Meu pai me falava muito dele e cresci ouvindo alguns dos vários discos que foram citados neste livro tanto do Jõao Nogueira quanto de outros. Homenagem mais do que merecida, que o Imperator leve o nome de Centro Cultural João Nogueira. Por que mesmo não sendo o autor da mesma, Jõao Nogueira foi uma das poucas pessoas que sempre gritaram "NÃO DEIXE O SAMBA MORRER, NÃO DEIXE O SAMBA ACABAR...". E esse eco ainda ecoa em nossos ouvidos. Salve o Samba, Salve São Jorge, Salve João Nogueira.
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Luis 06/08/2012

A discobiografia do Poeta da vida
Ainda não é a biografia ampla e irrestrita que João Nogueira merece, mas de qualquer forma, essa “discobiografia” de Luiz Fernando Vianna, preenche uma lacuna sobre a obra de um dos maiores nomes do samba carioca em todos os tempos, legítimo representante do mestre Cyro Monteiro.
“João Nogueira- Discobiografia” faz parte de um pacote comemorativo dos 70 anos do cantor e compositor, completados em 12 de novembro de 2011 (mesmo dia dos também craques Paulinho da viola, Neil Young e desse que vos digita) e que contempla também um tributo lançado em CD/ DVD e Blue Ray, além de um livro de partituras, tudo supervisionado pelo maior cultor e divulgador do sambista, seu filho, Diogo Nogueira.
O livro, editado pela Casa da Palavra, se atém à carreira discográfica de João, iniciada em 1972, sob as bênçãos de Adelzon Alves, uma das figuras mais importantes no estouro do chamado sambão da década de 70, que tinha também entre seus destaques Roberto Ribeiro, Clara Nunes (grande amiga de João e esposa de seu maior parceiro, Paulo César Pinheiro), Martinho da Vila e, mais para o fim da década , Beth Carvalho.
Vianna comenta os discos e revela bastidores interessantes sobre a criação, gravação e divulgação de cada trabalho, poucas vezes fazendo juízo de valor sobre cada um. Mesmo para quem não conhece a fundo a trajetória de Nogueira, fica evidente que sua fase mais marcante compreende o período na Odeon (72-78) e o início da fase Polydor (79-81). Na companhia inglesa, ficaram alguns de seus títulos mais expressivos como “E lá vou Eu” (1974) e “Vem quem tem “ (1975), para muitos (e me incluo nesse grupo) esse último sendo o melhor álbum de João. Já na Polygram, para onde se mudou em 79, atraído por um belíssimo acordo financeiro que o possibilitou mudar-se para um condomínio na Barra (antes morava no Meier, bairro onde foi criado) e construir uma bela casa no Recreio dos Bandeirantes, onde passaria os seus últimos anos, ficaria o maior sucesso da carreira, o disco “Clube do Samba” que, oficialmente, foi a sua maior vendagem (160 mil cópias).
Embora nunca tenha sido um medalhão em termos de vendas, João sempre teve prestígio e sucesso garantidos graças à sua excepcional verve de cantor (dotado de divisões únicas, daí a comparação com Cyro Monteiro) e talento raro de compositor, azeitado por parcerias históricas, sendo a mais célebre, do já citado Paulo César Pinheiro. Essa realidade mudaria a partir da ida para a RCA, em 1983, quando seu trabalho perde a força no mercado sucumbindo à onda generalizada do Brock e do Pop anglo americano.
Pouco antes, João já tinha se configurado como um líder de uma espécie de resistência cultural ao fundar o “Clube do Samba”, que era uma associação dedicada justamente à causa das raízes de nossa música, promovendo shows e atividades nesse sentido. A princípio, o clube funcionou na casa de seu fundador, no Meier. Anos depois, seria inaugurada uma nova sede na Barra da Tijuca e o clube funcionaria de fato como uma casa de espetáculos. Infelizmente, a pouca habilidade administrativa de João colocou a pique a iniciativa, trazendo grandes prejuízos para a sua vida e carreira.
A aventura na RCA durou até 86 e rendeu três bons discos, que, no entanto, não tiveram boa repercussão junto ao público. O interessante foi que no último ano, houve o estouro do chamado pagode, nada mais do que o velho sambão, repaginado com novos instrumentos e capitaneado pela turma surgida nas reuniões do Cacique de Ramos. Zeca Pagodinho, Jovelina Pérola Negra, Almir Guineto, o grupo Fundo de Quintal, Marquinhos Satã entre outros, dominaram as rádios e as vendas de discos no período 86-87. Lamentavelmente, embora fosse uma espécie de guru desses artistas, João Nogueira não se beneficiou desse estouro. Era de outra geração.
Em 1988, ele adere ao então crescente modelo de produção independente. Se associa a uma pequena gravadora, a Ideia Livre, e , com distribuição da Polygram, lança “João”. Um belo disco que, muito em função do trabalho deficiente de divulgação e distribuição, também não aconteceu.
Após participar de um raro disco em parceria com Beth Carvalho e ligado à campanha presidencial de Leonel Brizola (“O Grande Presidente”, com músicas alusivas à Getúlio Vargas), o artista passa 3 anos sem entrar em estúdio e é resgatado pela Som Live em 1992, com o projeto “Além do Espelho”, concebido nos moldes da série “Aquarela Brasileira”, em que Emílio Santiago regravava clássicos da MPB e sambas com nova roupagem. A ideia era fazer o mesmo com João e, se desse certo, prosseguir com mais alguns discos com fórmula semelhante. A Som Livre praticamente o obrigou a regravar alguns de seus grandes sucessos, mantendo o apelo comercial do disco, mas o trabalho vendeu menos que o esperado e o projeto naufragou.
João se refugiaria então na sua crescente fama de artista cult, gravando dois discos de elevado apuro artístico (“Parceria”, gravado ao vivo, só com as suas canções com Pinheiro e “Chico Buarque- Letra e Música”, songbook do compositor de “A Banda”, grande amigo de João, trabalho dirigido por Almir Chediak) mas de pouca ou nenhuma repercussão junto ao grande público.
Uma última tentativa de voltar ao patamar comercial de outrora, seria realizada em 1998. Animado por um recente e agora duradouro ressurgimento do samba e do pagode (seus amigos Zeca Pagodinho e Martinho da Vila voltaram de forma triunfante ao grupo dos grandes vendedores), João assina com a BMG na esperança de fazer um disco que retirasse a sua carreira da sombra. No entanto, o resultado não foi dos melhores. A gravadora impôs boa parte do repertório baseado na fraca produção dos chamados grupos de “pagode mauriçola”, sucessos da época, como Raça Negra e Negritude Jr. João inclusive foi obrigado a gravar uma música composta por Luiz Carlos, o vocalista do Raça Negra, e que foi escolhida como música de trabalho. “João de Todos os Sambas”, título também imposto pela BMG, apresenta um João Nogueira descaracterizado pelas concessões. Um disco fracassado desde a sua concepção e que não tinha um décimo da originalidade e qualidade que sempre marcou a sua trajetória. Pela primeira e última vez na vida, João ficou envergonhado de um disco seu.
Às decepções com os rumos da carreira e aos problemas financeiros derivados da falência do Clube do Samba, se juntariam as dificuldades com a saúde. Como uma espécie de cobrança dos anos de excessos do álcool, do cigarro e da boêmia, no dia 01 de abril de 1998, João teria um AVC, que comprometeria de forma irreversível o seu organismo.
Os amigos, sensibilizados pela situação, incluíram João no trabalho coletivo “Esquina Carioca”, um projeto produzido pelo Bar paulista Pirajá e que contava com Moacir Luz, Beth Carvalho, Luiz Carlos da Vila, D. Ivone Lara e Walter Alfaiate. Foi realizado um show gravado em março de 99, no Tom Brasil, em São Paulo. O cachê certo do disco e do show foi bem vindo em meios aos constantes problemas financeiros e de saúde de João. Seria seu último disco.
Em 2000, a saúde pioraria consideravelmente. João sofria de diabetes, tinha feridas pelo corpo e muitas dificuldades motoras. Alguns amigos gostariam que João ainda tivesse o prazer de gravar um último disco, à altura do seu talento, até para apagar as frustações com o seu mais recente trabalho solo. Foi então arquitetado um disco ao vivo, pois João já não teria condições de encarar a maratona de estúdios. Graças à influência de Beth Carvalho, a gravadora Jam Music se interessou pelo projeto e marcou duas noites no Tom Brasil, em junho, para que o disco fosse gravado. João cantaria sentado, auxiliado por um coro e por uma poderosa banda.
Infelizmente não houve tempo para essa despedida. João morreu em sua casa, na madrugada de 5 junho de 2000, pouco mais de uma semana antes da gravação. Em forma de homenagem, os amigos aproveitaram a estrutura já montada para fazer um tributo à obra do cantor. Um poeta dos bares, dos subúrbios, das ruas. Um Poeta da vida.
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