spoiler visualizaryohash 14/04/2024
Esse é facilmente o meu livro favorito. Li pela primeira vez na escola, com aproximadamente 12 anos, mas precisei reler varias e varias vezes para conseguir absorver tudo que essa obra tem pra oferecer. É incrível como o autor consegue expressar tão bem a realidade do Zezé, dentro da sua cabeça de criança.
Eu considero essa leitura bastante sentimental, afinal acontecem diversas violências contra o personagem principal. Tudo é muito realista, como se fosse a representação da vida de muitas crianças ao redor do mundo. Muitos de nós somos apresentados à violência desde crianças, principalmente dentro de casa, onde a criança é completamente desumanizada.
Uma outra questão que me faz refletir, é como o protagonista não tinha a fiscalização dos seus pais. Claro, os responsáveis pela criança não conseguem ter total controle do que o filho faz (ainda mais numa realidade tão dura de pobreza, onde existem tantas outras obrigações a serem cumpridas), mas observei que eles não repararam quando o Zezé começou a frequentar a casa do Portuga. Vivendo na nossa realidade atual, eu teria um pouco de receio porque as crianças são inocentes demais e não sabem se defender de predadores sexuais, que ele poderia ter sido um, mas felizmente não foi o caso. O Portuga foi apenas o ?pai? que o Zezé não pôde ter e a relação dos dois foi linda de acompanhar, tanto no livro, quanto no filme.
Eu cresci entendendo que essas agressões físicas e verbais eram ?normais? e que não nos abalavam pelo resto da vida, mas através desse livro pude adquirir uma nova perspectiva. Zezé era agredido fisicamente apenas por agir como criança e muitas vezes também foi chamado de ?diabo?. Como podemos achar normal dar esse tipo de responsabilidade para pessoas que nem sequer sabem a gravidade das suas atitudes? Crianças são o reflexo dos seus responsáveis. Esse peso deveria cair para quem cria, mas preferem descontar nos pequenos para não assumir os seus próprios erros.
Os pais são frustrados e descontam nos filhos, que nem entendem a situação da família, e eles também não se dispõem para explicar de maneira que as crianças possam entender melhor. O pai do Zezé não é um ?monstro? por agir como agia, pois muito provavelmente ele também foi vítima de outras violências da vida e não teve a oportunidade de ser curado, então a sua única forma de lidar era despejando suas mágoas nos outros ao seu redor.