Leitora Viciada 29/08/2012Toques Para Mulheres já começa com bom-humor no próprio título, pois ao abreviá-lo temos TPM, um trocadilho interessante.
O livro possui vinte e uma crônicas escritas por um homem sobre as mulheres e seu misterioso mundo. Foi isso o que me chamou a atenção: um homem escrevendo sobre mulheres, sobretudo utilizando o bom-humor. Outro ponto muito atraente são as ilustrações anteriores a cada crônica e a bela capa. A ilustradora está de parabéns e toda a equipe da Giz Editorial também. O projeto gráfico do livro está perfeito.
Apesar de o livro ter sido escrito voltado às mulheres - o autor mantém um diálogo diretamente com suas leitoras, não significa que um homem curioso não possa lê-lo.
O autor utiliza não apenas do bom-humor, mas também de uma linguagem moderna, leve e agradável em suas crônicas, deixando o texto simples e de fácil entendimento. As melhores partes são algumas situações cômicas do cotidiano, que ele nos conta dando exemplos de conhecidos, diálogos diretos, situações corriqueiras e engraçadas.
Nem todas as crônicas me agradaram; por outro lado, outras me fizeram rir e de outras eu gostei muito.
Sobre o ponto de vista do autor sobre as mulheres, fiquei com a opinião dividida. Concordo com uma parte das ideias e discordo da outra.
Sempre utilizando um tom cômico e até satírico o autor expõe sua opinião sobre assuntos sérios e sobre assuntos comuns nas discussões entre os sexos.
Na primeira crônica O demônio do dia a dia o autor mostra como o cotidiano e a mesmice podem acabar com um relacionamento ou contribuir para seu fim. Com exemplos rápidos da rotina entre casais vemos o perigo, por exemplo, de um casal abrir um negócio e misturar a relação com o trabalho.
O autor explica que a saudade na dose certa, pequenas ações e cada um ter uma vida própria são essenciais para afastar a rotina.
Uma boa crônica para iniciar o livro.
Em Fim (até que se comece outro...) o autor fala sobre o término dos relacionamentos amorosos e em como a pessoa dispensada (ou como ele diz, "chutada") tenta sobreviver sem as respostas sobre o porquê do fim da relação.
Gostei dessa crônica, pois o autor lida com algo muitas vezes complicado de uma forma muito engraçada.
E-mails, pis e o guru do sexo é a crônica seguinte e o autor comenta sobre supostos e-mails que ele recebe sobre as crônicas postadas em seu blogue. Algumas mensagens seguem no texto e notamos as reações extremas dos leitores: Mulheres indignadas que o xingam e homens que o veem como um guia.
As mensagens com as dúvidas dos homens sobre seus relacionamentos fazem rir, mesmo a maioria sendo absurda.
Em A comível e a namorável o autor levanta uma questão polêmica: A mulher deve ou não ir para a cama no primeiro encontro se busca um relacionamento sério e duradouro?
Sem se esquecer em nenhum momento o lado cômico das situações ele comenta como as feministas querem ter essa liberdade sem serem taxadas negativamente. No entanto ele dá a opinião masculina onde a mulher deve se valorizar.
Sou a favor de total liberdade para ambos os sexos sem preconceitos, mas concordo com ele; se a mulher quer apenas uma aventura casual, sem problemas, vai em frente. Agora se busca uma relação séria, deve ir mais devagar. O autor se esqueceu de um detalhe: as mulheres também observam se um homem se valoriza. Não tanto quanto os homens talvez.
Seios maternos são mais ternos do que seios femininos? é um texto menos interessante que os anteriores, embora o autor faça uso do bom humor colocando-o num assunto sério: Uma mãe expor o seio em público para amamentar seu bebê pode ser atentado ao pudor, indecente? Parece besteira, mas ela conta casos onde isso já foi um problema.
Ele redireciona o texto para como algumas mães podem ser discretas ao alimentar seus bebês sem perderem a elegância.
A conta, por favor é uma das crônicas que não gostei. Pensei que seria um texto cheio de situações engraçadas debatendo quem deve pagar a conta, o homem ou a mulher e terminar apoiando o bom senso (dividir a conta) mas o autor se perde respondendo a um e-mail preconceituoso de uma mulher que defende a ideia da mulher não pagar a conta por gastar muito mais dinheiro que o homem ao se produzir para ir ao encontro dele. Concordo com o autor.
O que desgostei foi o autor generalizar que todas as mulheres se arrumam para outras mulheres. Não, nem todas. As mulheres bem resolvidas se arrumam para si mesmas, por amor próprio.
Mais respeito, hein! é uma crônica sobre seios e o complexo de algumas mulheres com eles. Aborda o assunto das cirurgias plásticas e próteses de silicone. O autor transforma a crônica em autoajuda e perde a graça.
Um brinde às bêbadas de sonhos matrimoniais é uma crônica que gostei. Concordei com o autor e achei ótima sua alfinetada sobre as mulheres que se preocupam tanto em ter a festa e cerimônia de casamento dos sonhos (com gastos exagerados) e parecem não se importar com quem estão se casando e com a seriedade do casamento.
Não gostei da abordagem em As borboletas de Mário. Compreendi a boa intenção do autor ao dizer que mulheres (e homens) devem sempre andar bem vestidos e produzidos. No entanto, esta crônica é muito preconceituosa com mulheres que no cotidiano se vestem de forma casual. Ele generaliza, dizendo que todas deveriam usar roupas elegantes e sociais no dia a dia.
Acho falso e desnecessário a mulher se vestir assim, existem casos diversos.
Por exemplo, eu: Moro numa cidade praiana onde no inverno temos 30°C e é ridículo andar de scarpin e tailleur de dia como sugere o autor. Ele detona mulheres que usam sandálias rasteiras, como se toda mulher trabalhasse num escritório com ar condicionado no centro de São Paulo.
Ao contrário da crônica anterior, O Aurélio e o igualismo é excelente, gostei bastante. Aqui o autor soube encaixar o bom humor e inteligência para falar sobre igualdade entre os sexos e o respeito pelas diferenças existentes. Sou contra extremismos, sejam feministas ou machistas e odeio preconceito.
Adorei a teoria do "igualismo" proposta pelo autor!
A próxima crônica é Como evitar capetas garanhões. Na verdade o autor não dá dicas de como reconhecer e evitar cafajestes como imaginei. Ele diz às mulheres comprometidas a serem fiéis a seus parceiros e a defendê-los em todas as situações perante outro homem.
Confesso que não entendi o sentido do texto, acho que não captei a mensagem nem a piada. Pensei que ele fosse ensinar solteiras em busca de um parceiro sério a desmascararem e fugirem dos aproveitadores.
Já A gravidez do casal executivo é uma crônica leve e que realmente expõe a dura realidade da diferença entre pais e mães. Quem sofre é a mulher, tanto nas mudanças do corpo quanto nas da vida profissional. Por mais que o homem seja compreensivo e presente durante a gravidez, sua vida profissional nunca muda, enquanto a da mulher para por meses. Adorei esta crônica e o ponto de vista (sempre engraçado) do autor.
Nem tudo entre quatro paredes vale é uma crônica muito equilibrada: engraçada onde deve ser e com conselhos ponderados. As cenas utilizadas como exemplos me fizeram rir bastante, enquanto as dicas do autor são bem colocadas e servem para ambos os sexos.
Só faltou dizer que além da sincronia e intimidade entre o casal é sempre necessário o diálogo sobre vontades e fantasias.
Não gostei de Está andando desse jeito torto por quê? por duas partes:
Primeiro quando através de um diálogo entre amigas ele mostra que a maioria das mulheres é falsa e invejosa e depois quando ele critica a deselegância da mulher bem vestida que troca os chinelos pelo scarpin no trem, antes de chegar ao trabalho. Melhor trocar no trem em meio a desconhecidos do que ir de scarpin e arrebentar os pés ou deixar para trocar na porta da empresa.
Em compensação concordo com o ponto central: é muito feio e até cômico ver mulheres que cismam com saltos altíssimos sem saberem como andar com eles. Já as que são obrigadas a usar salto alto no trabalho, às vezes por horas seguidas em pé, deixo minha admiração, pois arrebentam os pés e coluna diariamente.
Mas que pergunta indelicada de se fazer a uma mulher! passa uma mensagem ótima e positiva para mulheres que têm medo de envelhecer. Gostei da forma sincera e sensível com que o autor abordou o assunto e finalizou a crônica. Adorei as dicas e o texto.
Em Vai ser injusta só porque são injustos com você? o autor fala novamente sobre as diferenças entre os sexos e das injustiças sofridas por homens e mulheres, frisando que as mulheres sofrem mais desigualdade. Não gostei do trecho final, sobre os números que se referem aos argumentos socialmente injustos contra as mulheres porque a piada soa como deboche, mesmo que não tenha sido essa a intenção do autor.
O último pingo é uma crônica extremamente engraçada, principalmente a cena do banheiro. Acho que é a que mais gostei do livro. Adorei o autor mostrar às mulheres um pouco do universo íntimo masculino de forma tão cômica. Texto simples e muito bom!
Talvez o autor devesse escrever um livro no estilo dessa crônica, algo como "os segredos íntimos masculinos para mulheres".
Homens devem ganhar mais do que as mulheres - logo a crônica que possui um título machista e o autor inicia o texto pedindo para por favor não levar tijolos na cabeça atirados pelas leitoras, me agradou! Concordo com a visão exposta e acho que muitas mulheres precisam desses conselhos. O homem não é obrigado a ser cavalheiro, e sim ser educado e respeitador. Cavalheirismo é algo que vai surgindo e ocorrendo naturalmente no relacionamento. Não pode ser exigência por parte da mulher.
Biquínis, unhas e extintores é dispensável. Foi a crônica que menos gostei.
Resumindo: se a mulher tem pés feios deve usar sapatos fechados; somente poderá usar sandálias se possuir pés lindos e perfeitos.
A única dica no texto é que as mulheres devem ter bom senso no visual. Completo: os homens também.
Em Calcanhar de Aquiles o autor faz uma brincadeira sobre os pontos fracos dos homens perante as mulheres e como as mulheres se aproveitam disso para explorar os homens.
O autor apenas se esqueceu que existem mulheres que trocam o pneu do carro sozinhas e ao entrarem do carro ainda retocam a maquiagem e ajeitam o decote e os cabelos.
A última crônica é intitulada É o iceberg que preocupa. Ótima para encerrar o livro. É divertida e cheia de exemplos cotidianos simples, porém ótimos exemplos sobre o conselho final: que muitas vezes a primeira impressão é a que fica e as mulheres devem estar atentas a detalhes ao iniciarem um relacionamento ou flerte. Alguns detalhes podem dedurar o tipo de pessoa com quem estão saindo. E ainda faz piada com o casal do filme Titanic - concordei com tudo e ri muito!
Minha nota final sobre o livro é que a leitura é engraçada, rápida e flui muito bem. Gostei muito de algumas crônicas e desgostei de outras; concordei com alguns pontos de vista do autor e discordei de vários outros.
Acho que a intenção é justamente essa: fazer as mulheres refletirem sobre uma visão masculina e perceberem as diferenças e igualdades de pensamentos. E acredito que cada leitora (ou leitor, por que não?) terá uma opinião diferente. Mas uma coisa tenho certeza: encontrarão um livro cheio de bom-humor e sátiras, mesmo discordando de algumas brincadeiras!