spoiler visualizarIsabella 27/09/2020
Inconstante (como toda garota de 17 anos)
Tenho muitas críticas a esse livro, mas primeiro de tudo preciso dizer que apesar de não ser tecnicamente bom, é entretenimento de MUITA qualidade. Eu não queria ler essa série quando tinha 14 anos porque achava muito besta (porque é), mas estou lendo aos 22, quase formada na faculdade, e estou ADORANDO a experiência. Acho que a chave é não esperar algo que a autora não vai ser capaz de entregar.
Primeira crítica: me senti realmente de volta aos 17 anos, porque a America é inconstante em TODOS os momentos. Todos. O Maxon diz que quer casar com ela, e ela acredita, mas no dia seguinte ele conversa com outra garota e ela põe tudo em dúvida e já quer se voltar para o Aspen de novo sendo que as ações do Maxon e as palavras dele SEMPRE indicaram que ela é a favorita. Quando finalmente a Kriss ganha espaço e fica quase "à mesma altura" da America na luta pela coroa, a America se sente totalmente atacada o tempo todo, porque ela não gosta de ver alguém tendo mais atenção do Maxon do que ela, mas ao mesmo tempo ela está se atracando por aí com o Aspen em cômodos secretos do palácio. Ela espera "fidelidade" do Maxon sendo que ela não está disposta a ser igualmente fiel.
Outro problema é que o Aspen, na minha visão, é um escroto, e ela aceitando ficar com ele e beijar ele depois que a Marlee foi literalmente chicoteada em praça pública por fazer a mesma coisa é, no mínimo, uma atitude burra. Eu entendo ter 17 anos, mas não entendo essa ausência de um sentido básico de autopreservação. A America é bastante perspicaz pra algumas coisas, mas infinitamente imbecil pra outras.
Ponto positivo: o Maxon. Ele não é perfeito, mas ele tem uma coisa ao seu favor que eu acho que nunca vai mudar aos meus olhos, que é: ele não é trouxa. Depois de passar o primeiro livro e o começo deste livro sendo colocado meio que em segundo lugar pela America, que não sabe o que quer, não sabe se quer a coroa e não decide se quer ELE, ele cansou de esperar e está buscando o que ele quer e o que ele precisa em outras meninas. Ele está errado? NÃO ESTÁ. Mesmo quando ele é visto pegando a Celeste às vistas de todo mundo, e daí? Pelo que me lembro ele PERMANECE solteiro, gosta da America mas ela fica dando toco nele o tempo todo, e ele precisa seguir em frente afinal. Eu faria exatamente a mesma coisa. Vi muita gente reclamando dessa atitude dele, e detesto puxar a carta do "e se fosse o contrário", mas se fosse uma mulher fazendo isso nós não criticaríamos, certo? Espero que sim.
E vou levantar um ponto aqui de que a tradução do livro é ruim quando eles estão brigando, a America empurra, em termos literais (verbo "to push"), o Maxon, e ele diz algo como "não me chame de criança, and don't push me", e ela vai lá e empurra ele de novo. Na tradução (eu ouvi o audiobook e li em inglês, mas olhei a tradução depois) ficou "não me chame de criança E NÃO ME PROVOQUE". A palavra é teoricamente a mesma, "push", mas no contexto parece bizarramente machista ele dizendo "não me provoque" como se fosse uma ameaça, como várias pessoas apontaram já, mas ele estava (conforme era direito dele) dizendo somente para ela parar de bater nele fisicamente. Óbvio que nem todo mundo lê em inglês ou tem a obrigação de dar um double-chek na tradução, mas caso alguém leia isso, só queria salientar que a tradução meio que dá a entender que o Maxon é um cara pior do que ele é de fato, conforme a autora o descreveu.
Sobre a Crítica Social Foda: ela é mais clara nesse livro, mas ainda achei um pouco fraca. Teve um momento em que a Kiera super descreveu o Gregory Illéa do mesmo jeito que eu descreveria o Trump ou o João Dória, e em parte até o Bolsonaro: como um empresário, uma pessoa com muita grana (no caso dos dois primeiros) e como uma pessoa "de fora da política" (que é uma imagem que o Bolsonaro se apropriou mesmo ele obviamente tendo ficado 30 anos na Câmara fazendo absolutamente nada). E a Kiera fez essa descrição muito antes do Trump ser eleito (já que o livro é de 2013). A crítica do livro todo é mais presente, ao meu ver, mas senti que ela poderia ter ido mais fundo e explicado mais algumas coisas. Me incomodou, por exemplo, que a America AMA ler, ao mesmo tempo em que ela tem em sua posse o diário do fundador do país dela e mesmo assim ela escolheu não lê-lo. Ela leu algumas passagens quando precisava de inspiração para o seu projeto de futura rainha, e leu mais algumas passagens quando queria saber o que aconteceu com a filha do Gregory, e nada mais. Não faz absolutamente nenhum sentido isso pra mim. Aliás, metade das escolhas e posicionamentos da America não faz muito sentido pra mim.
Por último, me incomoda que a America queira sempre do Maxon coisas que ela mesma não faz, como ela achar o tempo todo que ele está mentindo pra ela ou enganando ela, sendo que ele não mentiu em nenhum momento, e ela sim ESTÁ MENTINDO PRA ELE, sem contar que o Aspen trabalha no palácio. Espero, inclusive que ela conte logo agora que ela resolveu que vai lutar por ele, porque ela precisa escolher entre um dos dois e rápido. Esse joguinho de cansar de um e ir pros braços do outro já tá ficando velho.
Em suma, The Elite é mais rápido e eu arriscaria dizer mais interessante que o primeiro livro, mas ainda tem muita coisa que poderia ter sido explorada e não foi, e esse vai e volta incessante da America mudando de ideia entre um e outro garoto é realmente cansativo. Os rebeldes estão atacando cada vez mais, e sabemos agora que eles muito provavelmente estão atrás dos diários do Gregory e querem que a Seleção acabe. Já dá pra ter uma ideia do sentido que as coisas estão se encaminhando, mas eu vou ficar realmente bem brava se não houver uma revolução aos moldes de Hunger Games para destruir o sistema de castas. E se a America ficar com o Aspen, eu juro que vou dar nota 0.5 para o próximo livro.