DaniBooks 16/03/2020
Não é pornografia
Esse título já chama a atenção por si só. Não precisa de sinopse, de resenha, de nada. Só o título já faz você querer descobrir do que se trata. Mas não vá achando que vai se divertir com muito sexo não. Até vai, tá bom, mas não é essa a proposta central do livro.
Aqui temos uma autoficção e também metalinguagem - o livro falando de si mesmo. Acompanhamos dois rapazes, imigrantes haitianos no Canadá. Um deles, Buba, passa o dia dormindo, ouvindo jazz, lendo o Corão e ?filosofando?. O outro, conhecido como Velho, aspirante a escritor, sonha em se tornar famoso após conseguir terminar e publicar seu livro Paraíso do Paquerador Negro.
A história se passa, basicamente, dentro do pequeno e caótico apartamento dos dois. Enquanto escrevem, dormem, ?filosofam? e leem o Corão, transam com mulheres brancas.
O sexo aqui é usado como denúncia da objetificação do negro. Para as mulheres brancas, os negros são objetos sexuais, são uma fantasia, são exóticos. Há uma dura crítica subjacente em relação à visão estereotipada dos negros. Com isso, temos um panorama de como se dá a vida de um imigrante negro no Canadá e todo o racismo internalizado naquela sociedade.
É uma narrativa fluida, rápida de ler, divertida, porém plena de reflexões.
O personagem Velho é um alter ego do próprio autor, que o criou para falar de sua própria experiência como imigrante e de seu processo de criação de Como Fazer Amor Com Um Negro Sem Se Cansar - sim, Paraíso do Paquerador Negro é o mesmo livro que você tem em mãos.
Gostei muito dessa leitura e pretendo ler outros romances do autor, já que esse é uma novela. Algumas referências ficaram meio soltas para mim e senti falta de um maior aprofundamento em determinadas questões, mas a experiência, como um todo, foi bastante válida e entendi que não era essa a proposta do texto.
Um livro leve e denso ao mesmo tempo, que vale a pena experimentar.