naniedias 10/09/2012Invisíveis, e Stef PenneyRay é um detetive particular, mas não está sendo muito acionado ultimamente. Então, quando um cigano bate à sua porta com o caso de garota desaparecida, ele simplesmente não pode negar. Ray foi escolhido justamente por ser meio-cigano e por ter tido êxito em um caso similar no passado. Bom, para a mídia ele teve êxito, mas ele sabe, em seu íntimo, que foi o seu maior fracasso - um fantasma que ainda o persegue.
Depois de relutar, Ray acaba aceitando o peculiar caso de Rose Wood. Ninguém parece ter visto a mulher em quase sete anos - desde que ela se casou. Não acham estranho que ela não tenha entrado em contato - e pensam que a família do marido pode tê-la matado, embora eles neguem veementemente e digam que ela fugiu com um não-cigano.
Ray, então, é levado a investigar a família Janko - uma família de ciganos vinda do leste europeu e que ainda dá importância ao "puro sangue negro" - o sangue cigano. Assim ele conhece Ivo, o ex-marido; Christo, o filho doente; Tene, o ex-sogro e a família que agora vive com eles, mas que não teve contato com Rose diretamente: a irmã e o irmão de Tene, sua filha e o neto.
O que eu achei do livro:
Invisíveis é uma história incrível! Uma trama maravilhosa, contada com uma narrativa envolvente e personagens extremamente cativantes.
A narrativa de Stef Penney é linda. Não é muito dinâmica, nem simples, mas é tão bonita que prende o leitor às páginas do livro - eu realmente tive dificuldades de deixar o livro de lado na hora que precisava fazer alguma coisa. Se o tivesse lido em um dia de folga, acho que teria passado o dia inteiro por conta dele.
Os capítulos são intercalados pelos pontos de vista de dois personagens: Ray e JJ, o sobrinho-neto de Tene, e contados em primeira pessoa pelos dois.
Ray é um homem de meia-idade que está tendo algumas dificuldades no trabalho, pela falta de casos, e ainda mais dificuldades na vida pessoal: ele se separou há mais de um ano, mas ainda não conseguiu superar. É um homem determinado, bastante obstinado no trabalho. Entretanto, completamente perdido e atrapalhado em outros assuntos. Achei muito bacana a forma como a autora desenvolveu esse personagem - as tentavidas de Ray de se aproximar de uma mulher chegam a ser patéticas, ele não consegue seguir em frente. E eu quase podia me ver no personagem. É irritante, mas muito real. Gostei demais de Ray e da sua evolução durante a história. Ele não termina como um homem maravilhoso - em contrapartida ao perdedor que era no início do livro, mas o leitor tem a sensação de que ele continuará crescendo.
JJ é apenas um garoto de 14 anos. No início do livro é bastante ingênuo, não consegue enxergar muitas coisas - talvez até mesmo pela sua criação fechada no mundo cigano, embora ele frequente a escola - e chega a ser infantil para a idade. Mas com o decorrer da história, há um visível amadurecimento do personagem, muito bem desenvolvido pela escritora.
O enredo se passa nos anos 80 - fato fundamental para corroborar a forma como as coisas são feitas. Não há internet, não há telefone celular. A vida nos trailers ciganos é algo realmente solitário - ainda mais para uma família que sofre com uma doença hereditária que afeta os homens. Portanto, há poucas crianças no acampamento (na verdade, apenas duas: Christo, que sofre da tal doença, e JJ, que é saudável).
Todo esse lado da cultura cigana é muito bem explorado através da figura de JJ - que conta um pouco sobre a vida que ele leva e como as coisas são para ele, mesmo que não saiba que está mostrando fatos diferentes. Aliás, achei isso muito bom no livro, a autora explora JJ muito bem. Ele nos mostra a cultura cigana sem se dar conta de que está fazendo isso. Não são ciganos conforme o século XIX - que é a imagem que está perpetuada em nossa imaginação -, mas conforme o final do século XX - o que deixa tudo bastante realista e ainda mais intrigante.
O final do livro é totalmente surpreendente! Eu não podia pensar em algo daquele jeito nunca. Há a resolução de um mistério bem antes do final, mas outros são introduzidos pela escritora, que cria um ótimo clima durante a passagem de seu livro - conseguindo deixar o leitor envolvido e muito curioso.
A resolução da trama é um tanto quanto mirabolante, mas eu achei que Stef Penney conseguiu conduzir os fatos de maneira bastante verossímil - comprei o final e achei-o incrível!
Como o próprio Ray diz, há muitas especulações e hipóteses, mas poucas informações, fatos e provas. Ou seja, há um final, mas não há provas do que realmente é verdade e o que são apenas hipóteses furadas. Não costumo gostar de finais em aberto, mas gostei muito desse. Não é exatamente aberto, porque os casos são resolvidos, mas sem provas concretas. Como o livro é narrado pelos personagens e não em terceira pessoa, sabemos tanto quanto eles sabem - e nada além disso.
Depois da leitura de três livros dessa editora que não me agradaram, me deparo com um livro maravilhoso, falando de uma cultura que muito me intriga. Invisíveis é uma história deliciosa, recheada de mistérios. Uma leitura super recomendada!
Nota: 9
Dificuldade de Leitura: 6
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