spoiler visualizarDébora Artes 19/03/2020
É inexplicável o misto de sentimentos que Toni irá instigar o leitor ao lhe contar sua infância.
O sentimento de culpa sempre a acompanhou. Insalubre, também nunca lhe abandonou o desejo de ser amada pela mãe mais uma vez, enquanto todos haviam compartilhado do feitio de abandonar lhe. A compaixão que sempre existiu na mais ferreta das devoções, a de uma filha pela a mãe, mas não houve no caso de Toni a lealdade de uma mãe pela sua cria. Compadecida de esperanças de que um dia a mãe amaria novamente esqueceu-lhe da autocompaixão por isso mesma. Assim por diante, permaneceu a arrumar justificativas para o injustificável. Sempre estaremos a procurar a aceitação dos nossos pais. E Antoinette passou-lhe metade da vida a ter uma lealdade destemida pela mãe. Tal lealdade cega e o amor sem medida acabaram com sua vida todos os dias antes mesmo do mundo saber do “segredo” sujo pelo qual era submetida pelo próprio genitor. Como poderia esperar o perdão e o amor de uma mulher que preferia ate o ultimo dos seus dias esconder-se da verdade, como se, de maneira indubitável fizeste da realidade apenas uma distopia, enquanto para Toni, a vida que lhe foi concedida foi um pesadelo bem vivido? Entendo os subterfúgios da época, como também do endeusamento da mãe pelo pai, ela nunca esteve disposta a larga-se do sonho de ter uma família feliz. A única culpa que se recai é sobre ele. Mas não compreendo e talvez nunca tentarei compreender, a falta de moralidade da população a julgar uma rapariga de 14 anos vítima e defender um homem sem escrúpulos, e também não quero compreender os motivos que levaram essa mãe a consentir mesmo que indiretamente, e por fim, quiçá, nunca compreenderei tal devoção, tanto perdão e o receio de questionar todas as perguntas que assola seu coração. Mas, aprecio da bondade que é formado o coração desta mulher, bondade esta que nunca lhe foi dado enquanto criança. Como diria o juiz do caso a Toni: A vida não é justa. E ela nunca será.