Verônica 28/01/2016
A FEIRA DOS CASAMENTOS
As pessoas geralmente julgam os demais pelos seus gostos, ou seja, o quero dizer é que pelo simples fato de ser um leitor se faz um elo com a questão intelectual. Para isso existem pontos positivos e negativos. Vejo como positivo ser presenteada com livros, e não ligo se os mesmos estão velhos ou caindo aos pedaços, simplesmente os aceito e lhe dou uma nova folhagem, consertando seus “defeitos” e guardando com amor ao lado de seus “irmãos”. Entretanto existe o fato negativo, onde nem perguntam se a pessoa quer o livro, “literalmente” jogam os mesmos em cima do sujeito como se esse tivesse a obrigação de aceitar tal ação. Em meio a livros destruídos, aparecem aqueles que podem ser aproveitados e aqueles que infelizmente o lixo é o destino certo, e cá entre nós: ninguém merece livros didáticos ultrapassados que não acrescentam mais em nada!
Esse livro foi uma linda jóia encontrada em meio aos “artefatos” citados no parágrafo anterior. Quando recebi esse presente de grego, separei os livros em melhores condições e joguei os que não serviam fora. Demorei para iniciar a leitura, até mesmo porque ele não tem orelhas, e a sinopse e o título não lhe dá o devido valor. Como podem ver na foto ele se encontra bem maltratado, mas qual foi minha surpresa ao ler o baú de tesouros que esse guarda!
Ao abrir o livro já encontramos algo de diferente dos dias atuais (pelo menos nos livros contemporâneos que li não recordo de ter visto nota de esclarecimento do tradutor), logo de início há “Uma palavra do tradutor”, que explica o seu ponto de vista e sua opinião sobre o autor, o que levou a usar algumas palavras na tradução dentre outras questões não menos importantes. Cabe ressaltar que o livro foi traduzido em 1982, sendo então datilografado, por isso no decorrer da obra encontra-se alguns erros de digitação, mas nada grave.
Logo no início é apresentada a informação do mesmo ser um romance mediúnico, sendo psicografado por Wera Krijanowski, porém a lerdinha aqui não se ligou nesse pequeno detalhe. Estou esclarecendo consequentemente por que tenho um preconceito literário, infelizmente, e se visse essa indicação não iria ler por achar se tratar de um livro religioso. Salientando que não tenho nada contra o espiritismo, entretanto não é um assunto que desperte a minha curiosidade.
Prosseguindo com as observações o livro surpreende, e muito! A história ocorre entre os anos de 1879 e 1892 e sua heroína, Tâmara, passa por situações tão reais no cotidiano de qualquer indivíduo, onde descobre que a sociedade é uma mascara de hipocrisia que se sustenta sobre um fio inimaginável de falso decoro, e julga os sujeitos que a frequentam por status e condição social
Durante todo o romance, percebe-se de forma austera a conduta e opinião de Tâmara, que madura por todo o sofrimento que passou, adota uma nova postura e muda drasticamente sua visão sobre aqueles que a cercam. Descobre poucos fiéis na sua dor e em seu estado de espírito deplorável pela pobreza, a maioria distante e com sentimentos de superioridade negligenciam qualquer tipo de amizade existida em tempos anteriores. Claro, que o livro fala do espiritismo, porém de forma tão suave que o leitor não percebe, sendo que esses episódios são sutis e apenas contribui para um melhor entendimento dos sentimentos e conflitos que cercam a personagem, tornando dessa forma um ser humano muito melhor.
Não cabe influenciar ninguém, o que desejo é ressaltar em como o autor foi engenhoso ao armar todo o cenário, auxiliando as pessoas a enfrentarem seus problemas com motivação, e o mais incrível é que ele não fala de tais acontecimentos de forma aberta, mas as circunstâncias vivenciadas pela protagonista levam a reflexão de condutas diárias. Quero também afirmar que esse não é um livro de auto-ajuda, o que ocorre é que pela sagacidade do escritor são repelidos pensamentos nocivos e surgem princípios e convicções otimistas e esperançosos de benevolência e piedade com o próximo.
Ao se tratar do título, no primeiro momento, achei injusto para o livro e de certa forma a opinião ainda se mantém. Creio que esse (título) é uma das características que atrair uma porcentagem dos leitores, e apenas quando se ler o enredo e as tramas narradas acontece a compreensão do nome. O autor crítica os casamentos ocorridos nesse século, onde o amor era deixado de lado e aspectos menos importantes tinham grande consideração, sendo totalmente comerciais. Durante o decorrer da leitura é pregado o amor, a ética, a bondade e portanto apontado os defeitos e a maldade presente no alpinismo social.
A mediocridade da sociedade é algo constante, ouso dizer, em “todas” as sociedades, e claro, principalmente no Brasil onde o interesse pessoal beira a irritabilidade dos nervos daqueles que são honestos. A dura desaprovação do autor, em todos os aspectos do ser humano levam há análises fundamentais para o bom convívio da coletividade, onde o critério inevitavelmente acontece através da troca, não obstante a busca pela solidariedade, compaixão, amor, sensibilidade e outros sentimentos precisam guiar os cidadãos, sendo esse seres melhores.
Pode-se concluir que em meios a diálogos extensivos, capítulos enormes e personagens dramáticos, essa relíquia é uma obra para ser guardada com o mesmo cuidado da preciosidade do diamante. Termino com as palavras de Tâmara: “Sim. Os livros são os mais dignos companheiros dos seres humanos. Eles elevam o espírito, cultivam o saber, expulsando qualquer pensamento ocioso e são escudo contra o tédio.”
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