spoiler visualizarJuliana.Cantuaria 07/04/2019
Enredo interessante, porém mal escrito
Adoro uma leitura que envolva temática religiosa, que tenham mistérios a serem descobertos pelos leitores junto com os protagonistas. Esse livro tinha tudo para ser excelente, pois a temática é exatamente essa, mas infelizmente deixou muito a desejar.
De início já percebi que a estrutura do livro é baseada nos livros de Dan Brown (já li todos, e adoro). Os capítulos são curtos, duas folhas no máximo, e as situações vão acontecendo simultaneamente com todos os personagens. Realmente poderia ter sido escrito por ele (Dan Brown), mas com o avançar da leitura, fica claro que a escrita é bem menos amadurecida.
Os personagens são fracos. A personalidade deles é tão parecida que às vezes era necessário reler, para ver qual deles estava falando; quando o personagem é forte, automaticamente o leitor associa o nome dele aos comportamentos, mas foi difícil fazer essa associação. Não consegui me apegar a nenhum personagem, nem aos "heróis", da mesma forma que não consegui odiar os "vilões". Todos simplesmente parecem ter a mesma personalidade.
O livro tem passagens que demonstram um machismo escondido nas entrelinhas. Na tentativa de melhor descrever os personagens, o autor se preocupava em dizer minuciosamente o vestuário dos personagens. Os homens recebiam descrições das roupas apenas, como cor, modelo do terno. As mulheres, além disso, sempre eram descritas com ênfase nos seios, nas curvas, na "malícia" do olhar, do sorriso... As mulheres são extremamente sexualizadas neste livro, sem necessidade. Alguns momentos realmente mereciam que isso fosse feito, mas não em TODOS, que foi o que aconteceu no livro inteiro. Todas possuem um comportamento sexual que difere do que é considerado padrão, e todas são chamadas de "putas, vadias" e outros termos do gênero. A única mulher que é diferente é a mãe do personagem principal, que é uma mulher tão pura, bela, recatada e do lar (leia com sarcasmo), que teve o direito de receber o chamamento de "lady", antes de seu nome. Assim, no livro o autor só se refere a ela como "lady Charlotte".
Há outros momentos em que o machismo se faz presente, como no trecho "O verdadeiro terror aconteceu fora daqui - corrigiu o chefe da família", se referindo a um pai de família coadjuvante em um trecho na página 222. Sabe-se que, atualmente, o termo "chefe de família", atribuído aos homens antes do Código Civil vigente no Brasil, foi substituído pelo conceito de Poder Familiar, na medida em que homens e mulheres são igualmente responsáveis pela família, mas ainda assim, o autor insistiu em utilizá-lo (o autor é brasileiro).
Quase todas as respostas aos mistérios são reveladas aos personagens através de sonhos. O livro é bastante grande, então a impressão que temos é que os personagens dormem muito.
Os diálogos são fracos, às vezes tive a impressão que o comportamento descrito não combinava com o que o personagem estava dizendo.
Apesar de a temática ser a luta entre o bem e o mal, Deus e o demônio, o que realmente observamos no livro são pessoas fazendo coisas de acordo com suas crenças. Não temos como saber se realmente eles tinham apoio espiritual ou se estavam delirando em fazer tudo aquilo.
O livro é extremamente tendencioso, pois associa o cristianismo a Deus, e relaciona o candomblé com o demônio. Demonstrando, também, preconceito com as religiões de origem afro.
Tudo é muito previsível. Antes de as situações acontecerem o leitor já sabe, os "mistérios" não têm mistério nenhum. Exceto no final, que nos deveria ser revelado se quem vence é o bem ou o mal, ficamos sem saber. Tive que aguentar o livro inteiro para ler o final e não descobrir.
Não recomendo, a não ser que você goste de leitura com muita violência e escatologia, pois nisso o livro não decepciona pois tem de sobra.