Lucy 06/03/2021
Eu nunca fiz tantas marcações em livro como fiz em Como Ser Mulher. Eram tantos pontos que eu precisava marcar para não me esquecer durante essa longa jornada sobre como aprender (finalmente!) a ser uma mulher. Tantos pontos ridículos e absurdos que poderiam me fazer encher outro livro para poder comentá-los. Tentei ser sucinta, mas foi impossível. Veja por sua conta e risco.
Para começo de conversa, Caitlyn vende esse livro como um manifesto feminista bem-humorado. Conheço humor britânico, então a culpa da falta de graça não foi por minha ignorância. Eu rio de qualquer besteira, mas aqui foi impossível. Outro ponto que fez minha leitura se tornar ainda mais morosa, é o fato de que esse livro, na verdade, é pura cagação de regra, vinda de uma pessoa que usa suas experiências/opiniões pessoais como regra geral. Não há qualquer embasamento para suas conclusões, mas ela fala tudo com uma certeza admirável. É o que dizem: você não precisa ter certeza do que está dizendo para passar credibilidade, só precisa parecer ter. Ademais, passei toda a leitura me questionando como esse livro foi escrito por uma mulher de 35 anos. É impressionante como uma pessoa que, em tese, deveria ser tão madura é tão pueril e insípida quanto uma adolescente de 15 anos.
“A certa altura – machucada e exausta – você aceita que tem de se tornar mulher – que é mulher – ou morre.” Começamos o livro com essa digressão profunda, que me fez pensar que ela odeia ser mulher. Eu não sei o que é isso. Nunca odiei o fato de ser mulher e nunca vi isso de forma tão dramática. Mas tudo bem. Próximo capítulo. “Nesse cenário, parece que não há absolutamente nada de bom em ser mulher.” Ok. Definitivamente ela odeia ser mulher. Tudo porque ela começou a menstruar. Algo natural, por mais chato que seja.
Em “Não sei como chamar meus seios!”, temos: “O problema com a palavra ‘vagina’ é que parece simplesmente má sorte. Só uma masoquista ia querer ter uma[...]” Aqui começa-se um devaneio ridículo e desnecessário sobre que nome dar aos seios e a vagina. Ela o trata como assunto prioritário e afirma que “[...]o fato de descobrir como chamar nossos genitais é um rito de passagem para uma menina.” Ela também diz gostar de ver as pessoas escandalizadas ao ouvir a palavra “boceta”. Isso, definitivamente, me parece algo que uma adolescente metida a rebelde diria.
Em “Sou feminista!”, ela cita sua diva feminista em uma das diversas vezes: “Em The Female Eunuch, Germaine Greer sugere que a leitora reserve um momento para experimentar o sangue menstrual.” Para quem não sabe, Greer, em 2018, afirmou que a pena por estupro deveria ser reduzida, já que, segundo ela, a maioria dos casos não causa lesões físicas. Além de dizer que estupro é apenas sexo “preguiçoso, descuidado e insensível”. Bom, isso, junto com a asneira sobre menstruação, nos ajuda a entender o tipo de referência da autora. “Eu realmente não compreendo generalizações de massa [..]” Essa é uma das vezes que ela é bastante hipócrita.
Em “Preciso de um sutiã!”, ela fala sobre um assunto que, como a maioria, é puramente opção pessoal. Ela discute sobre o fato de as mulheres usarem fio-dental e como isso é errado. Também brinca (pelo menos, espero que seja uma piada), que se fosse eleita pelo Parlamento, seria para fazer as mulheres usarem “calçolas enormes”. Eu não sei vocês, mas ninguém nunca me obrigou a usar fio-dental. Quem usa, usa por gosto pessoal. Não por uma pressão social.
Em “Descubro o machismo!”, finalmente, encontrei um ponto que concordei: o fato de as mulheres serem julgadas por suas experiências sexuais. Infelizmente, ainda há homens que acreditam que uma mulher com muitos parceiros não é alguém confiável. É a famosa puta. Quando o contrário, raramente, é questionado. Entretanto, Caitlyn tinha que voltar ao equilíbrio natural. “Não acho que o fato de as mulheres serem vistas como inferiores seja um preconceito com base no ódio que os homens têm por nós. Quando se olha para a história, é um preconceito baseado em fatos.” Ela, simplesmente, diz que não existem grandes cantoras do rock ou em qualquer outro ramo da história, pois, não temos nada a dizer. Ela afirma que nós somos, intrinsecamente, diferentes dos homens, o que concordo. Nossas diferenças fazem a natureza funcionar em equilíbrio. Ser diferente é legal. Mas ela fala como se fossemos incapazes de fazer algo que os homens fazem. Ela ignora aspectos cruciais que nos fizeram ou ainda fazem termos diferente destaque em certas áreas. Ela precisa ser apresentada a Emily Brontë, Marie Curie, Florence Nightingale e a Cássia Eller.
Em “Estou apaixonada!”, há mais falácias sobre como TODAS as mulheres funcionam, como dizer que todas nós pensamos em relacionamento o tempo todo e que nós sempre criamos relações completas com pessoas com quem sequer falamos ou conhecemos. Eu não sei, mas talvez Caitlyn seja esquizofrênica.
“Vou a um clube de striptease!” é um dos capítulos que mais me incomodou. “Os homens não PRECISAM ver peitos e xoxotas. Eles não vão MORRER se não tiverem acesso ao clube de striptease local.” Eles realmente não precisam, mas e as mulheres que usam o dinheiro de seu serviço para se sustentar? Elas podem morrer de fome, mas você está preocupada demais fazendo pole dance e exaltando a pornografia e o burlescos. Sendo uma pessoa a favor da liberdade do indivíduo, acho absurdo e hipócrita ver feministas dizendo o que alguém deve ou não fazer para ganhar dinheiro. Me lembra o caso onde feministas estridentes, como ela, reclamaram da objetificação de mulheres na F1. As grid girls, que ganhavam uma fortuna por esse emprego, se opuseram, dizendo que faziam porque gostavam e que essas mulheres estavam acabando com o emprego delas. O famoso seu corpo, NOSSAS regras.
Em “Eu me caso!”, mais uma vez, ela fala de sua experiência como regra e trata casamento como uma obrigação. Ninguém é obrigado a gastar 21 mil libras em um casamento. Ninguém é mais, sequer, obrigado a mudar de nome. Além disso, ela resume a cerimônia a um gasto desnecessário e alto do casamento. Ela só fala da questão material e ignora o objetivo principal, que é fazer algo memorável e feliz. Até eu, que nunca quis me casar, sei disso.
“Entro na moda!” é a prova do quão influenciável (e burra) é essa mulher. Após ler em revistas de moda que toda mulher que se preze usa saltos, ela passa 13 anos comprando saltos para perceber que não consegue usá-los. Aliás, dizer que nós não precisamos de salto para sermos femininas é tão... anos 1940. “Mas continuo me afundando em revistas femininas que fazem com que eu me sinta mal de verdade em relação às minhas conquistas.” Se martiriza porque quer. “As revistas de moda nunca vão dizer: ‘Não compre se você não tiver dinheiro’ [...]” Não vou te agradecer por me dizer o óbvio.
“Modelos de comportamento e o que fazer com eles” fala como Lady Gaga é o maior ícone feminista do século. Eu adoro o trabalho dela, mas... não. Também fala do quão maléficas são as revistas de fofoca. Ora, se não gosta, não consuma. Só existe esse tipo de coisa por ter quem consuma. Você, que fica julgando as celulites da Britney na praia, fomenta esse tipo de notícia. Não julgue por ela ainda existir. Ela também fala como, só agora, mulheres têm tido espaço na mídia, através do pop. Hoje temos Lady gaga seminua, temos Florence Welch (“uma ruiva!”) e La Roux (“uma lesbica!”). Para começar, La Roux é uma banda. E segundo, a vocalista mesmo não gosta de ser rotulada, pois isso só causa segregação. E ela está certa! Só ouve a música e ignora a sexualidade alheia.
Nos capítulos envolvendo ter ou não filhos, ela afirma que mudou e melhorou como pessoa após a gravidez. Diz o quanto é feliz pela decisão, tanto que, mesmo após o primeiro parto difícil, ela engravidou de novo. Depois, diz que ser mãe não é grande coisa, e que você consegue a mesma experiência lendo livros. Ok...
Por último (ufa!), em “Aborto”, concordo, em partes, com seus pontos. “São essas crianças infelizes e não desejadas que crescem e se tornam adultos raivosos, que causam a maior parte das desgraças da humanidade.” Isso me faz ser a favor do aborto. Meu foco principal é a vida que essa criança pode ter nascendo em um ambiente desestruturado e sem amor. Porém, não trate o aborto de maneira leviana. Uma coisa é abortar pela contracepção ter falhado. Outra coisa é sair transando sem camisinha e depois gritar que é seu direito se livrar desse “problema”. Antes de incentivar o aborto, deve-se falar que não se pode ser imprudente sexualmente. Coisa que tem sido cada vez mais frequente atualmente. E isso, ela não faz. Até porque, seu aborto foi por falta de responsabilidade.
Não preciso dizer que detestei esse livro, mas apenas me forcei a terminá-lo. Foi uma viagem longa, verborrágica e improdutiva.