Vinicius.Correa 15/02/2020
Mais do que um livro, O Malabarista é uma história de vida. A história de vida de Maria e de seu filho, Heitor. Uma linda história de uma menina que aos quinze anos de idade resolve fugir dos olhares maliciosos que seu pai lhe dava antes que eles progredissem para um provável assédio. Assim, a menina já com corpo de mulher deixa sua família no interior e foge para Salvador em busca de novas oportunidades. O caminho de uma cidade para outra não foi fácil, e ao chegar em Salvador, com muito esforço ela conseguiu o emprego de cozinheira em uma pensão, cuja dona virou sua segunda mãe, e a única pessoa a quem apoiar-se sentimentalmente naquela nova cidade, e ao falecer além de deixar Maria desemprega, deixou-a sem estruturas. Solitária e triste ela tenta seguir enfrente aceitando um emprego com uma patroa arrogante e tirana em uma mansão dos bairros nobres de Salvador.
Nesta nova residência, Maria faz bastante amizade com Val e Deti, seus colegas de trabalho. Amizade essa a responsável por amenizar o desconforto e o stress provocados por D. Tereza, a patroa. D. Tereza é grossa e insensível, se importa apenas com salões de beleza, festas da alta sociedade... Enfim, ela gosta mesmo é do luxo. E maltrata mal aqueles que não vivem com o mesmo padrão de vida dela. Apesar disso tudo, Maria seguiu trabalhando naquela residência por muito tempo, afinal, ela era uma cozinheira de mão cheia e nunca deu motivo para desencadear a raiva de sua patroa. Até o dia em que Maria engravida, pouco depois do anuncio de gravidez de Tereza. Maria só não é demitida porque seu patrão não permitiu que sua esposa fizesse tal atitude tão desumana. Tereza sem opção permite que a empregada continue trabalhando ali, mas faz questão de deixar claro que não quer que seus filhos tenham contato com o "filho da empregada".
Heitor teve uma infância difícil, pois sempre via os filhos de D. Tereza brincando alegremente, nadando na piscina ou jogando futebol na quadra de esportes da mansão, e nunca podia se juntar a eles. Desde cedo ele aprendeu duramente que apesar de iguais fisicamente, ele e os filhos dos patrões de sua mãe, pertenciam à mundos diferentes. A única pessoa que não o tratava com indiferença era Carol, que com a mesma idade que a dele, sempre o tratou com respeito, o cumprimentando vez ou outra, e só não fazendo mais porque sua mãe não permitiria.
Gostei muito dessa parte da história, ela retrata muito bem uma realidade vivida por muitos brasileiros. A indiferença entre uns com outros é algo real e foi transmitida duramente nesta história que apesar de ser fictícia, poderia muito bem ser real. Este ponto da história me lembrou bastante do filme protagonizado pela Regina Casé intitulado "Que horas ela volta?" que aborda justamente essa temática, da convivência entre as domésticas e seus patrões, e que foi abordado de uma forma simples e extremamente angustiante, ao meu ver. Outro ponto que eu gostei bastante nesse livro, é que apesar de tudo isso, desse clima pesado entre funcionários e seus patrões, Maria, Heitor, Val e Deti, tinham seus momentos felizes. Eles viviam suas próprias aventuras e divertimentos, e isso foi algo emocionante de se ler; a humildade e simplicidade entre eles os faziam ser ainda mais felizes.
Mas a história não se prende só a isso, afinal, ela não é momentânea e sim, de uma vida inteira. Passamos a acompanhar o desenrolar da vida de Heitor, que iniciou a faculdade de direito e começou a namorar escondido com a filha de D. Tereza, Carol. Um ralacionamento secreto que durou muitos anos e que assim como muitos outros relacionamentos, teve seus altos e baixos. Mas o romance não é o foco da história, o foco, é a vida do filho de Maria, que teve muito mais acontecimentos e reviravoltas. Uma história de muitas surpresas, escolha e decisões.
O autor soube conduzir a história muito bem. Ele criou um livro incrivelmente emocionante, tanto até, que não foram raras as vezes que me peguei folheando as folhas com as lagrimas já invadindo os olhos. Os acontecimentos da obra são narrados tão bem que nos envolvemos bastante com a história, além disso, a leitura é tão impactante que as vezes eu fechava o livro, fechava os olhos e pensava: "O que foi isso?!", respirava um pouco, ficava uns minutos refletindo, e depois, voltava a ler. O final, então, dispensa comentários. Ao contrário da maioria, ele é um livro muito bem concluído. Sem deixar pontas soltas. Mas ainda assim possui um desfecho que nos faz ficar pensando por horas e horas nos acontecimentos da trama, e isso, não é todo mundo que é capaz de fazer. Com toda a certeza, O Malabarista, vai sempre ter um lugar especial na minha estante, ainda mais com essa capa maravilhosa... Aliás, descobrimos o porque de o livro se chamar O Malabarista, mais pro final dele, parte essa, que deixa a obra ainda mais emocionante e linda como um todo.
site: http://decidindose.blogspot.com/2016/07/resenha-o-malabarista-alessandro.html