spoiler visualizarHelena Gonçalves 31/03/2023
O Silêncio dos Inocentes
Cinco mulheres são brutalmente assassinadas em diferentes localidades dos Estados Unidos. Para chegar ao sanguinário assassino, a jovem agente do FBI, Clarice Starling, interroga o astuto psiquiatra Hannibal Lecter, cuja mente é perigosamente voltada para o crime. Seguindo as pistas apontadas por Lecter, Clarice envolve-se em uma teia mortífera surpreendente e assustadora.
O que vamos encontrar no icônico O Silêncio dos Inocentes, livro imortalizado nos cinemas, envolve frieza e crueldade, um psicopata desiquilibrado ao ponto que os atos criminosos de execuções das vítimas, passam para jogos de tortura além da imaginação, limite não é algo que existe nesses vilões.
O Silêncio dos Inocentes não preza pela ação nem pelas reviravoltas de tirar o fôlego, sua maior característica é a gradual construção de uma trajetória de crimes em que inexiste qualquer pista que possa levar a um nome. A investigação aqui é de inteligência, golpes de sorte e a colaboração inestimável, e talvez surpreendente, de um criminoso celebridade, o Dr. Hannibal Lecter. Embora esteja ligada a um passado exposto no livro Dragão vermelho, a trama d?O Silêncio é única e independe de conhecimento prévio para ser lida. Os crimes aqui são tão doentios que uma mente tão doentia quanto pode ser a ajuda que a polícia precisa para se chegar ao culpado.
Jovem agente ainda em processo de formação no FBI, Clarice Starling protagoniza a caçada enfrentando o desafio mais surpreendente de todos, convencer a própria corporação de que é capaz de encontrar o assassino. Apesar de contar com irrestrito apoio do chefe direto, Crawford, a agente sofre revezes, principalmente no que diz respeito a Hannibal e à sanha de vaidade que move o diretor da clínica-prisão. Em um segundo ponto, ela conquista a simpatia, ou mesmo admiração, do terrível Hannibal e a relação de ambos em sequências de conversas para lá de instigantes é algo curioso na construção da história. Por fim, a investigação das mortes segue a tiros no escuro em que cada mínima pista custa a conduzir a algum caminho bem-sucedido. Irônico pensar que, no fim, o desfecho vai se dar mais por uma coincidência do que exatamente por uma certeza.
O Silêncio dos Inocentes não foge a nenhum dos chamados clichês que caracterizam o suspense. Esbarramos em todas as características, mas com um desenvolvimento peculiar. Aqui, o perfil psicológico é fundamental. A base da trama se dá na insanidade do criminoso, motivada por justificativas ainda mais desequilibradas. Fora isso, a caçada da jovem destemida em busca de justiça se faz presente daquele jeitinho que os fãs de thrillers amam e devoram. Thomas Harris se preocupa em traçar um histórico plausível que ao mesmo tempo que faz a ligação com um passado em que Hannibal é detentor dos segredos, mantém a originalidade e independência capazes de não prejudicar leitores que não conhecem seu universo.
Embora não seja protagonizado pelo Dr. Hannibal Lecter, O Silêncio dos Inocentes é impregnado por sua presença, mesmo nas sequências mais distantes do círculo do personagem. Nele convergem inteligência, perspicácia, elevado grau intelectual, charme para entreter o interlocutor, sangue frio e um instinto assassino cruel e assombroso. É talvez o psicopata mais fascinante que a literatura produziu e que Anthony Hopkins deu vida e imortalizou. Os três outros títulos em que ele aparece merecem ser lidos tanto quanto O Silêncio e sua figura é digna dos altares mais devotos dos amantes do suspense.