Minha vida

Minha vida Anton Tchekhov




Resenhas - Minha Vida


1 encontrados | exibindo 1 a 1


jota 15/05/2020

Minha avaliação: 4,2/5,0 – MUITO BOM


Anton Tchekhov (1860-1904), reconhecidamente um dos maiores contistas de todos os tempos, a gente lê e se não aprecia tanto assim então o problema não é especialmente com o autor mas conosco. Porém, no ótimo posfácio A Vida em Memória, que Denise Sales escreveu para Minha Vida (1896) - ela também traduziu a obra e providenciou as notas da edição -, ficamos sabendo que Leon Tolstoi (1828-1910) achou a novela “fraca” no conjunto reconhecendo, porém, que ela trazia “passagens surpreendentes”. Por outro lado, Maksim Gorki (1868-1936) escreveu que Minha Vida era “uma pérola”. Os três escritores eram amigos e se visitavam com certa frequência, trocavam ideias sobre literatura e suas obras. Penso que, no caso, tanto Tolstoi quanto Gorki tinham razão.

Minha Vida tem momentos brilhantes sim, mas no todo não é uma pérola como, por exemplo, o conto mais célebre de Tchekhov, A Dama do Cachorrinho. De todo modo, é uma história que se lê com prazer, porque o autor escreve muito bem, claramente, e sempre coloca aqui e ali um ponto que interessa ao leitor, conta uma história (ou mais de uma) dentro da história principal do volume. Que, no caso, é a de Missail Poloznev. O personagem central de Minha Vida é alguém com quem simpatizamos logo de início por seu modo de vida, quer dizer, suas ideias, seu amor e perseverança pelo trabalho manual. Ele nem de longe lembra um niilista nos moldes de Arkadi Pietrovitch, personagem do célebre Pais e Filhos, de Ivan Turgueniev (1818-1883), mas também tem problemas com seu genitor, homem de ideias tradicionalistas, que somente vê méritos no trabalho burocrático e na obediência à hierarquia social.

Missail, vinte e cinco anos, tenta fugir dessa condição, valoriza o trabalho físico e assim desagrada profundamente o pai, um arquiteto de linhagem nobre, que o renega e subtrai-lhe a herança quando é demitido novamente de mais uma função burocrática. Além do pai arquiteto, Missail tinha um tio pedagogo, um avô poeta, um bisavô general. Ele rompe com as tradições familiares tornando-se pintor de paredes, ocupação que os moradores do vilarejo que os Poloznev habitam veem com maus olhos. Menos Maria Viktorovna, a filha de um engenheiro de ferrovias, por quem Missail fica apaixonado e mais à frente irá desposar, moça que parece entendê-lo muito bem, que decide ajudá-lo. Além dessa paixão e do conflito geracional, Tchekhov discorre também sobre a vida dos mujiques, a decadência da nobreza e o estado geral da corrupção no país, colocando essas questões e outras nas conversas dos personagens principais da novela e outros que vão surgindo na esteira do casal.

A vida prossegue e algumas frustrações começam a tomar conta da vida comum de Missail e Maria. O amor e o cultivo da liberdade começam a cobrar seu preço. Ela, especialmente, se frustra um tanto: tem planos de construir uma escola no vilarejo para que os filhos dos mujiques estudem, adquiram um pouco de cultura e conhecimento, mas os trabalhos estão sempre atrasados, os próprios trabalhadores ou seus familiares roubam material do prédio em construção etc. Para mais desencanto do casal, os mujiques revelam-se um bando de bêbados, ladrões e trapaceiros. Aos poucos a harmonia conjugal começa a desaparecer, o amor entre Missail e Maria a fenecer. Mais algumas páginas e a novela encaminha-se para o final. O leitor fica na expectativa de que ele seja redentor.

Lido entre 10 e 13/05/2020.
comentários(0)comente



1 encontrados | exibindo 1 a 1


Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com a Política de Privacidade. ACEITAR