Melhores Poemas de Antero de Quental

Melhores Poemas de Antero de Quental Antero de Quental




Resenhas - Melhores Poemas Antero de Quental


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13marcioricardo 28/11/2023

Momentos brilhantes
Continuando a saga da poesia, desta vez encontrei alguns poemas que me agradaram mais. Ainda assim, ao conjunto tenho dificuldade em dar cinco estrelas. Será que o problema é meu ?
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Arsenio Meira 16/07/2013

ANTERO, O GUERREIRO DA POESIA LUSITANA


Consenso entre todos os que são fascinados por poesia que o quarteto fabuloso da poesia lusa é composto por quatro nomes: Luís Vaz de Camões, Manuel Maria Barbosa Du Bocage (esse, uma trepeça raríssima, desmantelado ao extremo…), Antero de Quental e Fernando Pessoa.

Hoje, escrevo sobre um deles, que me chamou à atenção desde o dia em que vi meu pai folheando um livro ou um jornal (não lembro agora com exatidão) onde reluzia um soneto de Antero intitulado "Na Mão de Deus", um dos sonetos mais clássicos da história literária.

Meu pai, cuja sensibilidade é imensa, mostrou-me o poema. E desde então, nunca mais deixei de ler Antero. Eu tinha uns 16 anos. Adorava ler sonetos (são mais fáceis de memorizar e usei muitos sonetos de Vinicius em minhas tentativas para impressionar as garotas…).

O soneto de Antero prendeu-me no ato. Nada sabia da vida dele. Apenas senti o prenúncio de que estava sendo apresentado pelo meu pai a um grande poeta. E estava mesmo. Eis o famoso soneto:

Na mão de Deus, na sua mão direita,
Descansou afinal meu coração.
Do palácio encantado da Ilusão
Desci a passo e passo a escada estreita.
Como as flores mortais, com que se enfeita
A ignorância infantil, despojo vão,
Depus do Ideal e da Paixão
A forma transitória e imperfeita.
Como criança, em lôbrega jornada,
Que a mãe leva ao colo agasalhada
E atravessa, sorrindo vagamente,
Selvas, mares, areias do deserto…
Dorme o teu sono, coração liberto,
Dorme na mão de Deus eternamente!

Com o passar dos anos, li a obra poética de Antero, como a presente antologia, primorosamente organizada por Benjamin Abdala Junior, e tratei de me inteirar sobre a vida do gênio português, para saber quais os fatos que o marcaram e o tão festejado legado de sua geração.

A batalha literária liderada pelo poeta português, a um só tempo destemido e culto, despertaram em mim muito mais do que um exemplo, mas sim uma lição: a de que toda mudança requer dor, obstinação, enfrentamento e honestidade de propósitos. E isto não é para principiantes.

Eça de Queiroz, o gigante prosador português, grande amigo de Antero, seu companheiro de jornada e geração, assim traçou a primeira impressão que teve sobre o Poeta, em suas obra Notas Contemporâneas:

“Em Coimbra, uma noite macia de abril ou maio, atravessando lentamente com as minhas sebentas na algibeira o Largo da Feira, avistei sobre as escadarias da Sé Nova, romanticamente batidas sob a lua, que nesses tempos ainda era romântica, um homem de pé, que improvisava.A sua face, a barba de um ruivo mais escuro, frisada e aguda à maneira siríaca, reluziam aureoladas.

O braço inspirado mergulhava nas alturas como para as revolver. A capa, apenas presa por uma ponta, rojava por trás, largamente, negra na lajes brancas, em pregas de imagem.

E, sentados nos degraus da Igreja, outros homens, admirados, sombras imóveis sobre as cantarias claras, escutavam, em silêncio e enlevo, como discípulos.

Parei, seduzido, com a impressão de que não era aquele um repentista picaresco ou amavioso, como os vates do antiqüíssimo século XVIII – mas um POETA, um POETA dos tempos novos, despertando almas,
anunciando verdades. O homem, com efeito, cantava o céu, o infinito, os mundos que rolam carregados de humanidades, a luz suprema habitada pela idéia pura…

Deslumbrado, toquei o cotovelo de um camarada, que murmurou, por entre os lábios abertos de encanto e pasmo:

- É o Antero! …”

Antero Tarquínio de Quental nasceu a 18 de abril de 1842, em Ponta Delgada, capital dos Açores, na Ilha de São Miguel. Pertencia a uma família de donatários – uma fidalguia com grande influência, onde pontificaram poetas, professores, magistrados e militares. Seu irmão mais velho – que viria a morrer louco – e com quem mantinha estreito laço fraternal, escrevia sonetos árcades.

Aos 15 anos, por iniciativa própria, pediu o consentimento dos pais e mandou-se para Coimbra, uma cidade de crucial importância para Portugal, pois lá vicejavam acadêmicos, poetas, juristas e formadores de opinião. Antero, ainda incipiente, principiou sua vocação de liderança: liderança literária e política.

Influenciado por uma miríade de escritores e pensadores estrangeiros, suas novas idéias não demoraram a tomar vulto, e aí começou sua luta e sua peregrinação.

Era impulsivo e com rasgos de violência, mas dotado de faculdades brilhantes. Não lhe faltava o senso prático e, até a personalidade física, como atributos para deflagrar uma das maiores polêmicas até então travada pela intelectualidade lusitana.

Sem mencionar que, aos 20 anos, escreveu as suas Odes Modernas, cuja intenção revolucionária, contrária ao cânone vigente, terminou por causar escândalo e perplexidade nos puristas

Refiro-me à famosa Questão Coimbra.

Antero viu-se defrontado e ofendido pelo todo poderoso das letras portuguesas, Antonio Feliciano de Castilho, uma espécie de caudilho à la Pinochet, com ares de Fidel Castro, que não admitia novos rumos, como se a poesia ou o pensamento fossem um feudo inexpugnável a aventureiros imberbes, jovens despudorados e sem rigor.

Pobre Castilho. Não sabia com quem havia se metido. Em um artigo virulento e desengonçado, Castilho pôs-se a esbravejar contra Antero e seus colegas, chamando-os de doentes, obscuros, antipoéticos, ladrões das letras e etc.

Incensado por uma horda de bajuladores, vaidoso como alguns dirigentes de futebol, Castilho, confiante, confiou petulantemente o seu bigode, e de bengala em punho (ele era cego literalmente), deve ter atirado a bengala aos céus, pois Antero – de bate pronto – respondeu-lhe que ele “pertencia ao clube da banalidade que quer dormir sossegada em ninharias”. E isto foi só o começo.

Antero reduziu a pó o velho Poeta. Destronou-o sem dó, nem piedade, ao rebater com maestria o manancial de ofensas que Castilho lhe lançara gratuitamente. Castilho, deprimindo e escarnecendo os escritores mais jovens, portadores de ideias e expressões próprias, assumiu uma postura intolerante e maligna. Só porque Antero e Teófilo Braga não foram pedir-lhe a benção, como duas obedientes vaquinhas de presépios.

A confusão foi grande. Coimbra parou e assistiu o duelo entre o velho e o novo. Cada dia um artigo, uma estocada, uma polêmica. Antero saiu vencedor.

Cumpre-me dizer que, em minha opinião, a reação de Antero foi moral, antes de ser literária. E assim nascia o mito do poeta português, fundador de uma nova era.

Como poeta, os sonetos de Antero documentam sua própria trajetória filosófica. Divisados em conjunto, até permitem descortinar em sua poética uma visão generosa, metafísica e sonhadora. Esse status informar-lhe-ia toda a obra, mas também explica as feições que foi assumindo no curso do tempo.

Antero norteava-se por um idealismo tão arraigado, que não raro, se via incitado a adotar atitudes de visionário e sonhador. Ocorre que a angústia nunca o deixou em paz.

Dessa ânsia de perfeições utópicas ou sobrenaturais, o Poeta terminava por colidir-se com o seu próprio desejo de evasão e fuga, vez que, por mais que ele aspirasse uma postura mística, as suas quimeras jamais saíram da teoria, e suas indagações acerca de Deus ficavam sempre sem resposta.

Como se o poeta fosse o responsável pela existência de um vazio cósmico. Tenho que por tais fatores, ele terminava sempre mergulhando num pessimismo angustiante.

Foram estas as circunstâncias que o levaram a preconizar que só é possível encontrar a imortalidade pela comunhão com os poetas mortos, através da lembrança que estes são capazes de deixar na memória dos poetas que ainda respiram.

Os sonetos e as Odes de Antero granjearam-lhe a glória em vida. Mas o Poeta não andava atrás de glória alguma. Vencida a Questão Coimbra, terminou o curso de Direito e seguiu para Paris, com objetivo de por em prática o ideário socialista de que andara convicto. Lá, exerceu as funções de tipógrafo.

Só que tais ideais malograram e, deprimido, retornou à Pátria. Porém não tardou em Portugal; logo empreendeu rápida viagem a Nova Iorque.

Escreveu Antero que este foi um período rico, no aprendizado das questões econômico-sociais. O medo de enlouquecer, todavia, o fez regressar novamente. Já em Lisboa, integrou o grupo denominado “O Cenáculo”, e sempre como líder, defendeu com ardor ferrenhos apostolados socialistas, a par de novas discussões literárias.

No entanto, o poeta já havia demonstrado anos antes os inquietantes sinais de uma misteriosa patologia psiquiátrica. Ninguém até hoje chegou a um consenso sobre o diagnóstico. O fato é que, com a mesma força com que liderava e agitava os quatro cantos do mundo, Antero mergulhava num torpor de mal-estar e pessimismo.

Voltou à França para consultar-se com um dos mais renomados psiquiatras da Europa. Terminou foi se apaixonando por uma francesa, e mandou o psiquiatra às favas. O problema foi que a francesa saiu de fininho (à francesa mesmo, com o perdão do trocadilho) e o homem novamente mergulhou num estado de prostração que quase o levou ao suicídio às margens do Rio Sena.

Suas atividades eram sempre interrompidas por essas crises de depressão. Não sou médico, mas está bem claro que Antero era maníaco-depressivo. No entanto, ele – como que incendiado pela luta – sempre ressurgia, não obstante seus graves transtornos mentais. Colaborou na filial portuguesa da Internacional Operária, e fundou, junto com outros co-partícipes, o Jornal O Pensamento Social, enquanto pontificava pela formação de um partido operário, desvinculado do Partido Republicano. Chegou a filiar-se ao Partido dos Operários Socialistas de Portugal.

De tudo isso, restou-lhe um tonel de desilusões. Antero não aceitava meias palavras e, ao meter-se com política, parece que não recebeu uma única palavra sincera, só atitudes falsas, além de ter sido vítima constante do cabotinismo alheio. E não se trata aqui de desilusão política de cunho esquerdista ou direitista. Tivesse Antero um pensamento conservador ou de direita, tenho pra mim que ele sofreria mil vez mais do que sofreu. Mas isto são outros quinhentos mil-réis.

Em 1881, ele adotou dois bebês órfãos e instalou-se em Vila do Conde, essa bela e aprazível cidade portuguesa. Lá chegou a escrever uma obra de cunho filosófico, e isolado, passou a ser chamado de “Santo Antero”, para seu desgosto, seu pesar. Irritava-se genuinamente com tais epítetos. Ele não estava nem aí para essas parvoíces. Não queria para si a aura de Messias.

Penso que para ele bastava um ato que implicasse em mudanças sociais e justiça. Loas e falsos brilhantes lhe davam náuseas.

Em 1890, Antero deixou as filhas aos cuidados de uma governanta. Revigorado, sentiu-se motivado para uma nova luta (que seria a última): a Inglaterra, a poderosa Rainha dos Sete Mares, deu um ultimato a Portugal, e pra variar Antero não fugiu ao chamado: convocado, aceitou a Presidência da Liga Patriótica do Norte, sediada na cidade do Porto, a despeito das inúmeras desilusões que sofrera em suas lides políticas.

A decepção mais uma vez bateu-lhe a porta: a Liga dissolveu-se em virtude de violentas cisões internas, vaidades e acusações sem sentidos. Então, restou ao Poeta mandar todos à merda e recolher-se.

Antero de Quental retornou à Ilha de São Miguel, lugar onde nasceu. E mal chegou, viu-se no meio de um grave conflito familiar. Seu estado de saúde, em pandarecos, deteriorou-se definitivamente: as irmãs não aceitaram as filhas adotivas, e tal fato bastou para fragilizar, ainda mais, a lucidez.

Sentindo que o clima poderia levá-lo à loucura, como ocorrera com seu irmão mais velho, a quem era tão ligado, ele tomou a drástica decisão.

A 11 de setembro de 1891, entrou numa loja e comprou um revólver, sentou-se num banco junto ao muro do “Convento da Esperança” e se matou.

Na parede, sobre ele, estava exatamente escrita a palavra “esperança.”
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