LUA 24/11/2014welcome to the jungle, babyEssa será uma resenha difícil. Como eu disse lá no início, ela será enorme, porque são tantos aspectos que me chamaram atenção nesse livro, que fica difícil explicar tudo o que senti ao lê-lo. Esse é um livro que eu queria a muito muito tempo,na verdade desde que saiu em inglês, mas como vocês devem saber os livros da Editora Rocco não costumam ser baratos e eu fui adiando a compra. Até que ele apareceu para troca no Skoob e eu agradeço imensamente a Camila por ter trocado esse livro comigo.
Bom, vamos lá. Se você foi adolescente a partir do final dos anos 80 (digo a partir porque hoje mesmo, enquanto lia o livro, vi um menino com a camisa da banda, e apesar de saber que isto, infelizmente, está virando moda, me recuso a acreditar que ele não sabia quem foi esse cara ai em cima), o nome do autor dispensa apresentações.
Duff McKagan foi o baixista da mais perigosa (e melhor) banda de rock do planeta. Guns n' Roses.
Caso você não esteja ligando o nome a pessoa visto que ele mudou muito e para melhor, diferente do Axl "picapau descendo as cataratas" Rose (se não sabe do que eu estou falando, veja aqui). Deixa eu te apresentar:
Michael "Duff" McKagan nasceu em Seattle em 1964. Caçula de uma família de oito irmãos, todos com tendência musical. Aos 20 anos já tendo participado de algumas bandas e querendo uma maior expressão se muda para Hollywood com apenas um carro e alguns doláres no bolso. Dando duro em alguns restaurantes e se acostumando a passar severas necessidades. (ele chegou a dormir meses no carro e se acostumou a se alimentar apenas uma vez ao dia) mas nunca abandonando o sonho de ser músico, Duff se torna multi instrumentista autodidata aprendendo a tocar guitarra, baixo e bateria. Um dia lendo um jornal de publicação independente e gratuita, ele vê um anúncio: procura-se um baixista, contato Slash. Ele vai ao encontro e junto com Slash está Steven Adler. Apesar de virarem amigos, a banda não decolou.
"... Me senti numa banda de colégio, embora com um guitarrista incrível.Por já ter feito parte de uma dúzia de bandas e tocado com ínúmeros músicos profissionais, eu me considerava um veterano.Eu podia perceber que Slash e Steven tinham aspirações reais, que queriam mais mas eu não tinha me descolado até Los Angeles para tocar com pessoas que ainda estavam tentando descobrir qual era a deles..."
Outras bandas depois, um dia ele indo "visitar" uma amiga, encontra Izzy Stradlin visitando a mesma "amiga". Ao invés de brigarem, deixaram a visita para lá e saíram para beber e falar sobre música!Se tornaram vizinhos e Izzy um dia comenta que está formando um banda nova com o nome Guns n´ Roses, junto com uns caras que foram da L.A Guns que ele tinha visto em uma saída com Slash e Adler. Axl Rose no vocal e Traci Guns na guitarra solo. Quando o grupo se separa do primeiro baixista: "Izzy pergunta :" Você não toca baixo?
Eu tenho um baixo- eu disse.
Eu estava me acostumando a tocar quatro cordas naquela época, mas não tinha chegado perto de desenvolver meu próprio estilo ainda. Felizmente, uma das vantagens de ser jovem eu acabara de fazer vinte e um -era a confiança destemida e desenfreada. Sem falar no fato de que eu não tinha mais uma guitarra (uma história ótima) Naquela altura era o baixo ou nada..."
Daí para a formação clássica do Gn'R foi um pulo. Com a saída de Traci e entrada de Slash e Adler na bateria, numa "turnê" hilária ( a primeira viagem do Guns foi de carona, porque o carro deu pifo).Consolida-se a banda e a amizade entre seus cinco componentes que infelizmente mais tarde serão ambas desfeitas.
Duff narra passo a passo de cada conquista, cada show do início até a sua saída da banda. Com várias curiosidades sobre as músicas. (Nightrain é um vinho barato, que as vezes, era só o que eles tinham para beber, A introdução de Welcome to the Jungle era um riffle do Slash que já existia antes da letra...).
Fala dos shows, desde o primeiro onde só tinham duas pessoas, sendo que uma era a namorada do Duff a época, do show onde morreram fãs, do Rock in Rio II, onde caiu a "ficha" de que eles eram uma banda conhecida mundialmente, dos atrasos mais constantes do Axl e até da "suspeita" passagem dos direitos ao nome da banda para o Axl que aparece também na biografia do Slash, mas que parece não ser bem como descrito. (veja a notícia).
Aliás sobre o Axl dá para sentir que apesar de seguirem trajetórias diferentes, ele se respeitam muito. O reencontro 13 anos depois de Duff sair da banda, foi lindo e emocionante e opiniões divergem mas amizade fica. Afinal quem nunca brigou com um amigo mas o continuou respeitando?
Mas o livro não fala apenas da banda. Duff narra com muita lucidez sobre o uso de drogas, o pavor que tinha da heroína ( o que não o impediu de usar) por ver vários amigos morrendo pelo uso, inclusive West Arkenn que é compositor de algumas músicas do Guns e que ficou conhecido no Macking Fucking Videos( que eu assistia exaustivamente e freneticamente e você pode ver aqui.). Do consumo abusivo de álcool e do uso de cocaína para cortar seu efeito, das suas crises de pânico que aumentaram ainda mais o vício e de sua pancreatite que culminou na sua abstinência.
Até aqui se o livro empolga pelos bastidores, pela curiosidade sobre o Guns e pela ascensão e declínio da banda, é nessa parte que o livro realmente emociona.
Após a crise , Duff resolve se "curar" sozinho.
"- Providenciei para que você entrasse num centro de reabilitação de drogas e alcool perto de Olympia- disse ele - podemos leva-lo diretamente daqui.
Eu agradeci a ele por toda sua ajuda.
-Acho que posso fazer as coisas por mim mesmo-disse a ele.
Vi a expressão nos seus olhos mudar. No lugar de um brilho prestativo, seus olhos agora traíram um ceticismo endurecido pela experiencia.A frustação se insinuou no seu tom.
-Duff, se você beber mais um copo, você vai morrer.
Eu agradeci outra vez.
-Duas semanas aqui no hospital fizeram por mim tanto quanto qualquer reabilitação poderia fazer."
Sozinho em casa, Duff percebe que evitar bares traficantes e ânsias repentinas não era o seu maior problema, mas sim como fazer as coisas rotineiras da vida, como comprar comida, ir dormir e o que fazer com seu tempo livre. Então ele resolveu praticar esportes, começou no ciclismo e como incentivo se inscreveu em uma corrida de mountain bike. Para ocupar o tempo a noite, livros.(tem como não amar?) Livros sobre guerra, outras guerras, da Guerra Civil Americana ao Vietnã, até descobrir Hemingway(tem como não amar, de novo?) o que se transformou no seu mundo literário.
"De todos os homens, o bêbado é o mais idiota.O ladrão, quando não está roubando, é como todos os outros. O usurário não pratica em casa. O assassino, quando chega em casa, pode lavar suas mãos. Mas o bêbado fede e vomita em sua própria casa e dissolve seus orgãos em alcool"- Por quem os sinos dobram- Ernest Hemingway.
Duff não para por aí, da bicicleta, para a musculação. Da leitura para o estudo, da musculação para as artes marciais. Do estudo para a Universidade.
O livro claro, fala das bandas posteriores, da Velvet Revolver e do Loaded.
Fala também de sua família, das suas ex esposas e do encontro com Kate "o corpo" Holmes com quem tem duas filhas, e é casado até hoje.
Pessoalmente, eu sempre achei Duff o "príncipe" do G n'R. Enquanto Axl tinha aquela pose de menino birrento e Slash a "marra do papai chegou", Duff permeava meus sonhos adolescentes. Lembro daqueles cadernos de perguntas quando a questão era: Com que famoso você se casaria, eu respondia : Duff Mckagan. Os olhos dele sempre me diziam que ele não era apenas Duff "King of Beers"Mckagan, nem só aquele cara que deu nome a cerveja dos Simpsons.(sim, isso é real e outra curiosidade do livro.)
E agora lendo sua biografia vejo que não estava errada, a trajetória do Duff mostra um cara que apesar de ser um rock star (e ele não gosta do título) é extremamente simples. Um cara que tocou numa banda de projeção internacional, de repente se vê "obrigado" a procurar uma nova banda, recomeçar a divulgação, shows pequenos, conseguir gravadora e com tudo isso, resolver se estabilizar e estudar.Se tornar uma pessoa melhor moralmente, fisicamente e socialmente. Uma pessoa que evoluiu e que deixa o exemplo de como é seguir em frente
Não preciso dizer que é leitura obrigatória para os fãs da banda. Recomendadíssima para os fãs do Rock e indicada mesmo para aqueles que não são íntimos do assunto. Afinal nem todos os nossos heróis morreram de overdose.(amém).
" Oi professor Greene, aqui é Duff McKagan da sua aula Negócios 330 e quero fazer uma pergunta sobre as tarefas dessa semana. Estou ligando de fora do país, por isso estava pensando em ser rápido.
Eu havia acabado de tocar num estádio, receber escolta policial e agora, as pessoas estavam entoando o meu nome na rua lá fora.
-Duff quem? respondeu ele
Desci de volta a Terra depressa. E em algum lugar Joe Strummer provavelmente estava morrendo de rir."
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