Yoshi 09/02/2024
Mediano
Logo no início de “O Casamento Suspeitoso”, Ariano Suassuna relata algumas críticas que recebeu na época da publicação da peça. Dentre elas, estava o uso de um humor rude e ao fato de que os personagens eram muito similares aos protagonistas de “O Auto da Compadecida”. O autor rebateu dizendo que se utilizava de traços da população sertaneja, ou seja, a esperteza de Cancão e a covardia e coração genuíno de Gaspar eram características marcantes de personagens famosos, quase lendas, na região onde Suassuna nasceu.
Não tiro a razão do autor e tampouco dos críticos. Enquanto lia, podia imaginar João Grilo e Chicó, não somente as mesmas características como também as mesmas personalidades e ações. Isso me incomodou um pouco durante a leitura. Entendo que as características de Cancão e Gaspar servem para fortalecer ainda mais o humor da peça, porém, ao mesmo tempo, torna seu desenvolvimento frágil – a peça não consegue se sustentar do começo ao fim.
Os conflitos que ocorrem durante a história podem se resumir à tentativa de evitar um casamento e, ao mesmo tempo, tirar vantagem. Gaspar e Cabcão tentam adiar o casamento de seu amigo, Geraldo, com Lúcia, pois sabem que a moça está tentando aplicar um golpe. Mas, como de boas intenções o inferno está cheio, os ditos amigos tiram proveito da situação.
Não é somente em relação aos personagens que podemos traçar paralelos com o Auto da Compadecida. Assim como a peça mais famosa de Suassuna, O Casamento Suspeitoso é marcado por elementos religiosos, críticas à parte da Igreja Católica, humor torto, situações bem-humoradas e lição de moral no final. Analisada apenas por si, o livro poderia funcionar melhor, mas, como dito anteriormente, acaba se tornando mais frágil quando a comparação inevitável com o livro mais famoso do autor.