otxjunior 24/02/2021Os Infratores, Matt BondurantO blurb na capa alerta que este romance é baseado em fatos reais. Deve ser por isso que a história não vai a lugar nenhum. Escrito pelo neto do protagonista, Os Infratores, nas palavras do autor, apresenta as lacunas deixadas pelos registros conhecidos. Registros principalmente de um julgamento que envolve produtores e contrabandistas de bebidas alcoólicas, durante a Lei Seca nos Estados Unidos. Mas Matt Bondurant está mais preocupado com as lacunas, ambientação e caracterização, de maneira que nunca descobri realmente a natureza do julgamento ou confundi até o final os nomes do promotor público e da principal testemunha. Porque além de tudo são muitos personagens, pouco delineados, exceto pelos irmãos Bondurant. Com eles, o narrador se alterna, assim como o tempo da história, nos capítulos em que acompanhamos um escritor em crise, Sherwood Anderson, tentando fazer um sentido deste período conturbado da América. Talvez a falta de linearidade e a tentativa de extrair poesia de um cenário miserável sejam referências a este escritor, mas não o conheço, apesar de suas relações com Ernest Hemingway e William Faulkner. Cheguei inclusive a questionar a aparente aleatoriedade na divisão do livro em partes. Cujas epígrafes, em alguns casos, antecipavam cenas-chave na vida dos irmãos. Estas parecem sempre ter início depois do fim de um capítulo e fim antes do início do próximo. Como já tinha concluído, a ação não parece ser o foco.
Mas o autor é eficaz em evocar o condado desde a primeira página. O prelúdio impressiona com um ato de violência praticamente com sons e cheiros. E é assim, durante toda a narrativa. Estamos nos acampamentos, entre os alambiques, em volta da fogueira, na lama ou na neve. Quando o irmão do meio, supostamente imortal, escapa de mais uma, vibramos com os personagens, embora estes não o demonstrem. Por outro lado, a desmistificação de um episódio em que se acreditava que o dito semideus tenha se socorrido sozinho ganhe peso dramático desproporcional. Não por acaso tornou-se um ótimo filme, o que me motivou a fazer a leitura, mais focado em ação e na natureza sombria da família, que por razões óbvias o escritor parece querer abafar. Para todos os efeitos, fico com a adaptação cinematográfica baseada no romance baseado em fatos reais.