A Pele de Onagro

A Pele de Onagro Honoré de Balzac




Resenhas - A Pele de Onagro


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Thiago Duarte 13/10/2020

Excelente
Só eu sei como eu estava a procura desse clássico de Balzac. Desde que ouvi o meu professor citar o romance em algumas aulas de Teoria Literária, eu tinha mostrado um interesse imenso pela obra. Posso falar que não é uma leitura tão fácil, visto que ela se passa na França de 1830, porém é uma história que eu achei muito interessante, principalmente por eu ser um amante do romantismo. O romance conta a história de um jovem aristocrata falido, cujo nome é Rafael de Valentim (Raphaël de Valentim), o qual, em meio a miséria, vê, como o único escape, o suicídio. É nesse momento de desespero que ele recebe como uma esperança um objeto místico: A Pele de Onagro, um asno da Ásia que é dotado de um poder mágico. Porém Valentim fica ciente que, à medida em que ele deseja algo, a vida dele vai encurtando. Logo, o personagem se encontra num momento de êxtase, de prazer por ter o poder em suas mãos e já não pensa mais em suicídio. Vale ressaltar que mesmo o Rafael não tendo mais o espírito suicida, o suicídio dele só se prolongará. Como é de praxe em obras românticas, é comum, além da ambientação sombria, vermos personagens femininas sendo retretadas como angelicais (Pauline) e mortais (Fedora). Disso, pude perceber uma dos pontos da narrativa: a antítese entre desejo e vontade. Enquanto ele deseja Fedora, uma mulher que não dá a mínima para ele, fazendo-o se arruinar mais ainda; por outro lado, temos Pauline, a qual o ama, mas ele ainda não tinha um olhar despertado à paixão que sentiria mais tarde por esta. Como podemos perceber, o desejo tem um caráter de satisfazer a carne de Rafael com comidas, bebidas, sexo; enquanto a vontade, ou melhor, a força de vontade acontece mediante a sua mente e não ao corpo.
Larinha ð 21/10/2020minha estante
Parabéns pela resenha, deu até vontade de ler. ????




Pavozzo 01/01/2023

Vale a pena ter tudo o que deseja?
Testemunhamos aqui a história de Rafaël, um jovem que está profundamente desgostoso com a vida, em sua última tentativa de conseguir algum dinheiro para saldar as suas dívidas. Diante do fracasso, os fundos do leito do rio Sena parecem começar a lhe atrair...

Quase pelo o que parece ser uma brincadeira do destino, Rafaël visita uma loja de antiguidades e encontra lá uma "pele de Onagro", espécie de asno da Pérsia, que concede ao portador a realização de todos os seus desejos, no entanto há um preço: a cada desejo concedido, a vida do pedinte é encurtada.

A obra é dividida basicamente em três tempos: 1) o momento no qual a pele é encontrada e assistimos aos seus primeiros efeitos; 2) um longo monólogo no qual Rafaël nos contará sua vida pregressa e o que motivou-o a certas atitudes desesperadas; 3) os fins a que levaram Rafaël depois de alguns anos portando aquela pele.

Balzac parece-me um sujeito muito culto, são inúmeras as referências e um amplo vocabulário - o que pode dificultar um pouco a leitura. Impressionou-me a agudeza da observação que ele faz da sociedade humana, são diversas as frases que se tem vontade de marcar.

O que me incomodou foi a prolixidade, CÉUS! Sendo uma das obras do início da carreira do autor, ela parece-me estar ainda inserida dentro do Romantismo - e ainda não consegui gostar desta escola.

Vale aqui uma reflexão: a satisfação de todos os desejos do protagonista não tornou-o feliz, mas a "ausência" de desejos tampouco. Que natureza contraditória o desejo humano parece ter! Necessitamos dele e ao mesmo tempo não podemos nos pautar pelos seus caprichos!
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Coruja 31/07/2010

Querer nos queima e Poder nos destrói...
"- Dediquei minha vida ao estudo e ao pensamento, mas eles não me alimentaram – replicou o desconhecido. – Não quero ser ludibriado por uma pregação digna de Swedenborg, nem por seu amuleto oriental, nem pelos caridosos esforços que faz para reter-me num mundo onde minha existência é doravante impossível. Vejamos! – acrescentou, apertando o talismã, com a mão tremendo e olhando para o velho. – Quero um jantar regiamente esplêndido, um bacanal digno do século em que tudo, dizem, se aperfeiçoou! Que meus convivas sejam jovens, espirituosos, e sem preconceitos, alegres até a loucura! Que os vinhos se sucedam sempre mais incisivos, espumantes e capazes de nos embriagar por três dias! Que esta noite seja enfeitada de mulheres ardentes! Quero que a Orgia em delírio, rugindo, nos leve em seu carro de quatro cavalos para além dos limites do mundo e nos lance em praias desconhecidas: que as almas subam aos céus ou mergulhem na lama, que se elevem ou se rebaixem, pouco importa! Ordeno a esse poder sinistro que junte todas as alegrias numa só. Sim, tenho necessidade de juntar os prazeres do céu e da terra num último abraço para então morrer. Desejo também antigos cantos eróticos depois de beber, cantos que despertem os mortos, e beijos sem fim cujo clamor percorra Paris como um crepitar de incêndio, despertando os esposos e inspirando-lhes um ardor penetrante que rejuvenesça todos, mesmo os septuagenários!

Uma gargalhada saiu da boca do velhote; nos ouvidos do jovem enlouquecido, ela ressoou como um zumbido do inferno e o interrompeu tão despoticamente que ele se calou.

- Acredita – disse o comerciante – que meu chão vai abrir-se de repente para dar passagem a mesas suntuosamente servidas e convivas do outro mundo? Não, não, meu estouvado jovem. Você assinou o pacto, tudo está dito. Agora suas vontades serão escrupulosamente satisfeitas, mas à custa de sua vida. O círculo de seus dias, representado por essa pele, se contrairá conforme a força e o número de seus desejos, desde o mais pequeno até o mais exorbitante. O brâmane a quem devo esse talismã explicou-me outrora que haveria uma misteriosa concordância entre os destinos e os desejos do possuidor. Seu primeiro desejo é vulgar, eu poderia realizá-lo; mas deixo esse cuidado aos acontecimentos de sua nova existência. Afinal, queria morrer, não é mesmo? Pois bem, seu suicídio foi apenas adiado."


A primeira vez que ouvi falar de Balzac foi no contexto de “mulher balzaquiana”, ou 'A mulher de trinta anos'. Vergonhosamente, eu ainda não li essa obra – provavelmente aguardarei até completar 30 e me darei o livro de presente como uma piadinha particular.

Lembro de, quando fazia jornalismo, ter farejado atrás de 'Ilusões Perdidas', uma vez que a sinopse do livro me fazia muito lembrar a posição em que eu me encontrava à época... Apesar disso, por um motivo ou por outro, sempre havia um livro mais importante para ler na frente, um outro interesse, outra grande história que eu simplesmente precisava ler.

Assim, quando vi a lista do Desafio Literário 2010, eu decidi que ia colocar Balzac no meio de uma forma ou de outra. Como estou guardando A mulher de trinta anos para daqui a mais seis anos, minha introdução à Comédia Humana acabou por ficar em cima de 'A Pele de Onagro'.

Inicialmente, escolhi esse título porque ele me lembrou um dos meus contos de fadas favorito: Pele de Asno, de Charles Perrault. Talvez vocês se lembrem dos meus comentários sobre a verdadeira história dos contos de fadas... pois bem, Pele de Asno não é um desses contos que teve suas matizes suavizadas e acho que ela é até bastante atual, a se considerar as narrativas que ouvimos volta e meia de crianças abusadas pelas figuras paternas que as deveriam proteger.

Em resumo, Pele de Asno é uma princesa, filha de um rei e uma rainha de um reino muito distante. Eles são a família perfeita, amorosa, carinhosa... até que a rainha morre e o rei começa a procurar por uma nova esposa. Só que a rainha, eu seu leito de morte, faz o rei prometer que ele só voltaria a se casar com uma mulher que fosse em tudo superior a ela mesma.

A única mulher que o rei encontra capaz de ser mais bela, mais doce, mais gentil, mais sábia, mais tudo que sua falecida esposa é a própria filha.

Para conseguir escapar ao destino de se casar com o pai, a princesa se aconselha com sua fada madrinha, que lhe diz para fazer uma série de pedidos impossíveis: um vestido feito com a esplendor do sol, um vestido feito do esplendor da lua, a pele de um asno que defecava peças de ouro e era a riqueza do rei.

Todas essas condições o rei cumpriu. Desesperada, a princesa, vestida com a pele de asno, foge para outro reino, onde acabará por encontrar seu príncipe encantado... Aliás, há um filme de 1970 (que eu adoro) com a Catherine Deneuve no papel principal.

Pois bem... eu achava que a pele de onagro balzaquiana tinha algo a ver com a pele de asno de Perrault, uma vez que onagro é uma espécie de jumento encontrado no Oriente. Mas nada há de mais distante que estas duas histórias; fosse eu traçar uma comparação, diria que Raphaël de Valentin está mais para Doutor Fausto – e não na versão happy ending de Goethe.

Enquanto a pele de asno da princesa servia como uma máscara, uma proteção de sua identidade, a pele de onagro de Raphaël é como um trato com Mefistófeles... um gênio da lâmpada. Eis o que diz a inscrição nas costas da pele:


"Se me possuíres, possuirás tudo. Mas tua vida me pertencerá. Deus quis assim. Deseja, e teus desejos serão realizados. Mas regula teus desejos por tua vida. Ela está aqui. A cada desejo, decrescerei assim como teus dias. Queres-me? Toma-me. Deus te atenderá. Assim seja!"


E assim o é. O desejo que Raphaël faz à pele (trecho com que abri a resenha) é sua sentença – a cada parte atendida, ela encurta, e assim também encurtam os anos de vida do rapaz. A princípio, isso pode não fazer diferença para ele – afinal, na abertura do livro, Raphaël está pronto a cometer suicídio.

A questão é que ele cogita e planeja sua morte quando está desesperado às voltas com seus fracassos. Ela virá, contudo, quando ele estiver no auge, quando todas as suas mais caras ambições estiverem ao alcance de suas mãos.

Quanto mais alto nos alçamos, maior é a queda, não é verdade?

O pior é que, como ele próprio há de se dar conta, tudo o que Raphäel realmente desejava, o que lhe era realmente importante, ele já tinha – e o tinha sem ajuda da pele, que, ao fim e ao cabo, tirou-lhe tudo.


"O homem esgota-se por dois atos instintivamente realizados que secam as fontes de sua existência. Dois verbos exprimem todas as formas que essas duas causas de morte possuem: Querer e Poder. Entre esses dois termos da ação humana, há uma outra fórmula que é a dos sábios, e devo a ela a minha felicidade e longevidade. Querer nos queima e Poder nos destrói, mas Saber deixa o nosso frágil organismo num perpétuo estado de calma."



A Pele de Onagro não é uma obra para ser lida de uma única sentada, devorando tudo desesperado para chegar ao final – até porque, sabemos qual será o final logo ao início do livro, nas palavras proféticas do dono do antiquário.

É, ao contrário, um livro para ser saboreado e para fazer refletir. Um livro para ser lido em diferentes épocas, quando contemplaremos diferentes significados para aquela narrativa. Não à toa, essa é considerada a primeira obra-prima de Balzac, quando ele ainda estava começando o grande monumento que é a Comédia Humana - 89 obras entre romances, contos, e novelas, compondo um dos mais completos retratos da própria natureza humana.

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Carolina.Gomes 10/02/2021

Uma experiência frustrante
Essas histórias envolvendo o fantástico sempre me interessaram.
Quando li que esta obra influenciou O. Wilde, resolvi ler.
A história é muito boa mas as longas partes descritivas tornam o livro arrastado e cansativo.
O personagem principal é um grande idiota que se faz de vítima ao longo da história. É a personificação do coitadismo.
Sua paixão obsessiva por Fedora que, textualmente lhe diz que não corresponde aos seus afetos, é o motivo para Rafael querer se matar apenas pq não é amado e gastou tudo que tinha para agradar uma mulher rica e livre.
Ele culpa Fedora, ele culpa a sociedade e não toma as rédeas da própria vida.
Ao encontrar o talismã que lhe promete a realização dos desejos em troca de seus dias de vida, ele mergulha numa vida de excessos e frivolidades, tornando-se cada vez mais infeliz e sozinho.
O final ficou meio solto e eu fiquei desapontada. Enfim... Gostei mais da adaptação cinematográfica.
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Fabricio268 14/10/2021

Bom...mas cansativo
Um bom livro. Narrativas longas do Raphael que em determinados momentos cansam um pouco. Aí o negócio é parar, respirar, tomar um café e recomeçar.
Um livro que já se tem uma ideia de como será o final, o prazer está em chegar até lá.
Precisei buscar algumas leituras de apoio sobre a revolução de Julho de 1830 na França para me sentir mais dentro do contexto do livro.
Carolina.Gomes 15/10/2021minha estante
Pois é! A premissa é muito boa, mas o desenrolar cansa.




Elias 11/07/2010

A Pele de Onagro é uma obra-prima do gênero fantástico-realista. Me arrepiei lendo as últimas páginas. Balzac escreveu essa história de uma tal forma que você sente na alma o peso e a angústia do personagem principal, Raphaël. Tudo causado por Fedora - uma mistura de mulher e sociedade ao mesmo tempo. A crítica se encaixa perfeitamente. Simplesmente brilhante!
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Gláucia 03/04/2012

A Pele de Onagro - Honoré de Balzac
O livro me lembrou vagamente O Retrato de Dorian Gray. Faz parte da grandiosa Comédia Humana e narra a trajetória de um aristocrata falido prestes a cometer suicídio. Porém ele descobre que existem maneiras mais sutis de cometer o auto extermínio. Cuidado com aquilo que deseja, o querer pode te consumir aos poucos.
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LorenzoRLima 15/01/2023

A PELE DE MONOTONIA
Não me entendam mal, o livro tem muita qualidade. Só que, aqui as quase 70 páginas de só bloco de texto falam por si só, foi muito, muito, cansativo. Tirou as minhas forças para continuar a resenha...
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Kleylton.Bandeira 01/02/2023

Uma obra atemporal sobre a futilidade!
Uma sátira extremamente relevante sobre a violenta força do querer! O que seria o espaço se não fosse o movimento? O que seria o poder sem o direcionamento da vontade? Uma obra atemporal! Riquíssimo conteúdo!
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Samarithan 16/02/2019

Cuidado com o que desejas
A primeira vez que ouvi falar de Balzac foi pelo termo "mulher balzaquiana", popularizado após sua obra A Mulher de Trinta Anos (que ainda pretendo ler). A Pele de Onagro faz parte da Comédia Humana, série de romances e contos onde Balzac faz diversas abordagens psicológicas procurando retratar todos os níveis da sociedade francesa da época.

A Pele de Onagro conta a história do jovem aristocrata Raphael de Valentim, que após uma vida de frustrações e fracassos resolve se suicidar. Poucos antes do ato ser consumado, ele recebe de um velho estranho um artefato mágico chamado "pele de onagro (onagro: espécie de jumento encontrado no Oriente)", o objeto confere ao seu dono o poder de satisfazer qualquer um de seus desejos, porém, a cada desejo atendido ele encolhe e encurta a vida do proprietário. O desaparecimento do artefato representa o fim da vida do seu proprietário.

A relação de Raphael com a pele assemelha-se um pouco com a do Doutor Fausto e seu pacto com Mephistófeles, de Goethe.

Antes de possuir o artefato amaldiçoado, Raphael havia tentado levar uma vida de estudos, mas nunca conseguiu esconder seu fascínio pelo luxo, em seus pensamentos idealiza o amor de sua vida em uma mulher rica e elegante, chegando a admitir que mulher nenhuma tem poder sobre ele se estiver mau vestida. Ele acredita ter encontrado este amor ideal na pessoa da bela condessa Fedora, com quem passa a se encontrar regularmente, mas ao confessar seu amor é desprezado por ela, uma mulher frívola e superficial que não exprime sentimentos por ninguém - em determinado momento, questionada se não temia que sua velhice fosse triste e solitária, ela responde: "Sempre serei rica, e com dinheiro, sempre podemos criar ao nosso redor os sentimentos necessários ao nosso bem estar". Na verdade, Fedora é uma representação da futilidade da sociedade francesa da época, Raphael, apaixonado pelo luxo, idealiza nesta mulher um amor falso e sustentado por mediocridades.

De posse do talismã, o protagonista realiza todos os seus desejos, torna-se rico e uma figura respeitada na sociedade, ao mesmo tempo que convive com o terror de acompanhar a pele se contraindo e sua vida se esvair a cada pedido. Em determinado momento, Raphael percebe que aquilo que lhe era realmente importante, que poderia chamar de felicidade verdadeira, conquistou sem a ajuda da pele, que no fim, serviu para tomar-lhe tudo.

"Se me possuíres, possuirás tudo. Mas tua vida me pertencerá. Deus quis assim. Deseja, e teus desejos serão realizados. Mas regula teus desejos por tua vida. Ela está aqui. A cada desejo, decrescerei assim como teus dias. Queres-me? Toma-me. Deus te atenderá. Assim seja!"
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arthur966 21/07/2022

agarrava todas as alegrias, colhia todas as dores, apoderava-se de todas as fórmulas de existência, espalhando tão generosamente sua vida e seus sentimentos pelos simulacros dessa natureza plástica e vazia que o ruído de seus passos repercutia-lhe na alma o som distante de um outro mundo.
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Karoline141 19/03/2023

Esperava mais
Não gostei muito do livro. A premissa é interessante, mas fui perdendo o gosto ao longo do livro e achei muito cansativo até terminar.
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Marcos606 28/03/2023

Um jovem encontra um pedaço mágico da pele de um burro selvagem, que satisfaz todos os seus desejos. Para cada desejo concedido, porém, a pele encolhe e consome uma parte de sua energia física.

Embora o romance use elementos fantásticos, seu foco principal é um retrato realista dos excessos do materialismo burguês. A renomada atenção de Balzac aos detalhes é usada para descrever uma casa de jogo, uma loja de antiguidades, um banquete real e outros locais. Ele também inclui detalhes de sua própria vida como um escritor esforçado, colocando o personagem principal em uma casa semelhante à que ocupou no início de sua carreira literária. O tema central é o conflito entre desejo e longevidade. A pele mágica representa a força vital do dono, que se esgota a cada expressão de vontade, especialmente quando é empregada para a aquisição de poder. Ignorando um aviso do lojista que lhe oferece a pele, o protagonista avidamente se cerca de riqueza.

No início do livro, o lojista discute com Valentin "o grande segredo da vida humana". Eles consistem em três palavras, que Balzac traduz em letras maiúsculas: VOULOIR ("querer"), POUVOIR ("poder") e SAVOIR ("saber"). A vontade, explica ele, nos consome; o poder (ou, em uma tradução, "ter sua vontade") nos destrói; e o conhecimento nos acalma. Esses três conceitos formam o fundamento filosófico do romance.

O talismã conecta esses preceitos à teoria do vitalismo; ele representa fisicamente a força vital de seu dono e é reduzido a cada exercício da vontade. O lojista tenta alertar Valentin que o caminho mais sábio não está em exercer sua vontade ou assegurar o poder, mas em desenvolver a mente. "O que é loucura", ele pergunta a Valentin, "se não um excesso de vontade e poder?" Vencido com as possibilidades oferecidas pela pele, porém, o jovem joga a cautela ao vento e abraça seu desejo. Ao agarrar o talismã, declara: “Quero viver com excessos”. Somente quando sua força vital está quase esgotada, ele reconhece seu erro: "De repente, ocorreu-lhe que a posse de poder, não importa quão enorme fosse, não trazia consigo o conhecimento de como usá-lo ... [ele] tinha tudo em seu poder, e ele não fez nada"

A vontade, adverte Balzac, é uma força destrutiva que busca apenas adquirir poder, a menos que seja temperada pelo conhecimento. O lojista apresenta um contraste para o futuro eu de Valentin, oferecendo estudo e desenvolvimento mental como uma alternativa ao desejo de consumo. Foedora também serve de modelo de resistência à corrupção da vontade, na medida em que procura sempre despertar o desejo nos outros sem nunca ceder ao seu próprio. O fato de Valentin ser mais feliz vivendo na miséria material de seu minúsculo sótão - perdido em estudos e escrita, com a bondosa Pauline se entregando a ele - ressalta a ironia de sua miséria.

O romance extrapola a análise do desejo de Balzac do indivíduo para a sociedade; ele temia que o mundo, como Valentin, estivesse se perdendo devido ao excesso material e prioridades equivocadas. Na casa de jogo, na festa, no antiquário e nas discussões com homens de ciência, Balzac examina esse dilema em vários contextos. A ânsia de status social a que Valentin é levado por Rastignac é emblemática desse excesso; a linda mas inatingível Foedora simboliza os prazeres oferecidos pela alta sociedade.

A ciência não oferece nenhuma panaceia. Em uma cena, um grupo de médicos oferece uma série de opiniões rapidamente formuladas sobre a causa da debilidade de Valentin. Em outro, um físico e um químico admitem a derrota após empregar uma série de táticas destinadas a esticar a pele. Todas essas abordagens científicas carecem de uma compreensão da verdadeira crise e, portanto, estão fadadas ao fracasso. Embora seja mostrado apenas em vislumbres – a imagem de Cristo, por exemplo, pintada pelo homônimo de Valentin, o artista renascentista Raphael – Balzac desejava lembrar aos leitores que o cristianismo oferecia o potencial para moderar o excesso mortal. Após fracassar na tentativa de esticar a pele, o químico declara: "Acredito no diabo"; "E eu em Deus", responde o físico.
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Renata_ Pandora 03/06/2023

Um jovem encontra um pedaço mágico da pele de um burro selvagem, que satisfaz todos os seus desejos. Para cada desejo concedido, porém, a pele encolhe e consome uma parte de sua energia física. Embora o romance use elementos fantásticos, seu foco principal é um retrato realista dos excessos do materialismo burguês.
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