spoiler visualizarSaulo.Fragoso 01/05/2023
Em 1949, no clássico O herói de mil faces, o estudioso Joseph Campbell conceituou a chamada Jornada do Herói: uma estrutura presente nos mitos e replicada em todas as boas histórias já contadas e recontadas pela humanidade. Em A Jornada do Escritor, Christopher Vogler faz uma detalhada e esclarecedora análise desse conceito, tomando como base diversos filmes importantes. Resultado de anos de estudo sobre mitos e arquétipos, somados à experiência de Vogler na indústria cinematográfica norte-americana, esta edição, revisada pelo autor, é uma obra de referência fundamental não apenas para quem deseja escrever boas histórias ? bebendo da fonte dos mais belos e fascinantes mitos já criados pela mente humana ?, como para quem quer entendê-las melhor, relacionando-as à própria vida.
Quando o assunto é escrita literária, há uma discussão comum sobre a diferença entre forma e conteúdo. Alguns dizem que o importante é a boa história que se conta. Outros valorizam mais a boa forma de se contar velhas histórias. A Jornada do Escritor defende este último argumento, ao detalhar de forma instigante e pontual o conteúdo arquetípico de toda a história, detendo-se em temas como heróis, vilões, mestres, ferramentas e aventuras. Todavia, em vez de se preocupar com como as histórias são contadas, Vogler está mesmo interessado em o que elas apresentam para fazer sucesso.
Desse modo, o leitor deve baixar suas expectativas caso deseje encontrar em Jornada o típico manual de escrita criativa que centra sua atenção em narrativa, descrição, ambientação, caracterização e diálogos, entre outros elementos tão caros a qualquer discussão sobre estilo literário. Por outro lado, deve elevar ? sem medo ? suas esperanças de encontrar um texto delicioso que não apenas analise de forma sensível as complexas sutilezas que formam o enredo e o desenvolvimento de uma boa história como também amplie essa discussão ao abordar a busca do herói como a busca existencial de todos nós.
O sumário do livro já indica quão divertida tal jornada será. Na primeira parte, ela é mapeada em capítulos dedicados aos arquétipos do herói, do sábio, do arauto, da sombra e do aliado, entre outros. Na segunda, temos a cartografia dessa grande aventura, que incluem limiares, pórticos, castelos, cavernas e despenhadeiros, alegóricos ou reais, que permitirão ao herói ou à heroína aquilo que o autor chama de ?retorno com o elixir?, que pode ser o elixir da vitória contra o dragão, do sucesso material ou da conquista romântica, entre outros temas possíveis.