Luly 22/01/2013Riquíssimo em conteúdo históricoMeu interesse por este livro veio da série Downton Abbey, que foi inspirada na história da família Carnarvon e mostra como era a vida da rica família inglesa, e dos empregados no palácio Downton Abbey, que na verdade se chama Highclare. No começo fiquei em dúvida se comprava esse livro ou se comprava o livro sobre os bastidores da série, com fotos e depoimentos dos atores. Acabei optando pelo Lady Almina, um pouco pela história real e também porque era mais barato! E não me arrependi nem um pouco. O que eu achei que seria fútil se transformou em um interessante relato sobre a sociedade da época (início do século XX), com seus costumes e hábitos, passando pela I Guerra Mundial, e ainda, falando das transformações tecnológicas, como a chegada da eletricidade às residências e os primeiros automóveis.
Almina era filha ilegítima de Alfred de Rothschild, um banqueiro milionário, cuja família é famosa até hoje como uma das maiores riquezas já existentes. Almina tinha muito, muito dinheiro mesmo à sua disposição e por isso, se casou com o conde de Carnarvon para se tornar condessa, além de, através de um contrato de casamento (comuns na época), saldar as dívidas e manter o Palácio de Highclare com toda a sua grandeza, opulência e cerca de 80 empregados.
Almina ficou famosa pelas milionárias festas que promovia no palácio, sempre com convidados ilustres, que iam de políticos e generais do exército a aviadores e arqueólogos. Chegou a hospedar o príncipe Albert, mais tarde rei Edward VII, por um final de semana.
Mas o mais interessante do livro, foi todo o relato sobre a participação da Inglaterra na I Guerra Mundial, quando as milionárias festas cessaram e Almina, com sua vocação para a enfermagem, fundou um hospital para tratar dos soldados feridos na guerra. O hospital, primeiramente foi instalado no próprio palácio de Highclare, e mais tarde, transferido para Londres. Almina ficou conhecida como uma das pioneiras no tratamento holístico, que em sua essência, baseia-se em não apenas tratar os ferimentos e dores físicas, mas proporcionar o bem-estar, com conforto, ambiente calmo e acolhedor, boa comida, acompanhamento psicológico e contato com os familiares dos pacientes para mantê-los informados sobre suas condições. Foi uma das primeiras a adquirir uma máquina de raio X e era contra as amputações, comuns em tempos de guerra.
Outro fato muito interessante, foi a descoberta da tumba de Tutancâmon no Egito, pelo conde Carnarvon e pelo arqueólogo Howard Carter, seu amigo e sócio de empreitadas. O conde era fascinado pela história egípcia e financiou escavações por cerca de 15 anos, em uma época em que era possível “pessoas físicas” explorarem sítios arqueológicos. O Egito não era um país independente na época, estava sob a custódia da Inglaterra, o que facilitava ao conde de Carnarvon e Lady Almina passarem os rigorosos invernos ingleses no clima seco do Egito. Quando o conde estava a ponto de desistir das explorações, um pouco porque as finanças já não iam bem (o pai de Almina, então falecido, já não provia tanto dinheiro à família além de sua herança), e também porque estava cansado e desacreditado (a realidade pós-guerra transformou a vida dos ingleses), foi convencido por Howard Carter a trabalhar em uma última empreitada no Vale dos Reis. A descoberta da tumba de Tutancâmon revolucionou a história mundial, pois era uma tumba intacta, que não tinha sido saqueada por ladrões, e, portanto, preservava peças intactas, milenares e milionárias, o que possibilitou estudos e descobertas de mais de 3.000 anos.
Muito interessante foi como esta descoberta chamou a atenção da imprensa mundial, mas mais interessante ainda, foi como os descobridores lidaram com isso, em uma época em que o assédio da imprensa não era tão comum como é hoje.
Comparando a história real com a série Downton Abbey, fica bem claro que o que aconteceu de verdade, é muito maior do que a série mostra. Por exemplo: na história real, Almina funda um hospital por vontade própria. Na série, o palácio transforma-se apenas em uma casa de convalescência, para descanso dos soldados em recuperação da guerra. E a ideia não parte de Cora, alter-ego de Almina na série, parte de Isobel, mãe do futuro herdeiro da propriedade. Aliás, a problemática da série é justamente sobre quem vai herdar Downton Abbey, já que, segundo as leis inglesas da época, só homens podiam herdar, e os atuais donos da propriedade só tiveram filhas mulheres. Na vida real isso não acontece, pois o primeiro filho de Lady Almina e Conde Carnarvon é homem. Sobre a personalidade de Almina, identifiquei que o autor da série “a dividiu” em várias personagens. Por exemplo: a vocação para a enfermagem é mostrada através da personagem Isobel e da filha mais nova de Cora, Sybil. Essa última, também representa o lado político de Almina, que se interessava, entre outras causas, pela igualdade de direitos para as mulheres. Cora, seu alter-ego na série, mostra como era a aceitação (ou não-aceitação) da sociedade da época por estrangeiros (Cora é americana) e fica bem claro que o casamento foi arranjado para que Cora, com seu dinheiro, socorresse as finanças da família. Nesse caso, é bem parecido com a história real, já que os Carnarvon “fecharam os olhos” ao fato de Almina ser filha ilegítima de um riquíssimo banqueiro da época. Esses dois fatos, mostram um pouco dos preconceitos da sociedade inglesa da época.
Esses são apenas alguns exemplos. Muitas outras comparações podem ser feitas, mas isso vamos deixar para os especialistas ou quem realmente se interessar por essa(s) história(s) riquíssima(s)!