Gramatura Alta 25/12/2017
A obra de Winston Groom não proporciona apenas uma grande leitura, ela foi adaptada para o cinema de uma forma brilhante pelo diretor Robert Zemeckis, e o personagem principal representado de forma inesquecível por Tom Hanks. Assim, primeiro fiquem com a resenha do livro, escrita pela MARIANA e, depois, com a crítica do filme, escrita pelo CARL.
O LIVRO
Ei, você é um idiota? Muitas pessoas são consideradas idiotas, ou seja, pessoas ignorantes, por terem o Quociente de Inteligencia muito baixo. O QI é uma medida padronizada obtida por meio de testes desenvolvidos para avaliar as capacidades cognitivas de um sujeito. Muitos indivíduos possuem o QI equivalente a 130, estes são considerados "superdotados"; já os com o nível igual ou inferior a 69, são classificados como "deficientes mentais", mas é sobre alguém considerado "idiota" que irei falar agora.
Forrest Gump tem o QI equivalente a 70, não é um "deficiente mental", mas esta próximo ao limite, sendo considerado, por muitos, uma pessoa idiota. Mas apesar do que dizem, Gump consegue deixar muitos boquiabertos e impressionados com a sua capacidade em outras áreas. Um bom exemplo é a sua facilidade extraordinária com as matérias de exatas e instrumentos musicais, como demonstra diversas vezes no decorrer do livro.
"Deixa eu te contar uma coisa: ser idiota não é nenhuma caixa de chocolate."
Narrado por ele próprio, Gump nos apresenta a sua vida, desde a sua primeira experiência em uma escola (para pessoas "normais"), até o ponto em que ele decide mudar o rumos de tudo em sua vida.
A históri tem uma narrativa fluida e detalhada, porém seu início nos traz estranheza em uma primeira impressão, pois Forrest tem dificuldade na pronuncia de alguns fonemas, ou seja, ele tem Dislalia, um distúrbio da fala. Por isso, e para tornar o personagem mais crível, foi atribuído à história as palavras que ele possui maior dificuldade em pronunciar, por exemplo: autura e póprio, mas, com o decorrer da leitura, meus olhos se acostumaram com as mudanças, quase não as percebendo. Posso estar errada, mas acredito que vários outros leitores de Forrest Gump tiveram o mesmo resultado.
"Tem vezes que você não pode deixar a coisa certa ficar no seu caminho."
Nesta história de cunho biográfico, Gump passa por momentos de perda e tristeza, mas também por grandes realizações de sua parte e alegrias. Podemos dizer que ele aprendeu muito com as experiências que a vida lhe proporcionou, uma grande lição de vida. Se uma pessoa considerada idiota pela sociedade consegue realizar grandes ações, não existe motivo para alguém de QI mais elevado se limitar a não executar tal coisa.
"Então lá fui eu de novo, e durante um longo tempo naquela noite a minha cabeça teve cheia de sonhos... Sobre voutar para casa, sobre a mamãe, sobre o coitado do Bubba e sobre o negócio de camarão e, claro, sobre a Jenny Curran também. Mais do que qualquer coisa no mundo, eu queria não ser tão loco."
FORREST GUMP é claramente uma leitura de um dia, rápida e fluída, tive que me controlar para não devorar ele em horas, pois a história nos passa uma sensação tão boa, que apenas lendo para você, leitor, entender. Acredito que não me identifiquei com algum personagem, mas posso dizer que o Bubba foi o meu favorito, pois além de ser simpático e sonhador, ajudou muito Forrest, seu melhor amigo. E o personagem que menos gostei, foi a Sra. Gladys, mãe de Gump, não consegui engolir ela, porque, de todos os personagens, ela era a que mais se rebaixava e se lembrava constantemente que o coitado era um inferior às outras pessoas.
Durante o decorrer da história, pude notar algo que me incomodou: por mais que Forrest narre a sua própria trajetória, senti falta de suas características. Isso me deixou um pouco triste, pois acredito que se o autor as apresentasse, iria permitir que o leitor imaginasse melhor algumas coisas.
"Bem, e daí? Eu posso ser idiota, mas, de qualquer forma, na maior parte do tempo, eu tentei fazer a coisa certa... E os sonhos são apenas sonhas, não são? Então, o que quer que tenha acontecido, eu cheguei a essa conclusão: eu sempre vou poder olhar para trás e falar que pelo menos não levei uma vida monótona."
A capa em um tom de branco, traz o título FORREST GUMP e uma pequena ilustração de banco de praça em baixo relevo na tonalidade preta. Mas para quem não tenha gostado da capa branca, o livro vem com um jacket dupla face, uma em tom de laranja com a ilustração de um capacete de futebol americano; já a outra, em um tom azul, traz a ilustração de uma raquete de ping pong. Todas as ilustrações das capas têm referência com a história.
No interior do livro, somos surpreendidos com treze ilustrações do desenhista, quadrinista e fã da obra, Rafael Coutinho, junto a uma paleta de cores muito chamativa e colorida. Na minha opinião, fizeram um excelente trabalho nesta edição comemorativa de trinta anos.
Tirando o detalhe que não me agradou, a leitura proporciona uma experiência gratificante e inesquecível. É de fato uma história surpreendente e perfeita para levar para vida toda. FORREST GUMP acaba de entrar para a minha pequena lista de livros favoritos.
Forrest, apesar de ser considerado um idiota por muitos, nunca deixou que isto o impedisse de fazer o que queria, ele nunca desistiu, e isso é, com toda certeza, um grande ensinamento.
O FILME
As histórias de alguns filmes têm a capacidade de passar uma mensagem que, se bem recebida e compreendida, pode mudar a vida de uma pessoa. Claro que para isso é necessário existir uma identificação, aquele click que muda a forma como a pessoa pensa, ou a incentiva a tomar decisões que ela relutava em tomar.
Uma das frases mais famosas de FORREST GUMP, e existem muitas deles durante as mais de duas horas de filme, é:
“A vida é como uma caixa de chocolates, você nunca sabe o que vai encontrar dentro.”
Apesar da simplicidade e da obviedade da frase, ela resume o que é a vida para todos nós: não sabemos o que nos espera no dia de amanhã. A apresentação e o fechamento do filme são tomados pela música principal, uma melodia triste e belíssima composta por Alan Silvestri, e pela pena de uma ave que é levada pelo vento, ao acaso, até pousar aos pés de Forrest. E o acaso é o tema central de tudo o que move a vida do personagem.
Em certo momento, enquanto divaga olhando o túmulo de uma personagem, ele se pergunta se nós guiamos nossas vidas, ou se apenas somos levados de um ponto ao outro por acontecimentos que não controlamos. Temos uma opção de decidir o que queremos fazer, ou somos obrigados e mudar de curso pelo que aparece em nossa frente e apenas nos adaptamos?
Embora Forrest seja considerado um idiota, e talvez o seja pela época em que a história se passa, durante as décadas da Guerra do Vietnã e pouco depois, ele possui na verdade um grau de autismo, o que lhe proporciona qualidades físicas, como reflexo, força, rapidez e fôlego, enquanto possui dificuldades de raciocínio, de concentração, de dedução, etc. Mas o que o torna diferente, na verdade, é sua perseverança, sua amabilidade, sua determinação em seguir em frente, independentemente das dificuldades, e em nunca abandonar quem ama. Seja sua mãe, que no filme compreende suas limitações e tenta protegê-lo de quem não entende, mas sem o privar do que deseja, seus amigos e a garota por quem é apaixonado.
Bubba é o primeiro amigo verdadeiro de Forrest. Os dois se conhecem no exército, quando vão para o Vietnã. Ele, sim, seria um exemplo de pessoa não muito inteligente, mas, da mesma forma que Forrest, não reconhece no mundo o tamanho das dificuldades e o quanto ele não está preparado para as enfrentar. Mykelti Williamson faz o personagem de uma forma que nos emociona, mesmo tendo uma pequena participação.
O segundo amigo de Forrest é o tenente Dan, com uma interpretação assombrosa de Gary Sinise. Ele é salvo por Forrest, mas perde as pernas assim mesmo. Ele passa a odiar a vida por ter se tornado um deficiente físico, dependente de uma cadeira de rodas. O relacionamento dos dois é conflituoso, porque Dan preferia ter morrido ao invés de se tornar o que se tornou, e ele culpa Forrest por isso, por tê-lo salvado. Aos poucos, conforme Forrest progride na vida, mas nunca esquecendo de Dan e o arrastando junto, mesmo contra à vontade, o relacionamento dos dois comove e demonstra como um amigo verdadeiro, daquele tipo que não foge perante as dificuldade, é importante. A cena em que Dan, após enfrentar uma tempestade em um barco ao lado de Forrest, finalmente compreende que a falta das pernas não é uma limitação, que pouco significa perante a vida, e ele nada de costas no mar sob o brilho do pôr do sol, é de uma paz que emociona.
Por fim, temos Jenny, interpretada por Robin Wright, a garota por quem Forrest é apaixonado. Ela tem seus próprios problemas e traumas, quase todos causados pelo pai, e isso a torna uma pessoa que foge dela mesma por todo o filme, até que algo a faz compreender que ela estava deixando de viver por coisas que não eram mais importantes, por um passado que estava impedindo que ela tivesse um futuro. Nesse momento, ela finalmente para de fugir de Forrest e vê o quanto ele é importante na vida dela. A parte final do filme, com Jenny, Forrest e um outro pequeno personagem, arranca choros e soluções de qualquer pessoa.
FORREST GUMP é um compêndio de como a vida pode ser para todos nós e de como todas as nossas decisões e ações influenciam, positivamente ou negativamente, todos os com quem convivemos, e até mesmo aqueles com quem não convivemos. Isso é demonstrado no filme de forma divertida, quando Forrest conhece pessoas famosas, sem saber que são famosas, como presidentes, artistas, esportistas, entre outros, e como algumas atitudes dele, como um telefone reclamando de um barulho e que levou à queda de um presidente, por mais singelas que sejam, podem desencadear uma onda gigante.
FORREST GUMP ganhou os principais OSCAR de 1994, como Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Ator, Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Edição e Melhores Efeitos Visuais, sendo este último prêmio pela capacidade de colocarem Tom Hanks atuando ao lado de personalidades famosas em vídeos reais da época, como o presidente Kennedy.
Forrest, em certo momento, diz que a vida é cheia de pequenos milagres, que nós não acreditamos neles, mas eles acontencem assim mesmo. Se você nunca assistiu a FORREST GUMP, está perdendo um dos melhores filmes de sempre!
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