Gabriel.Maia 17/10/2022
Obrigado, mestre!
Sinto um misto de alegria e tristeza enquanto escrevo essa resenha. Alegria por ter terminado uma das maiores sagas de todos os tempos, uma saga que mudou minha forma de encarar a ficção científica e a literatura em geral, e tristeza pois parece que estou me despedindo de um amigo. Foram 8 meses desde o dia que peguei o primeiro livro da fundação para ler, 8 meses em que eu mudei bastante como pessoa e como leitor, e sempre tive a saga da fundação como um refúgio para quando nenhuma leitura estivesse encaixando, e agora só posso relembrar todas as aventuras galácticas e intrigas políticas, sabendo que nunca mais poderei ler como se fosse a primeira vez. Mas não devemos focar nos pontos negativos, e sim nos pontos positivos, nos ensinamentos, nas incríveis personagens e, principalmente, nos momentos magníficos que só a leitura de um bom livro pode nos proporcionar. Vamos à resenha em si!
Alguns spoilers sobre o livro "Limites da fundação" abaixo, leia por sua conta.
Fundação e terra dá continuidade à narrativa do livro anterior, "Limites da fundação", narrando os próximos acontecimentos na vida de Golan Trevize e Janov Pelorat. Após optar pelo plano da Galaksia, renunciando aos planos de Hari Seldon para a fundação de um segundo império galáctico, Golan Trevize se vê em um dilema que o deixa inquieto: será que ele realmente fez a escolha certa? Apesar de todos em Gaia dizerem que ele tem um "sexto sentido" para tomar as decisões corretas, ele coloca na cabeça que precisa saber o que o motivou a essa preferência por Galaksia em detrimento da fundação, e tem certeza absoluta de que encontrará a resposta para isso na misteriosa terra, o que não será nada fácil já que parece que tem alguém ou algo escondendo todas as pistas sobre a localização da mesma.
Trevize, Pelorat e sua namorada, Júbilo, partem então na difícil missão de encontrar o planeta ancestral, e durante o caminho exploram inúmeros planetas há muito desabitados, nos dando um gosto delicioso da exploração espacial, e nos deixando sempre empolgados pelo próximo planeta a ser investigado.
Esse livro é diferente de todos os demais livros da fundação na questão de reflexões sobre assuntos do nosso cotidiano. O embate constante entre Trevize e Júbilo sobre o que é melhor, a liberdade de uma sociedade isolada, como a Fundação, ou a harmonia de uma sociedade interligada por pensamento, como Gaia, nos dá uma boa noção dos debates políticos da época em que foi escrito, durante os estágios finais da guerra fria. A igualdade comunista versus a liberdade capitalista são retratadas por meio de diálogos expondo seus pontos negativos e positivos, sem que o autor demonstre sua preferência por um ou pelo outro, deixando a cargo do leitor a reflexão e decisão sobre qual dos dois sistemas seria melhor para o universo: a Fundação ou Gaia.
Esses diálogos riquíssimos em argumentos, as explorações de novos mundos e as reviravoltas tão frequentes nos livros dessa saga me deixaram grudado nesse volume durante 4 dias, e só não acabei mais rápido pois estava sem tempo. É um ótimo passatempo e não deixa muito a desejar se comparado aos outros livros da saga, mesmo eu ainda tendo um apreço e uma preferência pela trilogia principal. Os personagens chegaram a me irritar um pouco em certos momentos mas não foi nada que atrapalhasse a leitura, já que Asimov compensa isso em outros quesitos como os já citados anteriormente.
Foi ótimo conhecer os acontecimentos pré e pós fundação. Esses 4 livros publicados após a trilogia original abrem um horizonte ainda maior de possibilidades nesse universo tão gigante construído pelo bom doutor, e nos regozija com um gostinho de mais narrativas sobre grandes personalidades da história galáctica. Eu estava meio receoso de Asimov ter feito isso apenas visando o dinheiro, mas agora, após ter encerrado a saga, não poderia estar mais feliz por ele ter feito como fez. Talvez eu mudasse algumas coisinhas no final, que não me agradou muito apesar do incrível plot-twist, porém é um final aceitável que abre ainda mais margem para especulações.
Asimov consolidou seu lugar como meu escritor preferido após essa leitura, e vou continuar lendo mais obras dele que estejam relacionadas com esse universo, pois ler Asimov vicia.