Amanda 22/12/2014Terras do sem fim é um romance estilo 'bang bang' americano, onde seus personagens são motivados pela ganância, poder e amor, sendo fielmente retratados de acordo com sua realidade, como a literatura naturalista deve ser.
A cultura do cultivo do cacau é o maior assunto no sul da Bahia, e em todo o estado só se ouve as histórias dos cabras que se aventuram nas matas
e lutam contra onças, cobras e uma misteriosa febre, para em dois anos voltarem mais ricos do que nunca. O cacau tem cor de ouro, dizem.
Aos redores de Tabocas, município de Itabuna, o representante político é o Sinhô Badaró, grande proprietário de terras, que, junto com seu irmão, Juca, anseia em aumentar sua propriedade ao anexar a grande região denominada Sequeiro Grande, que dizem possuir o melhor solo do mundo para o plantio de cacau. Mas ele não é o único. Da oposição política há Horácio, latifundiário rico que tem como ajuda um novo advogado, Virgílio, recém vindo de Salvador.
O que impede os Badarós de desbravarem a mata de Sequeiro é um pequeno fazendeiro, que apoia Horácio, recusando-se a vender suas terras que fazem divisa com o solo virgem. Após uma falha tentativa de assassinato do mesmo, uma guerra está para se iniciar, assim como grandes amores, doenças e traições. As beatas da igreja nunca tiverem tanta coisa para comentar.
Jorge Amado tem o dom de prender a sua atenção no texto, apesar de ele ser ‘antigo’ e ter aquela característica linguística do início do século passado. Muitas vezes desisto de alguns clássicos devido à dificuldade de compreensão, mas isso não acontece em seus livros. Além de que você aprende novas palavras: eu nunca saberia o que um parabellum é se não tivesse lido esta obra.
Outra coisa que me impressionou foi a forma de retratar a realidade dos personagens. Damião, o negro jagunço contratado para matar o fazendeiro, nunca se importou de matar. Mas assim que a semente de dúvida sobre o certo e o errado é posta em sua mente, o homem hesita e reflete sobre suas ações. Durante quatro páginas vemos como Damião processa o que lhe foi dito e vemos o conflito que se passa em sua mente. E não é muita gente que consegue retratar algo assim.
Não é nenhum ‘Capitães da areia’ da vida, e eu só li o livro por causa de um vestibular que pretendia fazer, mas não deixou de ser uma leitura construtiva para aumentar meu vocabulário ‘das antigas’, além de ser uma baita aula de escrita - ainda mais sobre a realidade humana, e como descrever afundo o pensamento de um personagem.
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