Carla.Parreira 10/02/2024
Um Lugar na Janela - Martha Medeiros...
Melhores trechos: "...Sair de casa é a oportunidade de sermos estrangeiros não só aos olhos dos nativos de outro país, mas estrangeiros num sentido mais amplo... A liberdade é uma ilusão, eu sei. Ninguém é inteiramente livre, a não ser que não possua vínculos. A nacionalidade de uma pessoa não deveria ser estabelecida por sua cidade de nascimento, e sim pelos locais pelos quais a pessoa se sentia atraída... Deixei de lado o zelo excessivo por coisas que foram feitas apenas para se usar, e não para se amar... Todai-Ji, templo que abriga o maior buda do país, uma estátua imponente de 16 metros de altura. É um lugar bastante atrativo, localizado no parque de Nara... Se você é do tipo que não consegue se maravilhar com o que está vendo porque está mais preocupado com os mosquitos, os remédios, as gorjetas, o fuso horário e em checar os e-mails do trabalho, não viaje. Se você não faz ideia em que ponto do mapa fica o local para onde está indo, não tem a mínima curiosidade sobre a cultura do lugar, até desconhece o idioma falado, não viaje... Viajar minimiza preconceitos. Viajantes não têm partido político, classe social, time de futebol, firma reconhecida em cartório, senhas decoradas na cabeça. Reciclam-se a cada manhã, quando acordam – e acordam, que benção, sem a tirania do despertador... A liberdade é uma ilusão, eu sei. Ninguém é inteiramente livre, a não ser que não possua vínculos. Como qualquer pessoa saudável, não abro mão de laços afetivos, a vida seria muito árida sem amor... Inúmeros motivos justificam essa minha gamação por estar na estrada. Um deles é que viajar nos faz reagir conforme a demanda do momento, que é sempre imprevisível. Comer aranhas fritas, fazer confidências a um homeless, assistir às luzes de uma aurora boreal, colocar uma cobra em torno do pescoço, percorrer vilarejos de bicicleta, dormir sobre a grama de um parque, ir a uma festa promovida por hare krishnas, casar de sarongue numa ilha da Polinésia. Sair de casa é a oportunidade de sermos estrangeiros não só aos olhos dos nativos de outro país, mas estrangeiros num sentido mais amplo... Viajar é uma maneira de nos espalharmos, de rompermos com nossas divisórias internas e aniquilarmos medos e tabus..."