Ceile.Dutra 30/03/2013Resenha retirada do meu blog - www.estejali.comTermino mais um livro da Christine M. e algo me assombra novamente: como pode existir algo melhor do que isso?
E se todas estas catástrofes que julgamos naturais fossem provocadas por uma grande potência a fim de repreender países contrários aos interesses dela? No início, eram boatos e especulações, até que a China e a Rússia começaram a investir em pesquisas e instalaram antenas a centenas de metros em direção ao centro da Terra. Pequenas cidades foram devastadas - tsunamis, terremotos, tufões. Não eram fatos aleatórios, eram testes dessa nova arma geofísica. Até que um dia, o imperador Chinês se pronunciou e elencou todos os desastres de autoria americana - era o início da Terceira Guerra Mundial. O caos só teve fim quando a Rússia ameaçou se juntar à China - o que forçou os Estados Unidos a propor um acordo e assim o mundo ficou dividido entre os três países em regime de ditadura. A repressão e a miséria eram a forma de manter o poder absoluto nas mãos dos militares governantes. As estações de antenas são protegidas por um campo magnético desde que a guerrilha destruiu uma parte delas.
"Desde então, há a guerra entre as três nações mais poderosas, a guerra da resistência contra os ditadores e a guerra da população, que luta para sobreviver."
Alice nasceu quando a divisão já estava estabelecida e, por ser filha de um militar americano, foi enviada para o Brasil ainda criança junto com seu irmão Henry, com novas identidades para viver com a família Martins em uma fazenda. Hoje, adulta e formada, ela trabalha na U.M.T.A. (Unidade Militar de Terapia Alternativa), onde dá aula de Artes para militares que estão "presos dentro de si" (provavelmente traumatizados pela guerra). Está prestes a se casar com o Coronel Hawk e sabe exatamente como será sua vida: dias no atelier, noites com seu esposo pouco afetuoso. Porém, toda esta vida regrada e previsível está prestes a se tornar um caos - ou, como a própria Alice constatou, a situação ficará clara e ela vai, finalmente, enxergar a verdade e tirar a névoa que paira sob seus olhos e pensamentos. Ela está mais envolvida com a guerrilha do que poderia imaginar.
"Quem dera a vida fosse feita de fotografias, porque jamais gravamos o que nos entristece, nos constrange ou machuca. Quem dera a vida não fosse exatamente o que não expomos nos álbuns de recordações."
Cara, como é difícil conseguir fazer uma sinopse de uma história que tanto tem para contar. Isso tudo que eu contei, não é metade do que temos até o capítulo V - e olha que O Que Não Diz a Lenda tem XXVI!
Como sempre, estou embasbacada com o poder de escrita da Christine M. Ela poderia tornar desastroso o simples fato de um copo caindo no chão - e poderia escrever um livro sobre isso que deixaria muitos leitores satisfeitos e encantados com suas palavras. Acontece que ela vai além. Ela cria uma história complexa, comovente e dolorida. Nunca poderia imaginar que uma mulher que pode me fazer chorar com uma história de amor tão intensa, pudesse me prender tanto nas páginas de uma distopia. E, se você acha que é uma história superficial, pode se desfazer das incertezas e acredite: esta história é muito bem desenvolvida - todos os pontos são ligados, todos os personagens têm alguma função no enredo e tudo, mas tudo mesmo, faz sentido.
Esse é o tipo de livro que eu não gostaria que acabasse. Senti raiva, afeto, fiquei com medo e tive esperanças - tudo isso graças à Alice, a protagonista, que compartilha todos os seus sentimentos tornando-os quase palpáveis. Alice é guerreira e sensível - diria que ela é desta nova leva de mocinhas que não se escondem atrás de um príncipe ou embaixo de um cobertor. Ela, tão pequena, diante de um mundo tão grandioso, se torna a esperança de liberdade de um povo que vive em buracos - se escondendo ou traçando novas estratégias de ataque ao governo.
"- Acho que eles amam as possibilidades. É fácil amar o que a pessoa é capaz de vir a ser, a parte difícil é se contentar com o que ela é, como o que ela consegue ser naquele momento.
- E você não teme decepcioná-los?
- O tempo todo.
E esse era o maior de todos os medos que eu carregava."
Em meio a tanta guerra, violência, miséria, mortes (e tantos contrastes), há também espaço para o romance - novamente um romance sensível que só a Chris consegue desenvolver. Aliás, sensibilidade é uma das armas da autora: ela escolhe, cuidadosamente, as palavras que formarão não só a frase, mas também a sensação de que o leitor está dentro da história.
"Se boas lembranças eram necessárias para suportar períodos difíceis, estava certa de que não precisaria mais de um estoque, aquela única cena seria capaz de me salvar de muitos dias sombrios."
E assim são os livros da Christine M: eles te abraçam - ora te acarinham, ora te apertam, mas sempre vão te trazer a garantia de uma ótima história.