Julia G 26/03/2012À Caça de Harry WinstonResenha publicada originalmente no blog http://conjuntodaobra.blogspot.com
"- Gorda! Gorda! Gorda! - gralhou o pássaro malcriado [...] Garota gorda! Garota gorda! Garota gorda! - gritou ele, a cabeça subindo e descendo como um cachorro de cabeça de mola.
- Agora escute seu imbecil - Adriana sibilou, os lábios quase tocando as barras de metal da gaiola. - Eu sou muitas coisas, muitas coisas péssimas e mesquinhas, mas gorda não é uma delas. Você me entendeu?
O pássaro inclinou a cabeça para o lado como se estivesse pensando na pergunta. Adriana achou que ele podia até ter concordado e voltou para a cama, satisfeita. Nem havia saído pela porta do banheiro quando o pássaro gralhou - mais baixo dessa vez, ela podia jurar.
- Garota gorda!
- Seu filho da mãe [...]. Ah, meu Deus - murmurou ela, para si mesma - Estou falando com um papagaio." (pág. 126)
Emmy foi deixada recentemente por Duncan, seu namorado há quase 5 anos, e se sentia perdida. Não por amá-lo ou não saber o que fazer sem ele, mas por ter de adiar ainda mais o sonho de casar e ter filhos, coisa que ela via estar cada vez mais longe realizar. Desiludida, trocada por uma garota mais nova - e virgem -, ela decidiu que precisava mudar sua vida. Ter dormido com apenas três homens sua vida toda e ser uma monógama doente não havia feito com que sua vida chegasse onde desejava que estivesse, então ela tentaria outro caminho.
Adriana tinha tudo o que poderia querer. Filha de brasileiros ricos, era linda de causar inveja às outras mulheres e possuia uma sensualidade e segurança que deixava qualquer homem aos seus pés. E homens era uma das coisas que mais gostava, quanto mais, melhor. Compromisso era uma palavra fora de seu dicionário, e trabalho também se encaixava nessa categoria. Mas não podia ficar atrás de Emmy nessa história: se a amiga iria transformar sua vida radicalmente, ela também estava disposta a fazer isso.
Leigh não chegava nem a um extremo, nem ao outro. Tinha uma beleza simples, um trabalho como editora adorável, um apartamento agradável e um namorado fiel, lindo, atensioso, perfeito. De fora, todos achavam que ela tinha uma vida maravilhosa, sem ter nada a mudar. Mas ela não estava feliz, gostava de se isolar, e seus vários tipos de TOC vinham atrapalhando consideravelmente sua saúde física e mental. Mas se todos diziam que ela deveria estar satisfeita, por que não estava?
A única coisa comum entre essas três mulheres, além do fato de que todas estavam se aproximando da faixa dos 30 anos, é que eram amigas desde os tempos de faculdade. Como será que estariam quando os temidos 30 chegassem?
À caça de Harry Winston, de Lauren Weisberger é classificado como um chick-lit e faz bastante sucesso por ser da mesma autora de O diabo veste Prada, mas a principal impressão que eu tive ao lê-lo foi de que era extremamente forçado. Não sei se estava em um momento ruim para esse tipo de leitura, mas eu estava com tanta vontade de ler um livro do gênero que acredito que não era esse o caso. A leitura não foi exatamente ruim, mas sei que quando começo a me arrastar para terminar a leitura do livro é porque realmente não encaixou.
O livro inicia comentando a vida de cada garota, os pequenos defeitos e insatisfações que cada uma tinha consigo. Era claro que as protagonistas não estavam felizes, e a falta de ânimo aliada à demora do enredo para entrar em um ritmo agradável acabou causando certo desinteresse pela história. Depois da metade do livro a situação melhora consideravelmente, mas, até aí, o estrago já estava feito.
Um outro detalhe que me incomodou um pouco, e que talvez nem tivesse sido notado se eu tivesse sido fisgada pela narrativa desde o início, é que o tempo em que decorre a trama fica bastante confuso, já que há uma ordem cronológica, mas aconteciam vários saltos no tempo, e só se sabe quanto tempo se passou de um capítulo para outro se tivermos lido o bastante para nos situarmos.
Mesmo assim, é impossível dizer que os personagens não foram bem construídos. Emmy era uma garota tranquila, que tinha o sonho de construir uma família, e ficava fantasiando coisas simplesmente impossíveis. Leigh, cheia de manias, foi difícil de compreender: quem, em sã consciência, não ficaria maravilhada com aquele namorado simplesmente incrível? Mas né... A Adriana, por sua vez, foi a amiga que eu mais gostei. Cem por cento ela mesma, original e brasileira. Não sei se gostei ou não de mostrarem esse tipo de imagem que se faz das brasileiras lá fora, como mulheres sensuais e "quentes", mas para ser sincera, isso não fez tanta diferença.
O personagem central e estrela do livro foi certamente Otis, o papagaio. Sério gente, era impossível não rir toda vez que ele aparecia. E ele e a Adriana, como no quote citado acima, protagonizaram cenas hilárias - as únicas que me fizeram rir no livro.
Talvez eu não tenha gostado mais da história por causa do exagero típico dos chick-lits que, nesse caso, não fez com que nada se tornasse mais engraçado e me deu a impressão de forçado, como citei acima. Mesmo assim, haviam algumas passagem divertidas e, para algumas pessoas, isso pode valer a leitura.