jota 07/08/2023Pelas críticas que li antes, parecia muito mais interessante...Lido entre 27 de julho e 05 de agosto de 2023. Avaliação da leitura: 3,7/5,0
A bela capa do livro traz a reprodução de Palmeiras, obra de Tarsila do Amaral de 1925, que evoca idealmente uma propriedade rural brasileira dos inícios do século passado. O que tem um tanto a ver com o ambiente onde circulam os personagens e as histórias criadas por Ruth Guimarães (1920-2014). Água Funda foi lançado duas décadas depois dessa pintura, em 1946, mas parece ter sido ofuscado por Sagarana, de Guimarães Rosa, do mesmo ano, uma abordagem muito diferente do mundo sertanejo daquela que Ruth fez.
De todo modo, a obra chamou a atenção da crítica especializada não apenas por suas qualidades literárias, também porque Ruth era negra, uma novidade então na literatura brasileira. E somente em 1960, outra escritora negra como ela, Carolina Maria de Jesus, mas escrevendo sobre o ambiente urbano, fez com que Quarto de Despejo de tornasse um sucesso aqui e no exterior. Curiosamente (ou minha memória não anda muito confiável), nem Ruth nem Carolina tocaram diretamente em problemas de negritude nos livros citados, ao contrário do que fizeram mais recentemente Ana Maria Gonçalves (Um Defeito de Cor), Itamar Vieira Junior (Torto Arado) ou Jeferson Tenório (O Avesso da Pele).
Bem, além do prefácio de Antonio Cândido, destacado já na capa, temos na parte final resenhas da obra escritas por especialistas da época, como Brito Broca, o próprio Antonio Candido escrevendo novamente e Alvaro Lins, bem como uma das primeiras entrevistas de Ruth Guimarães, saudada então como uma revelação de nossas letras, como destaca a sinopse da Editora 34, aqui presente.
Como leitor, confesso que há trechos do livro que me aborreceram ou me deixaram indiferente, mesmo reconhecendo a contribuição que a escritora deu para o conhecimento da cultura caipira do Vale do Paraíba e do sul de Minas Gerais. Porém, há uma história que praticamente atravessa todo o livro, a de Sinhá Carolina, aparecendo aqui e ali, que me pareceu a melhor de todas do livro, ou a mais curiosa, que fez valer a pena a leitura de Água Funda.