Elis 23/09/2022
"QUARENTA ANOS é demais pra uma mulher. Prefiro quarenta e dois."
Meu primeiro contato com a autora, Adélia Prado, e digo que não me arrependo de ter começado por este. Escrita fugaz e divertidíssima, por vezes melancólica. Tratando-se de fragmentos de uma mulher "quarentona" religiosa, porém nem tanto, compartilhando com o leitor suas ponderações e devaneios no que tange o amor, o pecado, deus e a velhice. Entre outras constituições sociais a respeito do cotidiano.
" Quantos anos tem a humanidade? Que estou fazendo que ainda não desviei aviões, dinheiro, vendi meu corpo a preço de banana? O tempo ruge. Quero vender é a minha alma, virar comerciante, plantar dois mil pés de laranja, comprar adubos, arranjar um caminhão pra pegar as frutas na chácara e levar pra São Paulo. Faço dupla sertaneja, tenho um programa no rádio e só canto música da minha autoria. As mulheres me olham é da cintura pra baixo, a vida é uma maravilha, não fosse a velhice. Juventude de espírito eu não quero, acho muito ridículo a alma fazendo trejeitos. Já viu mangueira velha? É assim que eu quero. Do ponto de vista biológico a morte é naturalíssima."