Mi Hummel 13/08/2013
Dr Haller - O morto vivo.
(...)"Poderá modificar isso? Conhece esses pobres coitados. Deus está longe, mas o médico está perto. Quando a gente se agarra bem, consegue pegar um galho, não a copa da árvore inteira. - Donyan ergueu os ombros." página 250.
"O Anjo dos Esquecidos" é um destes livros antigos pelos quais você acaba se surpreendendo. Quando comecei a lê-lo, confesso que pensei que não iria gostar, mas...Belo engano.
Nongkai, a vila de Leprosos recebe a chegada de um médico que espera enterrar-se vivo, exilando-se na solidão do Jangal e em efusões de álcool etílico. O que o pretensioso Dr. Haller não esperava era que aqueles incontáveis seres carcomidos pela lepra estivessem mais vivos do que ele próprio e fossem capazes de devolver-lhe a fibra e a vontade de tornar-se um ser humano digno novamente.
Dr. Haller é um lutador incansável e que robustece a cada prova. É miseravelmente imperfeito, espírito inquebrantável, capaz de grandes sacrifícios por seus filhos de Nongkai. O livro todo é composto por suas lutas: tanto internas quanto externas.
Ação em cada página: Dr. Haller defende-se com unhas e dentes como um tigre, vigiando de perto seus filhotes.
O autor - Konsalik - consegue ser tão fiel que o "Anjo" é duramente modelado pelas tenazes do sofrimento: seja enfrentando sua própria doença (física e psicológica) quanto à dos demais. Doía compreender os seus esforços e de repente, vê-lo despojado de tudo quanto construiu porque, finalmente, Nongkai pareceu chamar a atenção das autoridades devido ao trabalho de um médico insano.
Vale a pena ler e acompanhar as peripécias de Dr. Haller e seu gata silenciosa Siri.
No final das contas percebemos que o morto em vida era Haller e não os seus pacientes. Nestes últimos os nódulos da Hanseníase comiam os corpos. Em Haller, os nódulos eram internos: comiam-lhe a alma.
Não foi Haller quem salvou Nongkai. Mas, Nongkai quem salvou o pobre Dr. Haller de si mesmo.