A Psicologia Do Amor Romântico

A Psicologia Do Amor Romântico Nathaniel Branden




Resenhas - A Psicologia Do Amor Romântico


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Carla.Parreira 12/10/2023

A psicologia do amor
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O autor define o amor romântico como uma ligação espiritual-emocional-sexual apaixonada entre um homem e uma mulher, que reflete uma grande estima pelo valor pessoal de cada um. Nas culturas primitivas não existia a ideia do amor romântico. O ponto principal e regulador era a sobrevivência da tribo. O indivíduo era subordinado às necessidades e leis da tribo em praticamente todos os aspectos da sua vida. A mentalidade tribal, antiga ou moderna, tende a encarar o amor romântico como algo socialmente subversivo, como se de algum modo prejudicasse o bem-estar da tribo, ou seja, da sociedade.
Os gregos idolatravam os relacionamentos amorosos espirituais, e não os carnais, e para eles este amor profundo e espiritualmente significativo só era possível entre homossexuais, normalmente entre homens mais velhos e garotos.
Com exceção deste conceito de elevada admiração, que podia existir somente entre homens, o amor era tido como um jogo prazeroso e divertido, uma diversão sem muita importância ou significado duradouro. O amor sexual apaixonado, quando aparecia, era em geral visto como uma trágica loucura, uma aflição que tomava conta de um homem e o tirava daquela calma e fria imparcialidade tão admirada pelos gregos. Uma mulher custava caro, era um fardo, frequentemente um obstáculo à liberdade do homem. No entanto, ter filhos era uma obrigação que o homem tinha para como Estado e a religião; ele precisava de uma dona de casa; e a noiva possuía seus dotes.
O casamento era um mal necessário e uma aliança entre desiguais. Os romanos, como os gregos, não se casavam por amor. Nas classes sociais mais altas, os casamentos normalmente eram combinados pelas famílias por razoes financeiras ou políticas; um homem casava para ter uma dona de casa e para ter filhos. O crescimento da valorização da unidade doméstica foi acompanhado de uma elevação da posição da mulher. Num relacionamento amoroso, elas provavelmente assumiam uma posição de igualdade. Com relação a isto, alcançaram pelo menos uma das condições do amor romântico. Entretanto, não tardou e o cristianismo assegurou a homens e mulheres um ideal de amor coerentemente abnegado e não-sexual.
De fato, o amor e o sexo deveriam estar em polos opostos: a fonte do amor era Deus; a origem do sexo era o Diabo. A abstinência sexual era proclamada como o ideal moral. O casamento descrito mais tarde como um remédio para a imoralidade, era uma hesitante concessão do cristianismo à depravação da natureza humana, que tornava este ideal então possível. No final da Idade Média surgiu uma segunda concepção da mulher, que passou a coexistir com a primeira. De um lado, o símbolo da mulher era Eva, a tentação sexual, a causa do declínio espiritual do homem. Do outro lado, ela existia na imagem de Maria, a Virgem Mãe, o símbolo de pureza que eleva e transforma a alma do homem. A procura pelos valores de cada um, o exercício do julgamento das próprias condutas e alegrias do prazer sexual, todos são atos de auto-afirmação ligados à escolha e à experiência do amor romântico. Todos eram condenados pelo cristianismo. Originária do sul da França, no século XI, a doutrina do amor cortesão foi desenvolvida por trovadores e poetas das cortes da nobreza, muitas vezes administradas pelas mulheres de nobres que partiram com as Cruzadas.
A doutrina era baseada na ideia de uma imensa paixão entre um homem e a mulher de outro. O amor, então, no sentido passional e espiritual, se encontrava especificamente em envolvimentos extraconjugais. No campo dos relacionamentos homem/mulher, os pensadores do Iluminismo não elaboraram conceitos significativamente diversos ou superiores àqueles de seus predecessores. Ao aceitar a secular divisão da pessoa em conflitantes metades de corpo e espírito, eles assumiam que a paixão física e a valorização espiritual permaneciam dissociadas dos relacionamentos ente homens e mulheres.
A industrialização e o capitalismo significaram muito mais que bem-estar material. Pela primeira vez na história da humanidade foi reconhecido explicitamente que os seres humanos deveriam ser livres para escolher seus próprios compromissos, um contexto no qual a busca da felicidade na terra pareceria natural, normal e possível. No século XIX, o antifeminismo e o anti-sexualismo produzidos pela religião não haviam de forma alguma desaparecido; sua influência, apesar de já ser pequena, sucumbiria no século XX. De fato, a batalha ainda não tinha acabado. Mas sua morte foi inevitável com o aparecimento da industrialização, do capitalismo e da filosofia do individualismo. Hoje, o anti-sexualismo e o antifeminismo são um anacronismo histórico.
O início da Revolução Industrial coincidiu com outra revolução que deveria influenciar os relacionamentos homem/mulher. Era o movimento literário conhecido como Romantismo. De uma forma ou de outra, as peças, os poemas épicos, as sagas e crônicas que antecedem o aparecimento s da literatura romântica traziam a mesma mensagem: homens e mulheres são fantoches do destino, encontrados em um universo essencialmente antagônico aos seus interesses e, se por acaso têm sucesso, não é por méritos seus, mas por circunstâncias externas fortuitas. Esta era a visão da vida contra a qual o Romantismo se rebelava.
A implicação filosófica é, claramente, que nossa vida está em nossas mãos, a nós cabe conceber nosso destino, e esta escolha é o acontecimento mais importante da nossa existência. Este é o ponto mais estreito de contato entre o Romantismo, na literatura, e o amor romântico, no sentido moderno. Entretanto, o amor romântico precisa da integração da razão com a paixão, um equilíbrio entre a subjetividade e a objetividade com o qual os seres humanos podem conviver, e isto o Romantismo do século XIX deixou completamente de prover. Os críticos gostam de frisar que o país onde o amor romântico encontrou maior aceitação é o mesmo onde há o maior índice de divórcios no mundo. Experiências liberais, como a troca de casais, o casamento grupal, famílias de múltiplos casais, casamentos de três pessoas, representam caminhos alternativos que mais e mais pessoas percorrem em busca da satisfação pessoal, mas nenhum deles tem obtido graus de sucesso significativo.
Ser um indivíduo não só consciente, mas autoconsciente, é encontrar, ainda que brevemente na privacidade do pensamento, a nossa imutável solidão que implica responsabilidade por si mesmo. Ninguém pode pensar, sentir ou viver nossas vidas por nós e ninguém, a não ser nós mesmos, pode dar significado à nossa existência. Para a maioria das pessoas, esta é uma realidade assustadora. Pode ser a realidade a que resistimos e que negamos com mais intensidade e veemência. Como habitantes do universo, estamos ligados a tudo o que nele existe. Temos uma cadeia infinita de relacionamentos. A separação e a união são extremos que se vinculam um ao outro. A origem do nosso desejo de amar está na nossa profunda necessidade de valorizar, de encontrar no mundo algo com que se importar, se estimular e se inspirar. São nossos valores que nos amarram ao mundo e que nos motivam a continuar vivendo. Todos os atos são praticados com o propósito de ganhar ou de proteger aquilo que imaginamos que irá beneficiar nossa vida ou aumentar nossas experiências. O amor representa uma disposição de ver o ser amado como a personificação de valores pessoais profundamente importantes e, consequentemente, como uma potencial fonte de alegria.
Uma significativa reciprocidade de intelecto, de valores e premissas básicos, de atitudes fundamentais diante da vida, é a precondição da proteção de mútua visibilidade essencial para a autêntica amizade e, acima de tudo, para o amor romântico. Para Aristóteles, um amigo é um outro eu. É precisamente isto, em sua forma mais intensa, que sentem os amantes. Amando encontramonos no outro. Um amante reage a nós exatamente como nós reagiríamos a nós mesmos se fôssemos outra pessoa. Assim, podemos identificar uma das principais raízes do desejo humano pela companhia, pela amizade e pelo amor: o desejo de compreender nosso interior como uma verdadeira identidade, de experimentar a perspectiva da objetividade através das reações e das respostas de outras pessoas. O desejo de visibilidade muitas vezes é vivido como o desejo de ser compreendido. Se eu estou feliz e orgulhosos com alguma realização, quero sentir que aqueles que estão ao meu redor, aqueles com quem me importo, compreendem meu feito e seu significado pessoal para mim, entendem e dão importância às razões subjacentes às minhas emoções. A experiência da visibilidade pode implicar simpatia, empatia, compaixão, respeito, apreço, admiração ou amor, ou em uma combinação deles. Entretanto, a visibilidade não implica necessariamente em amor. Mas o amor sem visibilidade é uma ilusão. Ao conhecer uma nova pessoa, o indivíduo autônomo tende a começar pela pergunta: o que eu penso desta pessoa? O indivíduo imaturo ou dependente tende a começar pela pergunta: o que esta pessoa pensa de mim? O sexo é mais intenso quando é, simultaneamente, uma expressão do amor por nós mesmos, pela vida e pelo nosso parceiro.
A fascinação, a atração e a paixão podem nascer a primeira visa. O amor não, pois requer conhecimento, o qual requer tempo. Somos mais propensos a nos apaixonar por uma pessoa com quem temos simultaneamente, afinidades básicas e diferenças complementares. Quando um homem e uma mulher veem as diferenças complementares, eles as veem como algo estimulante, desafiador e excitante, uma força dinâmica que realça a vida, a expansão e o crescimento. Muitas vezes maridos e mulheres brigam e reclamam de características do outro que eles próprios possuem, mas que gostariam de ignorar. Na realidade, uma das formas de obtermos uma profunda compreensão nos relacionamentos é nos perguntarmos: com que parte de mim meu amante me lava a ter contato? Como eu me vejo neste relacionamento? O que está mais vivo dentro de mim com a presença desta pessoa? Respondendo a estas perguntas, podemos conhecer um dos motivos mais importantes pelos quais nos apaixonamos por uma pessoa em particular. O propósito do amor romântico, entre outras coisas, é louvar a auto-estima (e não proporcioná-la a quem não a possui). A auto-estima, como um fenômeno psicológico, tem dois aspectos interligados: a sensação de eficácia pessoal e a sensação de valor pessoal. É a integração da autoconfiança com o respeito por si próprio.
É a convicção ou mais precisamente, a experiência, de que temos competência para viver e merecemos viver. A auto-estima é a sensação de que nos adequamos à vida, ao que ela requer e a seus desafios.
Dois são os elementos indispensáveis para uma autoconsciência saudável: uma sensação básica de competência e de merecimento. Temos a tendência de nos sentir mais à vontade com pessoas cujo nível de auto-estima se parece com o nosso. O conceito que temos de nós mesmos tem uma grande tendência a determinar o destino. O crescimento do amor nos relacionamentos românticos requer o reconhecimento do fato de que a felicidade é um direito inerente ao homem.
A alegria é nosso estado natural, basta darmos uma chance a ela sem sabotá-la. Indivíduos autônomos respeitam a necessidade do parceiro de seguir seu próprio destino, de às vezes estar sozinho, preocupado, de não pensar no relacionamento, de pensar em problemas vitais que não o envolvam diretamente, como o trabalho, a evolução e o crescimento pessoal, as necessidades pessoais de desenvolvimento. Indivíduos autônomos assimilaram e integraram a importante realidade da solidão humana. Não resistem a ela, não a negam, não a veem como uma dor avassaladora ou uma tragédia na sua vida. Em consequência, não se esforçam constantemente para, através de seus relacionamentos, ter a ilusão de que esta solidão não existe. Eles compreendem que a solidão dá ao amor romântico uma intensidade única. A harmonia com a solidão os faz competentes para participar do amor romântico. Quando não somos maduros a ponto de aceitar a nossa solidão, quando temos medo dela, quando tentamos negá-la, tendemos a superproteger nosso relacionamento através de uma dependência doentia, que pode reprimi-lo e sufocá-lo.
Não abraçamos, seguramos. Sem ar nem espaço, o amor não pode respirar. Quando a paixão e a visão estão interligadas, o amor pode aflorar.
O maior presente que podemos dar a quem amamos é ouvir, estar presente, estar disponível, sem nenhuma obrigação de dizer algo brilhante, de encontrar a solução ou de levantar seu ânimo. Mas para que sejamos capazes de dar ao outro, devemos ser capazes de dar a nós mesmos. Quando somos rigorosos e moralistas conosco, não tratamos melhor nosso parceiro. A auto-aceitação é a base para aceitar o outro. É necessário sabermos que, se nosso parceiro está irritado conosco, ele nos dirá. Não é interessante ter um relacionamento com alguém que nunca reclama das coisas que o magoam ou aborrecem. A disposição de dividir nossa dor, nosso medo e nossa raiva faz o amor romântico crescer.
Se queremos compreender por que o amor parece crescer para determinado casal, e por que para outro ele morre, devemos observar como o homem e a mulher falam um com o outro e como falam dos seus assuntos pessoais, em resumo, como se comunicam. Se observarmos duas pessoas apaixonadas, se observarmos seus olhos, veremos como o olhar é fundamental para o amor romântico. A capacidade de ver e de comunicar o que se vê, ou seja, a capacidade de fazer o parceiro se sentir visível, é essencial para a longevidade de um relacionamento romântico.
O modo como nosso parceiro nos trata é somente o reflexo de como o tratamos, assim como a nossa maneira de tratá-lo é um reflexo de como tratamos a nós mesmos. E nessa questão de reflexo podemos perceber que pais emocionalmente distantes e inibidos tendem a criar filhos emocionalmente distantes e inibidos não somente pelo que dizem, mas também pelo modo como se comportam, mostrando à criança o que é apropriado, correto e socialmente aceitável. Provavelmente este é o meu caso. Pessoas que falam do medo de perder a personalidade conhecem involuntariamente a intensidade do seu desejo de amor, da sua necessidade de amor, e sentem medo de ter de sacrificar qualquer coisa para obtê-lo, como sua mente, seus valores, sua integridade. Se isto é verdade, o problema se encontra na autonomia inadequada, em uma identidade pessoal subdesenvolvida, e não na natureza do amor. Não é o medo da perda que nos destrói.
É negar o medo. Se o aceitamos, se o expressamos, descobrimos que ele desaparece gradualmente. E mesmo quando continua a existir, não nos manipula em comportamentos que sabotam o amor. A inconsciência é sempre um inimigo, e a consciência é sempre a solução. A solução é a percepção, a aceitação, a expressão. Nós devemos sempre ir ao fundo do ciúme. Quando temos ciúme porque nosso parceiro está sexualmente interessado em outra pessoa, ou se está tendo um caso, este princípio se torna extremamente importante. Precisamos ir fundo nos sentimentos, ir fundo nas raízes da dor, e experimentá-la, encará-la, falar dela, e não permanecer em um nível superficial ao falar de ciúme. Uma pessoa que tem um ciúme crônico sem razão aparente, deve-se perguntar: eu estou interessado em ter uma relação extraconjugal? De modo geral, quanto mais sólida é a auto-estima, menos probabilidade se terá de sentir ciúmes.
O maior problema de um casal que planeja ter filhos é como preservarão o relacionamento romântico ao assumirem o papel da mãe e de pai. Estudos revelam que o atrito tende a crescer com o nascimento do primeiro filho e que o relacionamento entre o casal começa a melhorar quando o ultimo filho sai de casa.
Os relacionamentos, assim como os seres humanos, não são imutáveis, mas evoluem através de estágios de desenvolvimento. E em cada caso, os diferentes estágios têm seus próprios desafios e suas próprias recompensas. Quando um novo relacionamento se inicia, há a excitação e o estímulo da novidade, mas há também a ansiedade por não saber se o relacionamento crescerá e permanecerá. Mais tarde, com mais segurança e estabilidade, perdemos o entusiasmo da novidade, mas temos a serenidade dos problemas resolvidos, da compreensão alcançada, da alegria de descobrir que a harmonia tem seu lado excitante. Se temos autoconfiança e sabedoria para ser amigo do crescimento do nosso parceiro, este não precisa ser um perigo, uma ameaça. Mas se nos colocamos contra ele, só chamamos a tragédia. E da mesma forma, se tentamos proteger nosso relacionamento abortando nosso próprio crescimento e nossa evolução, mais uma vez chamamos a tragédia. Privamos de vida nós mesmos e nosso relacionamento. Vida é movimento. Não andar para frente significa andar para trás. A vida só é vida na medida em que avança. O amor tem maior chance de durar quando não lutamos contra o fluxo da ida, mas aprendemos a acompanhá-lo.
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