spoiler visualizarValdeci 20/10/2011
Impossível ler o livro “O Codex 632” do escritor português José Rodrigues dos Santos e não fazer, imediatamente, um comparativo com a obra “O Código Da Vinci” de Dan Brown. Ambos utilizam-se de documentos históricos (confiáveis ou não) para contarem suas histórias. Ambos os personagens principais são peritos em criptografia e estudiosos da história que, de repente, se vêem envolvidos em solucionarem problemas históricos de impacto que irá revolucionar o conhecimento humano até então aceito por todos. Engana-se, no entanto, quem pensa tratar-se de um escritor que se aproveitou da onda do “O Código Da Vinci” para faturar alguns trocados. Até porque, o tema tratado por Jose Rodrigues dos Santos é outro. Existem mesmo algumas similaridades romanescas e tal e até os Templários dão o ar da graça na obra portuguesa. Todavia, param por ai a similaridade e, após a leitura da obra, percebe-se, claramente, que o autor não teve o intuído de enganar ninguém e muito menos ser o dono da verdade e a dizer aos quatro cantos que Cristóvão Colombo era um nobre português judeu. Claro que ele diz isso e até afirma, mas a prova conclusiva ele mesmo faz questão de torná-la difícil de comprovação. Aliás, recurso muito inteligente para dizer o mínimo!
Metafisicamente falando José Rodrigues dos Santos utiliza-se do seu personagem, o historiador e criptanalista Tomás Noronha para dizer que a prova final pode não ser verdadeira e que o documento que encontrou citando textualmente que Cristóvão Colombo nasceu na cidade de Cuba em Portugal não está, como dito na obra, rasurada afinal! Assim, a obra seria meramente ficcional apesar dos inúmeros documentos verdadeiramente existentes nas bibliotecas do Brasil, Portugal, Espanha e por outros paises em que seu personagem percorreu para desvendar a misteriosa identidade de Cristóvão Colombo. Diferentemente de Dan Brown, Tomás Noronha toma outra atitude com o conhecimento adquirido nas suas investigações. Afora este particular, a obra de José R. dos Santos é fantástica! De uma leitura que se faz de um fôlego só não só para se desvendar o segredo do navegador genovês (ou seria português?) mas sobretudo para descobrirmos o desenrolar da história paralela que se segue durante estas investigações. Que, neste particular, está todo o charme e humanismo do personagem Tomás Noronha.
A história paralela que se segue a toda esta barafunda de documentos, suposições, artimanhas e contradições está o ser humano que enfrenta problemas familiares com um casamento pra lá de monótono, uma filha com síndrome de Daw que desenvolveu leucemia e está entre a vida e a morte e uma sueca pra lá de gostosa, sexomaníaca que deixa nosso personagem em situação constrangedora e problemática. Assim, Tomás Noronha nos aparece como um ser humano crível: com suas limitações, seu senso de ética, suas contradições, mas acima de tudo, uma pessoa como qualquer outra que precisa enfrentar seus medos e valores e procurar a verdade onde quer que ela esteja. Diferentemente do personagem do “O Código Da Vinci” que era assexuado e um “Professor” a arrotar conhecimentos e a ser o dono da verdade. Ok, ok, chega de comparações, mas é inevitável, infelizmente!
Mas afinal, do que se trata esta obra? Em última análise, trata-se em se descobrir a verdadeira identidade do enigmático descobridor da América e suas relações íntimas, pra lá de estranhas e contraditórias, entre os rivais históricos daquela época Portugal e Espanha. Historicamente falando, sempre se acreditou que Cristóvão Colombo fosse um italiano nascido em Gênova e que era tecelão de lã inculto. Sendo isso verdade, como explicar que tivesse casado com uma nobre senhorita portuguesa e tivesse relações íntimas com a corte de Espanha e Portugal? Sendo inculto como tinha vasto conhecimento marítimo, de navegação, cartografia, etc… etc… Porque o próprio Cristóvão Colombo nunca assinou seu nome desta forma? Sendo Genovês, porque nunca escreveu no dialeto da sua cidade natal? Afinal, porque ele fazia questão de esconder sua verdadeira identidade, nacionalidade e religião? Se bem que a sua assinatura, cabalística por sinal, continha louvores ao cristianismo, mas não escondia sua origem judaica!
A obra de José Rodrigues dos Santos fez apenas o mar agitar-se e quem sabe algum dia, um navegador experiente e esperto possa trazer-nos sua descoberta e a responder-nos a grande pergunta: Quem foi, de fato, Cristóvão Colombo? Por ora, ficamos a especular sobre este “Códex 632” e a fazermos mais e mais perguntas e encontrarmos mais e mais contradições. O Barco está ao mar!