Fabio451 24/03/2024
“A Janela Quebrada” é mais um romance de Jeffery Deaver, autor de suspenses policiais que ganhou fama principalmente após escrever “O Colecionador de Ossos”, livro que fez muito sucesso e rendeu até um excelente filme de Hollywood, estrelando Angelina Jolie e Denzel Washington. E coincidentemente “A Janela Quebrada” é uma sequência dentro do universo de “O Colecionador de Ossos”, porém com uma história independente. Nela mais uma vez temos como personagens principais o famoso e brilhante criminologista Lincoln Rhyme junto de sua parceira de trabalho e vida, Amelia Sachs. Juntos eles lideram uma poderosa e inventiva equipe de investigação de crimes, com foco especial na análise de provas extraídas da analise de cena de crime.
O livro, portanto, resgata na história uma serie de termos técnicos que, em uma primeira análise, cansar o leitor, mas que, nesta história funciona até melhor do que no livro mais famoso, uma vez que, por ser uma extensão de um universo já apresentado anteriormente, o autor não se aprofunda tanto na terminologia técnica e da uma atenção maior à fluidez da história.
Falando brevemente a respeito do enredo do livro, a história tem inicio quando um primo de Lincoln Rhyme é preso sob a acusação de assalto seguido de assassinato, caso no qual todas as provas indubitavelmente apontam para a sua responsabilidade pelo crime. Por sua fama no mundo investigativo- policial, Rhyme é informado a respeito, e, ainda que a contragosto, se dispõe a analisar as provas do crime. Nesse meio tempo acontece um novo crime em formato similar que leva a equipe a desconfiar que, na verdade, há um criminoso serial à solta que, além de cometer o crime em si, encontrou uma forma de incriminar outras pessoas pela violência perpetrada.
Daí a história se desenrola no melhor formato romance policial, com diversas pistas a serem seguidas, histórias secundárias e reviravoltas inesperadas até se chegar ao clímax do livro, com o confronto final entre a equipe e o criminoso. Ainda que o livro seja muito bem escrito e instigante, naquele estilo em que sempre queremos ler um capitulo a mais antes de dormir para descobrir novas informações, o que leva o livro a ser consumido rapidamente – no meu caso as mais de 500 paginas renderam menos de 5 dias de leitura – ainda assim estes não é o ponto mais marcante do romance.
Na minha interpretação, o ponto mais chocante é a forma como é feita a discussão referente à imensa quantidade de dados que são criados diariamente a respeito de todas as pessoas e como nunca estamos realmente sozinhos ou dentro de nosso próprio espaço privativo. Ainda que seja um romance escrito há mais de 15 anos, a história é profundamente atual, de uma forma que nos leva a questionar os limites éticos da exposição massiva de nossas vidas na forma de rastreamento incessante de todas as nossas atitudes e preferências, quer queiramos ou não que isso aconteça. E mais do que isso, o quanto disso pode ser utilizado por pessoas que queiram cometer crimes, empresas querendo vender produtos com base nos nossos hábitos de consumo ou mesmo governos querendo controlar a população inadvertidamente acessando informações que a imensa maioria das pessoas gostariam que fossem privadas.
Mesmo que ainda hoje pareçam em certa medida discussões provenientes de filmes de ficção cientifica de um futuro distópico, já é uma realidade presente em nossas vidas de hoje. Quantas vezes somos expostos a anúncios em redes sociais de produtos que em algum momento falamos ou pensamos em comprar, ainda que não tenhamos sequer feito uma pesquisa de fato pelo produto. Ou o quanto somos bombardeados por produtos que não tínhamos o menor interesse, mas que, de tanto aparecer em nossa frente, passamos a desejar ou pelo menos ficar intrigado com sua funcionalidade?
Essa é a discussão mais importante no livro e que dá um componente todo especial à história que, de outra forma não seria tão marcante. E por esse motivo torna o livro uma leitura imperdível e recomendado a todos.