Paulo 18/11/2019
Obra impressionante
É curioso, eu sabia de Van Gogh antes de conhecê-lo. Explico: se eu me deparasse com a obra-prima "A Noite Estrelada" ou alguma pintura de autorretrato, eu saberia a autoria de Van Gogh, mesmo não lembrando como eu conhecia ele - talvez tenha sido durante o ensino fundamental. E não é difícil entender isso, pois Vincent Van Gogh criou uma arte inconfundível, genialmente inconfundível, algo sem precedentes e que levaria a arte ocidental a outro patamar.
Eu só vim entender um pouco mais do artista quando assisti ao filme "Loving Vincent", um belo filme feito aos moldes das obras do pintor e que trata dos dias após sua morte; mas, mesmo assim, eu até então não pensava em me aprofundar mais na vida dele. Foi só quando eu decidi me aventurar na literatura biográfica no começo de 2019, e após ler outras duas biografias, que eu encontrei o livro da vida de Van Gogh e decidi ler. E eu não poderia ter feito escolha melhor do que este livro de White Smith e Steven Naifeh, pois o trabalho e a dedicação que eles tiveram na escrita do livro - 10 anos de trabalho - são tão impressionantes quanto a vida do biografado.
O livro é tão rico em detalhes que às vezes eu me perguntava como os autores conseguiram tais informações. Assim como em outras biografias, a fonte principal está nas inúmeras cartas que Van Gogh trocou com seu irmão Theo, mas essa biografia vai além, ela não apenas narra a vida do artista com meras citações das cartas mas ela escreve o contexto delas e as intenções com que elas foram escritas. Um exemplo disso é a relação de Vincent com seu irmão Theodore; este bancou Vincent por quase toda a sua vida, então não é de se surpreender que as cartas que Vincent escrevia a Theo fosse com intenções veladas e de não perder o patrocínio do irmão, então uma carta bem que poderia esconder algumas coisas que o escritor levava dentro de si. E outra, Vincent tinha uma personalidade difícil e as brigas eram inevitáveis, as cartas evidenciam isso muito bem. O livro também descreve muito bem os cenários por onde Van Gogh passou e como isso influenciou em sua obra.
Ainda sobre Theo: quem lê a biografia de Vincent se impressiona com a fraternidade dele. Theo foi o único da família que fez a arte de Van Gogh possível; ele o ajudou financeiramente e moralmente, mesmo nos momentos de maior aperto. Foi quem mais trocava cartas com ele e tinha certa paciência em aguentar certos desaforos do irmão e outras tantas manias. Theo foi o único que esteve com Vincent até os últimos dias de sua vida e mesmo após, "Theo mourned his brother by becoming his brother". Se hoje conhecemos Vincent Van Gogh é em partes pela genialidade de sua arte, mas também pela irmandade de Theo (e posteriormente Jo Bonger, viúva de Theo). Um lindo amor entre irmãos. A vida de Vincent foi certamente difícil, foram anos de desilusão, fracassos, dores e solidão, então Theo foi com certeza quem amenizou tudo isso, na medida do possível.
Enfim, Vincent Van Gogh se entregava de corpo e alma em tudo o que fazia, e na arte não foi diferente. Seus quadros foram pintados nos últimos anos de sua vida, mas foram tantos e com tanta intensidade que fica nítido o sacrifício que ele fez pela sua arte.