Ivandro Menezes 09/08/2020
Uma tragédia agreste
Emissários do diabo, romance do pernambucano Gilvan Lemos, é uma descoberta maravilhosa.
Camilo, o caçula de quatro filhos, único de pele escura como a da família paterna, luta para manter-se na posse do Desterro, pequeno sítio de parcos recursos no agreste pernambucano. Desconfiado, dado a poucas palavras, forte e bruto, resiste ao cerco do tio o Major Germano.
A narração, a partir de variados pontos, vai revelando as origens da briga familiar. Donana, sua mãe, de um maniqueísmo singular, em queixumes, vai contando fatos do passado, semeando a discórdia e o desejo de vingança, nem o amor de Ercília, filha do Major, abranda o rancor que nutre pelo tio e por seus irmãos.
Do rancor brota o ódio que vai consumindo seus dias, sob a iminente ameaça que o cerca.
De escrita precisa, sem desperdícios, personagens complexas e enredo enxuto e bem executado, Emissários do diabo está à altura de clássicos como Vidas Secas. Aliás, em muitos momentos, lembrou-me Graciliano, pelo ambiente, pela linguagem e mesmo na referência à Baleia -aqui a cadela é Candeia.