Resenhas - Um Coração Ardente

Kristine Albuquerque 21/02/2019

Sutil e inesperado.
Um Coração Ardente foi o meu primeiro contato com a obra de Lygia Fagundes Telles, e eu fico imensamente grata e feliz por ser leitora e por ter ido ao encontro desta preciosidade da literatura nacional. Já quero ler tudo o que essa mulher escreveu!

Em alguns aspectos a narrativa me fez lembrar de Clarice Lispector, mas com mais leveza e alguns toques de fantasia. Em outros, pensei na poesia de Manoel de Barros, que ressignificava a simplicidade do cotidiano de modo tão singular. Mas as minhas referências não surgiram para atrapalhar, talvez apenas para diminuir o estranhamento inicial, e logo identifiquei um estilo próprio da Lygia: um equilíbrio entre delírio e lucidez, sonhos e pesadelos, uma linguagem rica em simbolismos e afetos dos mais diversos.

Os registros poéticos na prosa soam como naturais, como se os acontecimentos do dia a dia fossem vistos por uma lupa e fossem eles mesmos um ser e fazer poético por essência. Aliás, não é porque é simples que não pode ser imenso, e essa dança entre o óbvio e o não óbvio está presente em todos os contos.

O livro reúne 10 contos que foram publicados anteriormente entre 1958 e 1981. Não consigo definir apenas um ou dois contos favoritos, então vou destacar alguns: Um Coração Ardente; Biruta; Emanuel; A Estrela Branca; O Encontro.

Há ainda um posfácio enriquecedor escrito por Ivan Marques (professor de literatura brasileira) contendo várias ramificações interpretativas, que me fez ficar ainda mais encantada com o que eu havia lido. Sobre a escrita de Lygia, ele diz: são sobre coisas invisíveis, mas vistas sempre de perto - e com o coração ardente.

Alle_Marques 24/12/2023

Um coração primitivo!
...
[...] Parei na esquina e baixando o olhar vi brotando entre as pedras da sarjeta uma pequenina flor de cabeça vermelha. Pensei em Alexandra com suas miçangas. Inclinei-me, Minha florzinha tonta, você é tão mais importante porque você está viva e que extraordinária experiência é viver! Aproximei-me de uma árvore com sua frondosa folhagem. Apertei no peito o coração, era isso, Um coração primitivo! disse em voz baixa e quando encostei a face no tronco da árvore foi como se tivesse encostado a face na face de Deus. [...]
...
Gostaria muito de escrever uma resenha falando e dando espaço para cada história separadamente, como já fiz antes, pra mim uma resenha de um livro que reúne contos, só funciona se for assim, mas infelizmente isso não vai ser possível dessa vez, já tem um intervalo grande entre o momento que terminei esse livro e essa resenha, e como a falta de tempo está pesando bastante, uma releitura agora não seria viável e pesquisar seria exaustivo. Então serei breve e deixarei o trabalho mais elaborado a cargo da minha ‘eu’ do futuro.

Entre todos os contos reunidos aqui, só conhecia “Biruta”, pra mim ele é de longe o melhor, o mais comovente, sensível e morável, mas não que isso tire o mérito dos outros, todo o trabalho da Lygia é assim, ela escreve muito bem, tem um jeito original e criativo de desenvolver suas tramas, além de saber emocionar quando quer e nos deixar pensativos em vários momentos. Essa coletânea reúne contos bem interessantes seus, que valem a leitura e, no mínimo, o reconhecimento.
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31° Livro de 2023, 42ª Resenha de 2023
Desafio Skoob 2023

Mari 30/10/2023

Coração ardente
Eu não consegui me envolver muito com os contos. Alguma coisa me trava, talvez eu não esteja no momento para me entregar a leituras como essa, estar ?dentro da cabeça? do narrador. No fim, no fim, só gostei mesmo de 2 contos: Biruta e Emanuel.

Thiago275 03/10/2023

Bons contos
Publicado pela primeira vez em 2012, Um Coração Ardente reúne contos de Lygia Fagundes Telles escritos entre 1958 e 1981.

O que me encanta em Lygia, seguramente a minha escritora favorita, é a sua capacidade de dizer muito nas entrelinhas, sem subestimar o leitor, e é isso que vamos encontrar nas dez histórias reunidas aqui.

Nessa coletânea, vamos encontrar histórias com tramas realistas e tocantes, como em Dezembro no Bairro (um conto de Natal) e Biruta (em que um menino órfão só tem como amigo um cãozinho de estimação que vai ser tirado dele).

Também podemos ler histórias mais intimistas, como a que dá título ao livro, em que o protagonista se apaixona por uma mulher sem saber que ela é uma prostituta.

E temos contos fantásticos, beirando o gênero do terror, como A Estrela Branca, em que o protagonista fica cego, recebe um transplante de olhos, mas não consegue controlá-los. Um dos pontos altos do livro e da carreira da autora, na minha opinião.

Lygia tinha o dom de encarnar verdadeiramente os mais diversos personagens em seus contos, nos fazendo mergulhar no seu íntimo e nos seus pensamentos, como se houvesse uma janela aberta para o leitor olhar a mente do protagonista.

As histórias de Lygia sempre me deixam com a pulga atrás da orelha, ela faz questão de não entregar tudo ao leitor. Seus contos merecem várias e várias releituras, e isso contribui para o lugar especial que ela ocupa no meu coração de leitor, que é, em grande parte graças a ela, um coração ardente.

qat 11/06/2023

Amei
Honestamente falando, vejo a Lygia Fagundes Telles como uma figura materna.
Essa mulher escreve tão bem ??

Karoline67 03/03/2021

Lygia impecável... De novo!
Acho que entrei numa paixão louca por Lygia. Tudo parece chato depois de lê-la pela primeira vez: preciso de mais e mais dela. Incrível, de novo!

Otavio.Franco 12/03/2023

Finalmente reli esse livro. Esse foi um dos meus primeiros contatos com a prosa da Lygia (o primeiro mesmo foi o conto "Venha Ver o Pôr do Sol"), e senti um misto de emoções.
"Biruta" continua me emocionando. Histórias envolvendo cachorros me afetam muito.

Fernando 01/08/2023

O melhor!
Li todos os contos da Lygia, e esse livro para mim é o melhor! E o segundo melhor é Antes do Baile Verde

Bela 25/11/2020

a lygia não dá aspectos de exagero aos contos, mas os relata de maneira rica em detalhes que muitas vezes passam despercebidos por nós. é tanto uma obra singular e fundamental para quem já ama a autora, quanto uma ótima porta para que o leitor se oportunize a sua literatura.

oceanwaves 25/09/2023

É uma coletânea muito interessante cheia de contos nos quais os sonhos e o imaginário se fazem muito presentes na realidade, sendo difícil separar um do outro.

Charleees 28/03/2023

UM CORAÇÃO ARDENTE é um livro de uma leitura gostosa, leve, porém, bastante reflexiva (é meu segundo livro da Lygia que leio e só tenho flores para oferecer e amores a contar) são contos com finais sempre surpreendentes (e com surpreendentes, quero dizer que alguns contos, a maioria, tem finais abertos, suspensos, deixando ao leitor a responsabilidade de conclusão) e algumas tramas que beiram o realismo fantástico, que talvez nas mãos de outro escritor, se não Lygia, acabaria sim caindo na fantasia, o que não acontece aqui.

Meu conto favorito é o que dá título ao livro: Um coração ardente. "Quando as emoções falam mais alto do que a lógica a coisa vai ficando perigosa". É um conto que fala sobre sentir demais, amar demais, sofrer demais, pessoas sensíveis demais, tão lindo quanto poético.

Outro conto que posso destacar aqui é o de número 4: Biruta, que narra a história do pobre menino Alonso e seu cachorrinho que dá título ao conto, é um conto tão singelo e bonito que foi impossível segurar as lágrimas no final.

* Resenha editada em Abril de 2018

Kristine Albuquerque 21/02/2019

Sutil e inesperado.
Um Coração Ardente foi o meu primeiro contato com a obra de Lygia Fagundes Telles, e eu fico imensamente grata e feliz por ser leitora e por ter ido ao encontro desta preciosidade da literatura nacional. Já quero ler tudo o que essa mulher escreveu!

Em alguns aspectos a narrativa me fez lembrar de Clarice Lispector, mas com mais leveza e alguns toques de fantasia. Em outros, pensei na poesia de Manoel de Barros, que ressignificava a simplicidade do cotidiano de modo tão singular. Mas as minhas referências não surgiram para atrapalhar, talvez apenas para diminuir o estranhamento inicial, e logo identifiquei um estilo próprio da Lygia: um equilíbrio entre delírio e lucidez, sonhos e pesadelos, uma linguagem rica em simbolismos e afetos dos mais diversos.

Os registros poéticos na prosa soam como naturais, como se os acontecimentos do dia a dia fossem vistos por uma lupa e fossem eles mesmos um ser e fazer poético por essência. Aliás, não é porque é simples que não pode ser imenso, e essa dança entre o óbvio e o não óbvio está presente em todos os contos.

O livro reúne 10 contos que foram publicados anteriormente entre 1958 e 1981. Não consigo definir apenas um ou dois contos favoritos, então vou destacar alguns: Um Coração Ardente; Biruta; Emanuel; A Estrela Branca; O Encontro.

Há ainda um posfácio enriquecedor escrito por Ivan Marques (professor de literatura brasileira) contendo várias ramificações interpretativas, que me fez ficar ainda mais encantada com o que eu havia lido. Sobre a escrita de Lygia, ele diz: são sobre coisas invisíveis, mas vistas sempre de perto - e com o coração ardente.

HonorLu 22/12/2023

Última publicação inédita
Comecei Um Coração Ardente com uma expectativa desgostosa. Hoje sabemos que quando Lygia o publicou, já estava com seus 94 anos. Os contos aqui me parecem uma espécie de recapitulação de toda sua obra. Alguns mais voltados às memórias, outros mais experimentais. Encerra-se o livro com o conto As Cerejas, no qual o neosimbolismo tão apontado no legado da autora se faz tão presente que beira o caricato. Teria sido de propósito? Nunca saberemos. Que felicidade poder encerrar a leitura dos livros de contos de Lygia Fagundes Telles. Meu próximo passo é concluir os contos esparsos publicados na coletânea de 2019.