anapachecoeumsm 15/02/2023
Moderno, mas não tanto
São Paulo não mudou tanto assim. Para aqueles que gostam de se aventurar por leituras nostálgicas e até "clássicas" (independente de escola) esse livro é um deleite. É curioso, gostoso e imagético, principalmente para os que vivem em São Paulo, ver a cidade aos olhos antigos, ver as ruas sendo citadas, os costumes que pouco mudaram.
A edição que tenho é barata-"mente" preguiçosa, com erros nas notas de rodapé e citações de pronúncia italiana que pouco traduzem o que queremos saber.
Importante também entender que, para um livro que se propõe a ser jornalístico (meio autobiográfico) pouco é um e sequer é o outro. Nada nos conta sobre pessoas além de citações de pessoas reais, nada notícia que realmente nos embale ou marque e nem se enquadram em contos, com finais mais sem gosto que chuchu e preguiçosos.
A ideia de construções sintáticas curtas é interessante, funciona realmente como takes de cinema, como dizem na apresentação. Inclusive, ouso dizer, se ninguém mais o fez, que a rapidez prosaica se deve a rapidez idiomática na fala dos paulistanos. As frases curtas, rápidas, ávidas de uma cidade que desde sua origem não para.
Essa fluidez dos contos permite que o livro seja lido rapidamente, em algumas horas, um dia talvez. O que tenta rebuscar os contos para uns, para outros ficaram datados; o que não é de tudo ruim, já que nem tudo que é datado merece rejeição e sim curiosidade, como o charuto com nome de poeta e os carros antigos.
No entanto, a apresentação que se faz moderna coloca escravos e seus descendentes com termos pejorativos, preferindo rebaixá-los (uma minoria já tão oprimida) pela modernidade de defesa do que chamam de mamelucos e filhos de italianos. Flerta inclusive com um patriotismo perigoso, no limiar entre o fascismo italiano e nossa ditadura. Brincando com isso de maneira liberal revestida de modernidade. Uma ironia mordaz e perigosa.
Coloca os mestiços numa posição de donos da pátria, que de bom grado aceitam os imigrantes, esses sim "feitos para São Paulo". Talvez eu gostasse mais se fosse de família de imigrantes? Não sei.
Não gostei do tom, não gostei da apresentação e, para um quê moderno pra eles, envelheceu mal demais. Se refere a pessoas negras de maneira pejorativa algumas vezes, o que me faz problematizar que: revolução em arte, sem luta de classes é apenas um dadaísmo com outro nome.
Alguns contos são divertidos, como o Carmela ou Corinthians (2), mas terminam de maneira escabrosa e me pego com pé atrás, para além desses motivos, de que Oswald estava certo na briga com Alcântara.
Mais que isso, uma São Paulo tão linda, tão rápida, com uma história de luta entre diversos tipos de pessoas não deveria rivalizar e sim abraçar todo tipo de gente. Mas daí, o lance biográfico funciona, pois muitos imigrantes eram extremamente preconceituosos, o que reforça a falta de harmonia na multiplicidade do povo brasileiro.
Mostra Corinthians, Barra Funda, Lapa, Avenida Paulista, o início do Palmeiras e a força de um povo europeu rejeitado. Mas se for pra bater no peito e dizer: moderno. Não é esse livro que o faz.