Nica 17/12/2012Fim de Tarde com Leões Sempre tive uma atração forte por romance epistolar, ultimamente têm surgindo alguns interessantes, mas este que acabo de ler é no mínimo fascinante. Fim de Tarde com Leões me seduziu, não pela trama em si, ou pela narrativa, ou pelos personagens, mas pela forma pelo qual foi imaginado, escrito e concretizado. O romance foi idealizado pela jornalista pernambucana, Paula Fontenelle que pretendia escrever um romance epistolar escrito a quatro mãos, compartilhado. Depois de combinar os detalhes com um amigo, que preferiu usar o pseudônimo de P.W. Guzman, os dois seguiram com o plano, escrever um romance através de cartas e nada deveria ser combinado antecipadamente. A comunicação entre eles seria por emails desde a construção dos personagens até o desenrolar da trama, do início ao fim. Definitivamente, um romance aberto. Eles iriam formando a trama de acordo com o email enviado ou recebido, era a criatividade e a surpresa de cada email recebido que formaria a trama.
Surpreendentemente deu certo! A trama foi formada e o romance seguiu livremente, apesar de notar alguns deslizes ou combates truncados. Cada um formou seu personagem e lançava ao outro o tema para seguir na trama. O que eu senti com isso foi um jogo, um jogo engraçado, o qual cada jogador utilizava cartas para determinar o romance. Assim foram criados os personagens Pedro e Lúcia, um casal que fora casado no passado, mas depois da morte do filho por um acidente, eles se desentenderam e se separaram. Um dia ela resolve retomar o contato com seu ex-marido que morava em outro país. Muito interessante, pois na primeira carta que Lúcia escreve para Pedro ela fala da saudade que sente dele e de um filho que já não existe. Quando ele responde, já determina que este filho tinha 14 anos quando morreu em um acidente de carro e a culpa por isso. E assim vai, ela joga e ele joga, cada um vai dando um mote e o outro vai formando algo que combine com aquilo que lhe foi entregue. Como um jogo de ping-pong ou tênis, um recebe a bola e tem que defender numa estratégia certeira.
O que me chamou mais atenção no livro foi o resultado de cada jogada, a disputa, pois o tal do P.W. Guzman é inteligente, astuto, sagaz, nunca teve o mínimo de pena de Paula Fontenelle, sua companheira ou oponente. Muitas vezes, ela só se defendia, outras, tentava dar uma jogada mais certeira ao rebater algo que parecia assustador e inesperado. Entre saques e obstruções vamos conhecendo a vida de ambos os personagens, seus problemas, seus sonhos, seus segredos. Não se pode deixar de rir, se indignar e até se revoltar com o desenrolar da narrativa, mas por nenhum momento eu me vi livre de observa os fundamentos impostos para a formação do romance, ou seja, que Pedro e Lúcia eram apenas a bola da jogada de Guzman e Paula.
Para finalizar, eu digo que temos aqui um romance diferente. E como eu adoro uma novidade, e sou adepta aos estilos diferente de criação, apoio e parabenizo aos autores, principalmente a Paula Fontenelle, pela coragem e pela determinação em fazer algo diferente. Entretanto, fiquei meio que decepcionada com P.W. Guzman, não pelo fato de se postar incógnito, acredito que esse fato até dê um glamour a mais ao romance, mas por ele não ter dado muito chance de defesa a sua oponente. O jogo foi duro para ela.
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