Carol 16/11/2016"Certamente um dos piores efeitos da guerra: torna-nos insensíveis, endurece o coração."Alberto Moravia foi um dos nomes mais importantes da literatura do século XX. Grande parte de sua obra versa sobre a decadência da burguesia italiana, que valorizava o binômio dinheiro/sexo, cada vez mais, como instrumento de poder.
Em A Ciociara, romance de 1957, vemos os horrores da Segunda Guerra Mundial sob uma perspectiva feminina: é Cesira, uma mulher humilde e de caráter, quem narra os acontecimentos que se sucedem.
Fugindo da carestia e de uma Roma ocupada pelos alemães e fascistas, ela e sua filha, Rosetta, partem em direção ao campo - uma região ao leste de Roma, a Ciociara do título. Mas até as cidades bucólicas do interior da Itália sofrem as consequências da guerra. A fome, o frio, o terror estarão presentes durante os nove meses em que esperam pela chegada dos aliados, seus "libertadores".
O próprio Moravia passou por situação semelhante. Ele e a esposa, contrários a Mussolini, tiveram que se esconder durante o último ano da guerra. Talvez, dessa experiência, decorra a força de sua narrativa, realista, detalhista, dura.
Uma história sobre privação, violência, perdas. A devastação física e psicológica que uma guerra inflige ao caráter das pessoas. Da mesma maneira, uma história sobre superação, companheirismo e aceitação. A Ciociara é um romance sobre angústia e esperança. Um livro fundamental.
"São coisas difíceis que é difícil explicar: normalmente, quem vive na cidade, onde há armazéns cheios de tudo, não acumula provisões em casa, pois sabe que em qualquer altura que precise vai às lojas e encontra-as bem fornecidas. Assim convence-se de que comprar nas lojas o que lhe faz falta é uma coisa absolutamente natural, tal como as estações do ano, a chuva e o sol, a noite e o dia. Ilusão! As coisas podem faltar de repente, como faltaram de fato naquele ano, e então todos os milhões do mundo não chegam para comprar um pedaço de pão, e sem pão morre-se de fome." Pág. 86