spoiler visualizarGabriela Dunham 08/07/2020
Quando o "american dream" se transforma em pesadelo
Dominic Molise é neto de imigrantes italianos que imigraram para os Estados Unidos em busca do famoso sonho americano e das promessas de uma vida próspera e confortável. Contudo, quatro anos após a Grande Depressão, o american dream nunca pareceu tão distante de Dominic e sua família. O pai é pedreiro e está desempregado há 7 meses, sobrevivendo a partir de trocados ganhados (e também perdidos) em apostas de sinuca num bar, a mãe é católica fervorosa e pouco tem ou almeja além de sua fé e de que o marido pare de sair todas as noites, a avó é ranzinza e sonha em voltar para a Itália, os irmãos aprecem pouco, mas sabemos que cada um possui um sonho. O de Dominic é se tornar um famoso jogador de beisebol, graças ao seu potente braço esquerdo, por ele chamado de O Braço, com letra maiúscula, uma entidade com personalidade própria. O Braço é a dádiva concedida à Dominic, o qual se descreve como um jovem baixinho, de pés e dentes tortos, orelhas de abano, rosto sardento e pouca instrução (embora superior à de seus pais). O Braço é sua esperança de deixar aquela existência pobre e entendiante e escapar do futuro que lhe é predeterminado pelo pai, o de tornar-se pedreiro. Incentivando o sonho de Dominic há o amigo Kenny, irmão de Dorothy - por quem Dominic nutre uma paixão não correspondida - e de uma família abastada, com quem Dominic faz planos de escapar para a Califórnia, onde faria uma seleção - e passaria, claro - para entrar num clube profissional de beisebol. O livro termina de forma quase abrupta: o protagonista não tem o dinheiro necessário para a viagem nem a companhia do amigo, mas tão pouco sente que pode permanecer na cidade depois de descobrir o sacrifício feito pelo pai para arranjar 25 dólares, metade do valor que ele precisava para ir à Los Angeles. Pode ser um final triste ou esperançoso, isso depende da imaginação do leitor.
Mesmo conhecendo pouco da história do John Fante, acredito que o livro seja, em muitos aspectos, autobiográfico, sendo ele próprio um descendente de italianos, pobre, que cresceu no Colorado e sonhava com a Califórnia, mudando apenas o sonho: em vez de jogar beisebol, publicar livros. A escrita é tão fluida que, mesmo que não fosse a minha intenção inicial, acabei lendo num dia só, envolvida pela história de Dominic, carregando a esperança de que, apesar de 1933 ter sido um ano ruim, 1934 fosse um ano bom.