Luiz 13/06/2023
O novíssimo Admirável Mundo Novo 2.0
Livro: A Ilha
Autor: Aldous Huxley
Este livro conta a história de Will Farnaby um jornalista que, após o trauma da morte de Molly, sua esposa, dedica-se a fazer cobertura sobre a história do Coronel Dipa e a mudança de regime na localidade de Rendang-Lobo e sua ligação com a ilha misteriosa de Pala, e para isso ele decide ir visitar a própria ilha, mas no decorrer dos eventos seu barco encalha e acaba ferido na praia da ilha, sendo socorrido por Mary, uma criança com maturidade e conhecimentos muito além de sua idade, estando ela na posição de alguém que consegue minimamente estar numa posição de inteligência superior à Will, consegue ainda prestar os primeiros socorros "psicológicos" do trauma do acidente de barco, na sequência seu avô, o Dr MacPhail, e Vijaya socorrem Will o levando para repouso.
Assim inicia-se a jornada de Will na ilha de Pala, aonde por um lado irá com curiosidade genuína entender o que torna aquela ilha tão diferente e superior à tudo que ja viu na vida, e por outro lado, participar de uma verdadeiro "jogo de interesses" envolvendo tanto as ligações do Coronel Dipa com o próximo governante de Pala e a atual rainha, e o embate ideológico deles com os habitantes da ilha, ao passo que quer sanar as pontas soltas de sua matéria para o jornal.
Não há como não comparar essa leitura com Admirável Mundo Novo, e o primeiro romance, do autor com A Ilha, o último romance e penúltimo livro de Huxley. Segundo relatos, o próprio autor os cola nessa comparação ao dizer que o primeiro livro tratava-se de um final pessimista sendo uma distopia, enquanto esse livro possui uma pegada mais otimista e utópica propriamente dita.
Arrisco dizer que, de fato, não é possível entender um livro sem ler o outro, e a comparação é relativamente válida, ainda que Admirável Mundo Novo tenha conquistado os corações dos leitores, é um livro com falhas, coisa que no próprio prefácio o autor assume não ter sido tão cuidadoso com o livro, mas que também optou por não retirar essas falhas pois mostram o seu pensamento da época, em A Ilha, vemos um Huxley muito mais experiente e maduro, o enredo é melhor trabalhado, a história possui mais mistérios e reviravoltas, os personagens são melhor trabalhados, a parte conceitual do livro é melhor explorada, é sem dúvidas um livro muito superior ao anterior, ainda que seja injustiçado por ser relativamente mais cansativo no desenvolvimento da história, ou confuso para se entender bem a trama da história, ou até mesmo ser "professoral" em demasia nas falas e explicações dos personagens.
"Essas pessoas em Pala não creem em Deus. Elas creem apenas no Hipnotismo e no Panteísmo e no Amor Livre."
(Rani / Aldous Huxley, p.84)
"As família palanesas eram capazes de ser tão vitimizadoras, tão afeitas à tirania e à mentira quanto são as de vocês hoje em dia. Na verdade, elas eram tão terríveis que o dr. Andrew e o Rajá Reformador decidiram que algo deveria ser feito a respeito. A ética budista e o comunismo primitivo da vida em comunidade foram habilmente levados a servir os propósitos da razão, e numa única geração todo o sistema da família mudou radicalmente."
(Susila / Aldous Huxley, p.126)
Huxley possui ligações fortes com o Socialismo Fabiano, a obra Admirável Mundo Novo e Regresso ao Admirável Mundo Novo mostram isso, existe nessa visão uma ideia de progressiva engenharia social capaz de moldar o mundo num tipo de socialismo diferente do tradicional ramo da União Soviética (para entender melhor isso leia as obras de H.G. Wells), porém nesta última fase da vida de Huxley ele já está imerso na cultura oriental, então o budismo, o hinduísmo, o vedanta, o tantra e etc, já se misturam a perspectiva inicial do autor, assim obras como Portas da Percepção, Moksha e Filosofia Perene, tornam-se essenciais pra compreender o novo modelo de sociedade que passa na cabeça do autor.
"[...] Eles [os primeiros professores] não resistiram, e havia uma boa razão: nada de precioso tinha sido atacado. Seu budismo fora respeitado. E tudo de que precisavam se livrar, segundo lhes foi pedido, eram os contos de fada e as crendices que tinham por ciência. Em troca disso, eles obtiveram uma infinidade de fatos muito jogo mais interessantes e teorias muito mais úteis. E essas coisas fantásticas de seu mundo de poder e conhecimento e progresso ocidentais eram agora combinadas às teorias do budismo (e de certa forma submetidas a esse budismo) e aos fatos psicológicos da metafísica aplicada. Não havia de fato nada nesse programa ao estilo "o melhor dos dois mundos" que pudesse ofender as sucetibilidades de mesmo os mais sensíveis e ardentes patriotas religiosos.
[...]
Eles não teriam de desistir de bada das coisas que são realmente importantes para eles. Os não cristãos poderiam seguir pensando sobre o homem; e os cristãos, adorando a Deus. Mudança nenhuma, exceto que Deus teria de ser pensado como imanência; e o homem, como um ser potencialmente autotranscendete."
(Sra. Narayan /Aldous Huxley, p.309)
Temas centrais em que Huxley trabalhou em Admirável mundo novo voltam em uma roupagem muito mais inteligente:
? Psicologia e engenharia social
? Abolição do Deus cristão
? Manipulação genética
? crítica ao Cristianismo
? uso de medicamentos milagrosos em forma de pílulas
? crítica ao modelo capitalista
? tolerância e endosso ao modelo socialista
? eugenia
Além de muitos e muitos outros temas tornam os dois livros quase como imagens refletidas no espelho. Sem dúvida alguma afirmo que quem não gosta desde livro por achar inferior ao Admirável Mundo Novo, com toda certeza não deu a devida atenção ao livro, pois tudo o que o primeiro Livro possui A Ilha possui, e de forma muito melhor trabalhada.
É um livro que possui um diálogo gigantesco com a cultura New Age da época de Huxley e da sentido ao pensamento atual do Ocidente em grande medida.
Recomendaria a leitura dos livros:
1) A Falsa Aurora - Lee Penn
2) O Ponto de Mutação - Fritjof Capra
3) A Conspiração Aquariana - Marily Ferguson
4) A Nova Era e a Revolução Cultura - Olavo de Carvalho
5) Filosofia Perene - Aldous Huxley
6) A Conspiração Aberta - H.G. Wells
7) Deuses Humanos - H.G. Wells
Recomendo a leitura de A Ilha, ainda que eu discorde de muito do que representa Aldous Huxley.
"Todos eram bons budistas, e todo bom budista sabe que criar e cuidar é pura e simplesmente postergar a morte. Faça o que puder para cair fora da Roda do Nascimento e da Morte e, por Deus, não continue pondo ainda mais vítimas sobre ela. Para um bom budista, o controle de natalidade faz sentido num nível metafísico."
(Ranga / Aldous Huxley, p.118-119)