Pietra 26/05/2023
Como sempre, uma viagem
O mundo de Philip K. Dick provou-se, mais uma vez, ser de outro universo ?e o autor não falha em te levar nessa viagem nem por um segundo.
O Homem Duplo conta a história de um agente de narcóticos infiltrado a fim de descobrir a fonte de uma das drogas mais destrutivas da atualidade, a Substância D. Vivendo com viciados e, eventualmente, se tornando um, o agente secreto Fred (sob o nome de Robert Arctor) investiga seus colegas de moradia e suas fontes por meio de um aparelho de gravação 3D.
Ao se ver no aparelho, Fred não se reconhece, e fica se perguntando qual deles seria ele.
A história, quase autobiografica, nos leva até os cantos mais profundos do mundo das drogas, e nos convida a pensar em neuropsicologia e psicose enquanto acompanhamos a derradeira recaída de Fred ao passar de páginas. Uma nova perspectiva não só da vida como um viciado, dos problemas, dos medos e preocupações, mas também das grandes corporações envolvidas nisso.
Uma crítica social das melhores formatadas, um estudo baseado em ciência factual sobre psicose e um exemplo nato de até onde se pode ir quando, como o autor mesmo disse, "brincamos demais".
O livro é pesado e em momentos difícil de ler, ele não tem uma moral final, e muito menos (mas muito mesmo) um final feliz. A carta do autor traz a clareza necessária para fecharmos o livro com um aperto no coração e um nó na garganta.
O estudo adicionado nessa versão da Aleph faz com que percebamos a genialidade de Dick, e o quanto a Ficção Científica é um gênero de extrema importância.
Uma leitura fluida, inteligente, e reflexiva. Difícil por tratar de temas os quais nós geralmente não queremos saber sobre, mas de absoluta necessidade.