Estação Perdido

Estação Perdido China Miéville




Resenhas - A Estação da Rua Perdido


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Antonio Luiz 09/06/2016

Fantásticas esquisitices
Lançada originalmente em 2000, a obra mais conhecida de China Miéville, Perdido Street Station, acaba de ser publicada no Brasil pela Editora Boitempo, com o título de "Estação Perdido". A tradução de José Baltazar Pereira Júnior é notavelmente clara e fluente para um romance tão coalhado de coloquialismos e neologismos.

Trata-se da segunda obra de ficção do autor e a obra fundadora e o paradigma do subgênero da literatura fantástica definido como New Weird por Jeff e Ann VanderMeer no prefácio da antologia homônima da Tachyon. Um de seus atributos é combinar fantasia tradicional, horror e ficção científica à maneira da Weird Fiction popularizada pela revista estadunidense Weird Tales dos anos 1920 aos 1950, que teve H. P. Lovecraft como seu autor mais conhecido.

Outra é ter o caráter de urban fiction, expressão que em inglês evoca o lado obscuro das cidades, o submundo da marginalidade, da violência e da prostituição: um subgênero literário afim ao rap e ao funk que nasceu dos guetos e poderia ser chamado em português de “ficção das ruas”.

Um terceiro traço é a ambientação em um “mundo secundário” totalmente imaginário, em contraste com elementos fantásticos inserido em um cenário mais ou menos histórico ou realista, como é o caso da fantasia histórica e do steampunk. Por fim, ao contrário da alta fantasia tradicional, o New Weird repudia a idealização romântica para explorar uma espécie de realismo social no sentido de revelar através de um prisma fantástico as contradições, as incertezas, os conflitos e a corrupção do mundo industrial moderno.

Essa caracterização corresponde precisamente ao que Miéville fez neste livro e em suas sequências ambientadas em um mundo chamado Bas-Lag (talvez por ter muito de bas-fond). Seu propósito explícito foi criar uma literatura de fantasia capaz de romper com o modelo de O Senhor dos Anéis de J. R. R. Tolkien, que considera alienante e reacionário.

No cenário do romance, a cidade de Nova Crobuzon, os humanos parecem ser a maioria, mas pelo menos quatro outras espécies são suficientemente numerosas para ter seus próprios guetos: as khepris, que têm corpo de mulher, mas cuja cabeça é um grande escaravelho, os vodyanois, seres anfíbios semelhantes a grandes rãs, os cactáceos, que são cactos ambulantes de forma vagamente humana e os garudas, seres alados semelhantes a grandes águias com corpos humanoides.

Muitas outras, descritas ou apenas sugeridas, estão presentes em menores números na própria cidade ou em outras partes desse mundo e algumas são poderosas o suficiente para ter papel importante na trama.

Muitas dessas espécies aludem a mitos ou à literatura fantástica. Khepri era um deus egípcio com cabeça de escaravelho, os vodyanoi, espíritos aquáticos do folclore eslavo e Garuda, um benévolo deus-ave indiano. Mas a atitude de Miéville em relação a essas fontes é, em suas próprias palavras, “pirataria filisteia”. Desenvolve as características de cada espécie de maneira minuciosa e original, mas sem o menor respeito pela história de seu simbolismo.

As khepris, por exemplo, nada têm a ver com o deus egípcio do nascer do Sol e do renascimento: vivem em colônias e fazem suas acomodações e suas obras de arte com o próprio muco que segregam e convivem com machos que são simplesmente grandes escaravelhos sem inteligência. Habitam guetos de Nova Crobuzon como sobreviventes de um Holocausto meio esquecido que aniquilou sua espécie em seu continente natal.

Não se trata de um mundo pseudomedieval de espada e magia, como os de Tolkien, C. S. Lewis, Robert Howard e outros autores mais conhecidos do gênero. Nova Crobuzon é uma cidade industrial, uma mistura sombria, corrupta da Sprawl de William Gibson com Gotham City e a Londres vitoriana.

Há fábricas e máquinas a vapor, há robôs com cérebros mecânicos e há muitos humanos “refeitos”, com partes do corpo distorcidas, substituídas ou complementadas por implantes de partes de animais ou próteses mecânicas a vapor. Há trens suspensos e zepelins armados com canhões, bem como armas equivalentes a bombas atômicas, mas as armas mais usuais são mosquetes e pistolas de pólvora de um só tiro.

E há também magia, que não tem caráter sobrenatural nem é monopólio de místicos, mas uma força a ser estudada e manipulada por cientistas que combinam caldeiras, pistões e feitiços em recursos equivalentes a computadores e microscópios eletrônicos.

Essa mistura tem um resultado paradoxal. Passível de ser apreendida e usada pela razão científica, a magia torna-se uma força natural a mais, embora possibilite efeitos bizarros. Ao perder o caráter inexplicável e maravilhoso, deixa de ser propriamente “mágica”. Se certas histórias apresentadas como ficção científica, como Star Wars, são no fundo fantasia disfarçada, este romance de fantasia é ficção científica disfarçada, se podemos chamar assim uma história ambientada em um universo com leis bem diferentes das que conhecemos.

O autor vê na complexidade um valor em si mesmo. “Histórias, leis, culturas, estéticas – mundos – são colossais e colossalmente complexos. Não há como contar a história de um mundo todo. Não importa o quão detalhada seja sua linha do tempo, ou cuidadosamente ilustrado seu bestiário, não há como explicar tudo. (...). Sem problemas. Na verdade, isso é bom – é choque cultural. Dando certo, isto comunica que há um mundo além do livro, no qual ocorre a história, em vez de uma história com alguns acessórios de fantasia jogados dentro (...) É paradoxal tentar descrever um mundo que seja simultaneamente convincente e totalmente fantástico. Mas uma ideia une ambos os impulsos: o reconhecimento de que as coisas não são certinhas e arrumadinhas ou monolíticas, mas complexas e contraditórias, possíveis, constantemente surpreendentes e muitíssimo mais interessantes em virtude disto. Isto poderia descrever a melhor e mais estranha fantasia, bem como o mais duro retrato da realidade. É por isto que Kafka é um realista, e é por isto que os dois jeitos são possíveis.”

A proposta soa fascinante, mas na prática se revelou excessivamente ambiciosa. Neste romance, a complexidade de Bas-Lag aparenta menos a realidade contraditória de uma civilização ou mitologia real que uma colcha de retalhos interessantes, mas nem sempre bem costurados, assim como seus “refeitos”.

Cada detalhe é, em si mesmo, instigante e bem elaborado, mas o todo resulta sobrecarregado. As coisas são como são em seu mundo menos por razões lógicas ou simbólicas do que para exibir criatividade e buscar efeitos um tanto maneiristas de choque e estranheza. Falta necessidade e organicidade, tanto ao cenário quanto aos conflitos e à trama que nele se desenvolvem.

Embora Miéville diga admirar o caráter contraditório e surpreendente da realidade, descreve seus cenários sempre sob um prisma de monótona desesperança, corrupção e decadência, com uma adjetivação carregada e repetitiva – “fedorento”, “encardido”, “podre”. Também recorre com demasiada frequência ao Deus ex Machina, ou seja, à intervenção inesperada de forças externas à lógica do enredo.

Personagens são acompanhados e abandonados de maneira casual e os desenlaces anticlimáticos e abruptos. A trama lembra os acasos e improvisos de um role-playing game e até inclui três personagens secundários apresentados como típicos “aventureiros” do jogo Dungeons & Dragons, em busca de “ouro e experiência”.

É demasiado visível a mão pesada do autor a forçar situações violentas ou comoventes. Alguns leitores apontaram o caráter “vitoriano” do enredo, com muita razão. Há pormenores inconcebíveis em uma obra propriamente vitoriana, tais como sexo “pervertido” entre espécies ou com prostitutas “refeitas”, mas é curioso como o enredo por vezes soa puritano.

Apesar de o autor descrever uma lei corrupta e uma moral hipócrita, as misérias dos personagens sempre são consequências de alguma transgressão tola, como nos contos e novelas moralistas do século XIX ou nos filmes de horror e catástrofe de Hollywood.

Se o autor pretendeu fugir ao maniqueísmo e à idealização da fantasia tradicional, este romance também não se mostrou tão inovador. Há personagens importantes que se mostram amorais e imprevisíveis – precisamente aqueles que desempenham o papel de Deus ex Machina –, mas os protagonistas são fundamentalmente simpáticos e bem-intencionados e enfrentam poderes políticos e econômicos inequivocamente maus e corruptos, que atuam com eficiência e perfeita coordenação contra uma subversão ingênua, amadora e impotente.

É como se o autor quisesse nos convencer de que o poder é odioso, mas desafiá-lo é fútil. Por ideologia? Obviamente, não: o autor é literalmente um marxista de carteirinha. Filiado até 2013 ao Socialist Workers Party, principal partido trotskista britânico, rompeu após tergiversações da liderança sobre um caso interno de estupro e tornou-se um dos fundadores de um novo partido de esquerda chamado Left Unity.

É autor de Between Equal Rights: A Marxist Theory of International Law (2005), 375 páginas de respeitável crítica erudita do direito internacional à luz do materialismo histórico marxista. O problema é que, mesmo sendo revolucionário como teórico, foi conservador nesta prática ficcional, presa a esquemas lineares ação/consequência, bem/mal, ordem/caos, crime/castigo que só parecem complexos pelo abuso barroco da multiplicação, cruzamento e fracionamento.

Como literatura, as duas sequências também programadas para publicação pela Boitempo, The Scar (2002) e Iron Council (2004), mostram-se mais satisfatórias e bem acabadas. Com menos provocações, menos ideias soltas e menos piscadas de olho para fãs de RPGs e da literatura de fantasia, oferecem enredos mais consistentes e resultados mais proporcionais às intenções.

Estação Perdido é de certa forma um grande rascunho experimental, embora tenha sido necessário como ponto de partida da série e do gênero e ainda seja um prato transbordante para o fã de literatura de fantasia em busca de cenas surreais e inesquecíveis, mundos estranhos, espécies fantásticas e teorias mágico-científicas como fins em si mesmos.

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Leia trecho:

"Em pé diante de Lin estava uma imensa Refeita. Ainda tinha o mesmo rosto triste e belo da mulher humana que sempre fora, pele escura e cabelos longos e trançados, mas seu corpo havia sido suplantado por um esqueleto de mais de dois metros todo feito de ferro preto e peltre. Ela se apoiava sobre um tripé telescópico de metal rígido. Seu corpo havia sido alterado para o trabalho pesado, com pistões e polias, dando-lhe o que parecia ser uma força inelutável. Seu braço direito estava nivelado à altura da cabeça de Lin e do centro da mão de bronze estendia-se um arpão de aspecto maligno.

Lin recuou em terror atônito.

Uma volumosa voz soou por trás da mulher de rosto triste.

- Srta. Lin? A artista? Você está atrasada. O sr. Mesclado está esperando. Por favor, queira me acompanhar.

A Refeita deu um passo para trás, equilibrando-se em sua perna central e balançando as outras atrás, dando a Lin espaço o bastante para dar a volta ao seu redor. O arpão permaneceu imóvel.

Até onde você pode ir?, Lin pensou consigo mesma, e adentrou a escuridão.

No fim do corredor totalmente escuro estava um homem cactáceo. Lin podia sentir sua seiva no ar, muito de leve. Ele tinha uns dois metros de altura, membros grossos, pesados. Sua cabeça quebrava a curva de seus ombros como um afloramento de rocha, sua silhueta era irregular, com nódulos de crescimento duro. Sua pele verde era uma massa de cicatrizes, espinhos de oito centímetros e minúsculas flores primaveris vermelhas."

site: https://www.skoob.com.br/estacao-perdido-580880ed582231.html
Portela 09/06/2016minha estante
Li sua ótima resenha! Merece quantas estrelas?


Wendell 15/06/2016minha estante
O próximo autor da minha lista.




Jedi Literário 13/09/2021

Estação Mieville
Existem aspectos que muito me chamam a atenção na obra de Mieville. O primeiro deles é a capacidade que o autor tem de gerenciar as várias subtramas apresentadas no texto até sua convergência à trama principal, a qual, aliás se revela algumas dezenas de páginas dentro da história. As subtramas, e são várias, apresentam diferentes núcleos narrativos, que por sua vez nos mostram diferentes aspectos do mundo e sua organização. Elas se conectam profundamente com ele, dando uma sensação de efeito cascata quando convergem para o acontecimento principal do livro. Desse modo, cada uma delas é autônoma, relevantes e interessantes em si, mas também coesas e coerentes entre si e no contexto da narrativa como um todo.

Outro ponto é materialismo presente na escrita de Mieville, que se manifesta no fato de que a experiência é sempre descrita e percebida através do corpo. É interessante perceber como o corpo se estabelece como um dos temas centrais da escrita de Mieville. Ele se faz presente em várias dimensões do texto, como, por exemplo, na maneira em que o autor fala da cidade em si. Por vários momentos ela é descrita não de uma forma objetiva, mas subjetivamente. O que nos é dito dela é não apenas sua estrutura física, mas sim, de modo central, os afetos que ela exerce sobre os indivíduos. Estes, por sua vez, são geralmente descritos através de como tocam os sentidos, logo o corpo, dos personagens. Mesmo as metáforas e analogias usadas são comparações com o corpo ou suas substâncias. A cidade é repetidas vezes descrita em termos como esse: "escondo-me como parasita na pele desta velha cidade, que ronca, peida, ruge, coça, incha e vai ficando cada vez mais nojenta com a idade". O corpo também é elemento central nos próprios problemas principais que os personagens buscam resolver. O pássaro que teve suas asas arrancadas e quer recuperar sua capacidade fisicamente inerente de voar; o chefe do crime que quer ter uma escultura realista de seu corpo modificado.

Outra questão interessante dessa prevalência do corpo enquanto elemento implícito e explicitado na obra é o fato que ele é sempre explicitado em um lugar de desconforto, de violência e desfiguração, como na temática dos refeitos, indivíduos que infrigem as leis e são penalizados pela desfiguração fisiológica de seu corpo, por vezes brutal, e consequentemente a reorganização funcional do mesmo.
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Paulo 11/06/2017

Em Ciências Humanas dizemos que todo o pesquisador é parcial. Imparcialidade é uma mentira; é uma cortina que esconde aquilo que pensamos. Creio que isso é válido para a maior parte das escolhas ou atividades que fazemos. Todas elas são marcadas por aquilo que temos como valores. Certas obras de ficção estão impregnadas pelo pensamento daquele que escreveu. E, em um autor que é também um ativista, fica difícil dissociar ficção de opinião, de ideologia. Mas, como historiador que estudou diversas linhas de pensamento em sua formação, eu gostaria de fazer um exercício de evitar comentar tão explicitamente a tendência do autor. Vivemos um momento em que as pessoas parecem viver em um mundo maniqueísta (pelo menos no Brasil) e eu gostaria de valorizar a história e a escrita do autor. Farei um esforço... não sei se conseguirei.

Antes de mais nada, caro leitor, aviso de pronto: se você não é um leitor experiente e está conhecendo China Miéville pela primeira, largue este livro e procure outro dele. Recomendo Rei Rato ou Un Lun Dun. Sério! Este não é um livro para você. Estação Perdido é o magnum opus do autor e vem repleto de altos conceitos e ideias as mais malucas possíveis. Trata-se de uma leitura longa e difícil. A menos que você se permita certas liberdades durante a leitura, você vai ter muitos momentos em que não vai compreender absolutamente nada do que o China Miéville está escrevendo.

Apesar de a história ter uma série de elementos de ficção científica, ela não é um sci-fi. Isso porque ela possui vários elementos retrô durante a narrativa como carabinas, trens e engrenagens. Isso significa que é um steampunk? Também não porque o autor emprega alguns elementos e criaturas fantásticos como garudas, magias taumatúrgicas e tecidos dimensionais. Ah, então é uma fantasia? Também não porque existe uma vasta presença de tecnologia na narrativa. Posso dizer com precisão que Estação Perdido é um animal único. Existe em seu próprio subgênero, pegando elementos emprestados de outros subgêneros. Quando o leitor começa a ler a narrativa, é necessário entender que você não precisa entender as maluquices que o autor vai inserindo na história. Abandone isso. Abstraia. Se deixe levar. Por incrível que pareça, no espaço de cinquenta páginas, as insanidades do autor vão fazer total sentido para você. As duas primeiras partes do livro servem para aclimatar o leitor ao universo estranho criado para a composição do enredo.

E eu entro em outro ponto da resenha: a criação do mundo. Raramente somos presenteados com um autor que sabe dar vida ao seu universo literário. Recentemente eu vivi isso ao ler Elantris de Brandon Sanderson, mas eu creio que Nova Crobuzon eleva isso um patamar acima. Diferente da escrita original e fantástica de Sanderson, Miéville cria um mundo vivo. A cidade pulsa com sentimentos e sensações. Todos aqueles que habitam a cidade se envolvem com ela através de alguma relação seja de amor, ódio, respeito, desprezo. A linha férrea que separa os diversos distritos da cidade é também algo que divide os diversos estratos sociais. Por um lado temos os khepris, criaturas que se assemelham a besouros e que são como uma classe artística na cidade, criando estátuas belíssimas através de suas secreções. De outro temos os cactóides, criaturas desconfiadas e soturnas, que às vezes funcionam como capangas de gangues criminosas, mas habitam um espaço separado de Nova Crobuzon chamado de A Estufa. Temos também os garudas, águias imensas com estrutura humanas e que possuem suas próprias leis e maneira de enxergar o mundo. Alguns habitam um distrito afastado da cidade, mas a maioria habita Cymek, uma região desértica próxima à cidade. No meio de tudo os humanos habitam a maioria destes distritos sempre com sua própria maneira de sobreviver. Alguns habitam cargos burocráticos corruptos, outros são chefes de gangue, alguns outros são cientistas ou empresários, mas a maioria vive nas franjas da cidade.

Miéville ao mostrar o grupo que controla a cidade, faz uma crítica bem explícita aos governos. Sempre apresentados como corruptos e ineficientes, uma das imagens marcantes é a tentativa de pacto que o prefeito Rudgutter tenta fazer com um demônio. Isso demonstra como o governo é comprometido da cabeça aos pés. Não só isso como o próprio prefeito afirma que essa prática é comum a vários de seus antecessores. Boa parte do problema que acontece na história é provocado pelo protagonista sim, mas se não houvesse todo o esquema de fornecimento de materiais sigilosos entre o governo e o sr. Mesclado, Isaac não teria posto as mãos nas larvas. Em sua história, o autor demonstra a proximidade que existe entre governos corruptos e o crime organizado. Chegamos a nos dar conta até de que o crime organizado possui uma estrutura mais eficiente do que o governo. E aí esta relação tem como consequência o tráfico de drogas na cidade. Tráfico este que o governo de Nova Crobuzon passa por cima. Não quer impedir as ações do sr. Mesclado já que ele possui grande importância para determinados negócios da cidade. O governo não quer se comprometer e contrariar o chefão.

Também vemos como o governo lida com as revoltas civis na cidade. Dois acontecimentos são bem marcantes: a greve dos vodyanois e a invasão ao Renegado Rompante. O objetivo da milícia governamental é bem claro: destruir a qualquer custo. Se alguém sair ferido, é efeito colateral. O despreparo da milícia é bem evidente. O que era para ser algo para tornar uma greve administrável sem que outros fossem feridos, se torna uma batalha campal. Ou seja, Miéville está colocando o aparato policial governamental como algo repressor. Não é voltado para dar segurança às pessoas, mas para assegurar o governo de que o seu aparelho continue a funcionar, mesmo contra a vontade da população.

Mas, okay, vamos sair um pouco da construção de mundo. Falemos um pouco dos personagens. No começo eu achei que a história se tratasse de algo como um Romeu e Julieta em um mundo estranho. Os protagonistas são Isaac, um cientista renegado e Lin, uma artista khepri que mantém uma relação de amor que vai contra os costumes da sociedade. Eu torci o nariz para isso em um primeiro momento, mas a maneira como o autor lida com o casal é de extrema maturidade. Só parece que vai ficar nisso, mas em pouco tempo o autor muda o foco e trata a relação com absoluta naturalidade dentro de seus conflitos. Eu adorei o casal. Não vou falar nada além disso. Os demais personagens são também muito interessantes. Como eu disse, o autor dá vida à cidade. E aqueles que habitam a cidade são parte importante do processo. Em pouco tempo o leitor está familiarizado com todos. E todos são muito humanos em suas qualidades e defeitos. Não existem estereótipos aqui. Nem mesmo o garuda Yagharek que mais tarde na história descobriremos muito mais sobre ele. Portanto, a construção e desenvolvimento de personagens é um aspecto de muito destaque na história.

Até a maneira como estes personagens se relacionam pode ser percebida de uma forma bem clara. Alguns se relacionam diretamente outros se conhecem através das múltiplas relações que existem dentro da cidade. O sr. Mesclado sempre esteve na mira de Isaac por conta de seus negócios com Gazid Sortudo. Não importa se Lin estava trabalhando para ele, Isaac iria cruzar com o chefão em algum momento na história. O mesmo podemos dizer da jornalista Derkhan que aparece como uma jornalista hipster no começo da história, mas que vai revelando suas múltiplas camadas à medida em que vamos nos embrenhando na narrativa.

A história segue bem linear ao longo do livro. Os subplots servem para dar uma riqueza maior ao universo e alguns até mesmo enriquecem a narrativa central. Pode não parecer em um primeiro momento, mas tudo o que acontece ao longo dos capítulos possui alguma importância. China Miéville deixou algumas pontas soltas para trabalhar em outras histórias, mas se você quiser parar a série aqui, você com certeza estará satisfeito. A narrativa é muito bem amarrada. Não existe muito espaço para falta de coerência aqui. O que, para você, é falta de coerência, na verdade não passa de insanidades inseridas pelo autor para compor o universo literário. Teiamundo, taumaturgia, outras dimensões. Passe por cima disso. Foque-se na narrativa. Talvez seja por esse motivo que muitos acabam não gostando muito do gênero New Weird; por eles buscarem sentido onde nunca houve um. Garanto a vocês que a história é sensacional.

Meu único porém em relação à narrativa é que eu achei o livro grande demais. Por volta das partes 5 e 6 eu percebi uma certa encheção de linguiça. Não havia a necessidade de enrolar tanto o confronto final. Dava para cortar pelo menos umas cento e cinquenta páginas das 600. Tornou as últimas partes muito maçantes e cansativas. Quando eu cheguei na sétima parte onde acontece o clímax da história, eu já estava bem desgastado. Porque, novamente, é uma leitura que exige bastante atenção do leitor. Ela não permite que o leitor flutue pelos parágrafos. Se eu perco a compreensão de uma ou duas páginas, perdi boa parte do fio da meada. Outra coisa que me incomodou um pouco no aspecto narrativo é que o autor é muito explicativo em alguns trechos. Parece até que ele está dando uma palestra. Quando Isaac vai explicar a energia de crise para Yagharek somos afogados em dez páginas pesadas de explicação. Isso não acontece apenas nessa oportunidade. Mas, esta foi a mais explícita de todas. As informações sobre energia de crise poderiam ter sido espalhadas em outros momentos da história. Ou até ser colocada de uma maneira que não fosse uma palestra.

Enfim, Estação Perdido é um livro desafiador, porém fantástico sobre diversos aspectos. Eu poderia falar mais sobre outros temas da história como o confronto entre a ordem dos Construtos e o caos do Tecelão, mas acredito que seria bacana o leitor se deparar com estas outras descobertas durante a história. Miéville me mostrou um universo vivo e pulsante, repleto de personagens que possuem suas próprias histórias. Trata-se de uma história em que o leitor precisa aceitar o estranho e se deixar maravilhar pela decadente cidade de Nova Crobuzon.

site: www.ficcoeshumanas.com
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Mariana 30/12/2022

Redondinha e complexa
Universo bem construído, complexo, cheio de raças com culturas diferentes e bem explicadas para gente imaginar. É prolixo às vezes para explicar suas teorias, mas o resultado é tão bom! É um prato cheio para criar novas aventuras, é rico demais e com ameças bem colocadas e que realmente provocam medo no contexto da trama. As cenas de ação são muito bem descritas. Quem gosta de RPG tem aqui um universo que pode render boas seções de jogos, já que a trama traz muitos seres místicos, com muito espaço para a criatividade. Eu amei. E estou chateada de não ter os dois outros livros em português... Ô editoras, isso não se faz...
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Professor Eddie 25/11/2021

Caraca.
Pensa num livro livro que te prende do início ao fim. Um livro que faz você sentir através das palavras.
Nova Crobuzon é uma cidade muito confusa e admirável ao mesmo tempo.
Não é a toa que China Mieville é um dos maiores escritoresde ficção científica de todos os tempos.
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LUNII 12/07/2021

Isso sim é aventura!!
Eu me interessei pelo China depois que conheci mais do new weird e eu não podia deixar de ler isso aqui, todo mundo falando o quão incrível era e tal. E de fato, é incrível, incrivelmente cruel, cru, amargo, azedo, pegou meu coraçãozinho de leitora e jogou no lixo. China, por foi tão realista???? Nunca vou conseguir esse final e puta que pariu e nunca acho alguém pra conversar sobre...
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Alessandro232 16/09/2016

Uma viagem ao mundo fantástico de Miéville
China Miéville é considerado um dos melhores atores de literatura fantástica da atualidade. "Estação Perdido" é uma de suas obras mais conhecidas e desafia a classificação dentro de um gênero.
Trata-se de uma mistura equilibrada de elementos de ficção científica e horror que tem suas origens tanto no cinema como na literatura. Quem ficar atento vai perceber que o autor constrói o enredo do romance fortemente influenciado por obras de H. P. Lovecraft - talvez uma de suas maiores influências, romances de Charles Dickens e de Stephen King, narrativas de Borges, filmes dirigidos por David Cronenberg.
"Estação Perdido" é verdadeira "colcha de retalhos", que embora muito bem costurada deixa algumas pontas soltas, talvez porque é o primeiro livro de um trilogia. O que mais chama a atenção na obra é a forma verossímil como o autor descreve o cenário, no qual se passa toda a narrativa: a imensa cidade de Nova Crobuzon. É impressionante a quantidade de detalhes que Mieville utiliza para descrevê-lo. É por meio de sua prosa caótica cheia de neologismos que conseguimos visualizar as ruas, os prédios e até mesmo temos a impressão de sentirmos o mau cheiro de alguns lugares. Mieville também demonstra talento na composição de personagens: todos eles são críveis e os protagonistas conseguem cativar o leitor. É notável a maneira como o autor descreve as etnias de raças que vivem em Nova Crobuzon. Todos os seres monstruosos, embora nem todos maus têm características específicas e são descritos de modo que o leitor possa identificá-los.
Destaque entre eles para Lin - a personagem mais interessante de "Estação Perdido" - uma criatura com corpo de mulher e cabeça de besouro que mantém um relacionamento amoroso secreto com Issac, um cientista desbocado e bonachão que está desenvolvendo um estranho experimento científico. Inicialmente, o leitor pode até ficar um pouco impaciente com as descrições minuciosas do cenário e dos personagens, mas em determinado trecho a trama vai ficando mais complexa e o autor nos recompensa com muitas cenas empolgantes de ação e horror que são capazes de causar genuínos arrepios no leitor.
Sendo Miéville de formação marxista, em uma algumas passagens do romance podemos ver a existência de um discurso que pode ser definido como "socialista" que procura denunciar o conflito entre classes sociais. No entanto, "Estação Perdido" não se torna um texto ideológico, visando passar uma mensagem política (o que é um alívio). Miéville somente cria algumas situações para criar uma certa tensão na narrativa, embora deixe sugerido nas entrelinhas de seu romance que os mais fracos estão fadados a serem sempre subordinados aos poderosos que em "Estação Perdido são líderes de um governo corrupto e injusto.
Embora um pouco irregular em alguns trechos, "Estação Perdido" é uma obra inovadora que definiu os novos rumos da literatura fantástica. Um livro cheio de imagens impressionantes que nos transporta para uma realidade assustadora e fascinante ao mesmo tempo, que demonstra o grande talento de Miéville para criar mundos imaginários que instigam nossa imaginação.
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Renan Barcelos 19/11/2016

Estação Perdido
Ganhadora de diversos prêmios desde o seu lançamento em 2000, Estação Perdido, a segunda obra de China Miéville, um dos expoentes do gênero New Weird, é merecedora de cada uma de suas conquistas. O livro se situa mostra a metrópole de Nova Crobuzon, cidade situada no mundo de Bas-Lag, que combina fantasia, ficção científica, terror e estranhezas em um modelo de mundo bastante verossímil e, muitas vezes, inquietantemente real. Declaradamente pertencente a esquerda política, chegando até mesmo a ter fundado um partido socialista na Inglaterra, o autor faz questão de subverter os idealismos e fábulas muito encontrados na fantasia e sua cidade-personagem tem todo um estilo dickensiano onde se deixa de lado os reis benevolentes e seus reinos idealizados do gênero fantástico e se apresenta um capitalismo desigual em uma democracia que poderia ser chamada de distópica, não fosse tão pautada na realidade.

O livro logo começa apresentando o casal de personagens que coloca a maior parte da história em seguimento. Isaac der Grimnebulin, um cientista que tenta juntar magia e todos os campos da ciência em sua teoria da “energia de crise”, e sua namorada, Lin, uma artista khepri, raça de mulheres com cabeças de besouro que possuem a capacidade de criar belas estátuas com seus excrementos de artrópode. Sem pressa, a trama vai mostrando a vida do casal e de seus amigos, explorando aos poucos Nova Crobuzon, com a trama principal, lentamente sendo desenvolvida quando Yagahrek, um membro da raça garuda de homens-pássaro cujas asas foram amputadas, contrata der Grimnebulin para devolver-lhe a capacidade de voar. Ao longo de suas investigações, Isaac explora sua cidade e diversos campos científicos, até que tudo pareça indicar que a solução para o problema de Yagahrek reside no seu grande ramo de pesquisa, a ainda teórica energia de crise. No entanto, antes que possa trazer uma solução para o garuda, o excêntrico e desbocado cientista acaba trazendo para a cidade uma praga estranha que causa temores até mesmo nos embaixadores do inferno.

As relações de Grimnebulin, Lin, Yagahrek e os outros indivíduos – maiores e menores – que eles encontram são bem desenvolvidas, com suas motivações progredindo aos poucos e sua história pregressa sendo bastante explorada. No entanto, é de se considerar que talvez o maior personagem de Estação Perdido, seja a própria cidade de Nova Crobuzon. Miéville se dedica muito a delinear e desenvolver o local, dando atenção especial às descrições de seus vários bairros, sua arquitetura inconstante e, principalmente, à atividade que fervilha em seu meio. O autor faz questão de sempre demonstrar o movimento, ou a falta dele, dos inúmeros habitantes da cidade, e após o prólogo, é exatamente assim que a história começa: com uma descrição magistral da atividade e o cotidiano de uma feira popular. As imagens que Miéville lança são muito vívidas, com descrições muito felizes em projetar os aspectos físicos e estáticos dos becos sujos, dos prédios decadentes, daqueles marcos impressionantes e inquietantes ao mesmo tempo em que narra as pessoas que ocupam tais espaços, suas vidas e interações. É impossível terminar a leitura sem relacionar o que foi lido a um ambiente real de uma cidade real. Mais longe do que isso, não deve ser difícil para o leitor que mora em alguma metrópole ver a sua morada descrita em Nova Crobuzon.

Ás vezes de forma discreta, outras de forma ostensiva – em uma beleza sagaz e desnecessária, mas ainda assim beleza – uma outra história é contada por traz da trama de Grimnebulin. Enquanto o cientista está às voltas com seus experimentos ou tentando combater o mau que causou, a vida na cidade continua, com suas pessoas e relações e história dispares e paralelas, mostrando que existe um mundo por trás dos personagens, não apenas o pano de fundo pintado e falso de uma peça de teatro. Miéville não conta apenas uma história, mas mostra um ecossistema funcionando em seu ambiente cruel e cheio de idiossincrasias. Uma sociedade complexa, injusta e moderna, em constante atritos políticos, morais e filosóficos, onde se vive e se morre em um cotidiano cheio de alegrias e dissabores.

O autor se esforça para explorar as diferentes paisagens e vidas de Nova Crobuzon, parecendo realmente querer mostrar como os personagens – tanto protagonistas quanto os quase invisíveis – se relacionam e coabitam naquele meio. Construir um mundo impiedosamente verossímil de desigualdades e injustiças foi um objetivo bem alcançado do livro. Mas nisto reside também um problema, tirando os momentos que oferecem descrições panorâmicas da cidade, nem sempre os diferentes bairros da cidade parecem fazer parte de um mesmo ambiente, mas retalhos deslocados que não parecem interagir entre si. Mas afinal de contas, considerando a segregação cultural, racial e sócio-espacial que existe em muitas metrópoles, o quanto disto, de fato, é um erro?

As críticas ao capitalismo e uma demonstração da crise da democracia representativa estão bem claros no livro. Mesmo passado em um universo ficcional, também é fácil de pensar em Estação Perdido como enquadrado na ideia de Estética Marxista, com o foco que se coloca na economia e no social para determinar as relações entre as diferentes classes e o enfoque na vida cotidiana do povo. No entanto, o livro não busca pregar uma ideologia ou uma moral, os paralelos com a realidade estão lá, mas não são o objetivo do livro, que tem uma história e uma ambientação voltadas para si mesmas e não para ostensivamente transmitir uma tese sobre o mundo. As crenças de Miéville se apresentam mais nas escolhas dele de como escrever sua obra do que na história e no mundo que ele compôs.

E nesse sentido, fosse outro a desenvolver a trama de Estação Perdido, ou talvez outra a ser o editor do livro, a obra poderia ter menos da metade de seu tamanho. Dentro do que muitos consideram adequado ou esperável – ou até mesmo, vendável – nas obras do campo da fantasia, o primeiro romance da Saga Bas-Lag poderia começar quase que exatamente em sua metade; no momento em que Isaac der Grimnebulin encontra um cadáver e descobre que tudo está dando errado. Enxuto, direto, sem gorduras e começando tão próximo do fim quanto perdido: considerações que teriam cortado mais de 300 páginas e tirado o que tem de melhor em Estação Perdido.

Na ficção, seja fantasia, científica ou qualquer outra, por vezes o sabor está nos excessos, nos apêndices mau aparados, e nesse sentido, Estação Perdido tem uma agradável quantidade de gordura e fiapos em sua trama. Se tem um momento em que Miéville acaba oscilando na qualidade é justamente lá pro final da obra, quando ele se foca nos acontecimentos “principais” e deixa um pouco de lado as outras visões dos pequenos grandes personagens e nos acontecimentos cotidianos, vivos e verossímeis de Nova Crobuzon.

site: http://ovicio.com.br
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Cris 31/12/2016

Tollkien Hard Boiled
Um belo dia, Christopher Tolkien, filho de J.R.R. Tolkien e herdeiro do legado literário de seu pai, resolveu chutar o balde, fumou três pedras de crack e no auge da tripla gozada "crackeira", pois dizem que uma viagem de pedra equivale a um orgasmo, ligou para Clive Barker e William Gibson e lhes disse: "Escrevam em conjunto uma continuação para 'O Senhor dos Anéis' que se passe no futuro. Não em nosso futuro, mas no futuro da 'Terra-Média'. Façam a porra como vocês bem entenderem. Minha única exigência é que tenha uma ambientação vitoriana".
Ok. Isso nunca aconteceu, mas essa realidade alternativa foi a única forma de eu retratar o alcance, e qualidade, imaginativos de "Estação Perdido" assim como o impacto que essa obra exerceu em mim como aficionado em Literatura Fantástica.
"Perdido Street Station" de China Mièville é um livro, simplesmente, singular que consegue agradar em cheio não apenas aos "geeks" amantes de monstros, RPG e detalhados mundos imaginários, mas também aos indivíduos de mente aberta e contestadora seguidores de Sade, Bukowski, William S. Burroughs e Sociologia de esquerda..
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Andrezera 22/01/2024

Livrão
Em varios sentidos, livrão kakakaka demorei muuuuiito tempo pra finalizar ele, acho que nao sou um bom leitor de fantasia, gosto de Senhor dos Aneis e de Game Of Thrones, mas eu gosto do audiovisiual dessas obras. Penso que se fosse pra ler os livros eu nao conseguiria. Talvez, nao sei. Estação perdido tem uma história muito legal e bem desenvolvida com um universo rico. Mas pro meu engajamento de leitura é pesado, por enquanto nao é pro meu nivel, tanto que nao vou continuar a trilogia. Mas se vc curte uma parada diferente, recomendo. É um puta livro!
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Oesttreiichh 08/12/2017

Ficção, mas diferente de tudo que já li!
Um livro de uma complexidade impressionante: A maneira como o autor trabalha, com riqueza de detalhes todos os meandros da obra, dando voz e visibilidade à diversos personagens, "raças" e locais. Inserindo-os em um universo enorme, complexo e contraditório é algo que não vi em nenhuma outra obra de ficção que tenha lido até hoje!

O universo do livro, de BAS-LAG, é caótico, estranho e exótico! (E apaixonante!)

Por ser um ativista político e teórico, sua obra reflete sua visão de mundo. Aborda no mesmo livro temas diversos, tais como: Corrupção, violência policial, relações de poder, ciência e religião, moralidade, ética e etc.

A multiplicidade de raças, locais, credos, a forma como se relacionam e se distribuem nos mais diversos espaços - narrados num riqueza de detalhes única - tecendo relações sociais, políticas e até amorosas. ("Normais" ou desviantes).. É algo que pode ao primeiro momento espantar o leitor desavisado, por isso afirmo: Mièville não é um autor para todos os tipos de leitores de ficção e Estação Perdido não deve ser seu primeiro livro dele!

Não é Fantasia, Não é Steampunk.. O rótulo de "New Weired" parece se encaixar como uma luva ao definir o autor e sua obra.
ESTAÇÃO PERDIDO é, indiscutivelmente, a obra-prima de Mièville!
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Shaqit 06/01/2018

Bizarro narrativo
Nova Crobuzon parece com várias metrópoles que conhecemos: suas ruas caóticas, sua prefeitura corrupta, sua estratificação social, sua segregação velada. A diferença é o toque de estranheza que Nova Crobuzon demonstra: cientistas misturam suas pesquisas "quêmicas" com taumaturgia, espécie de magia comedida. Condenados são transformados em criaturas horrendas maquinizadas apenas para o prazer de juízes sádicos. Cactos antropomórficos de vasta fé convivem com criaturas senscientes que lembram sapos e que incitam greves nos portos. Mariposas gigantescas causam pesadelos, se alimentam de consciências e são ordenhadas em busca do mais pesado alucinógeno.

É no meio desse caos e bizarrice que Isaac Grimmebulin, cientista outsider, negro e gordo, que namora secretamente uma khepri, ou seja: uma mulher com um besouro no lugar da cabeça, é contratado por Yagharek, uma espécie de homem-pássaro que teve suas asas arrancadas e sonha em conquistar os céus novamente. Na tentativa de fazer com que Yagharek volte ao ar, Isaac acabará mergulhando a cidade em sua maior crise.

China Miéville é um autor britânico de Fantasia e Ficção Científica e tem em Estação Perdido seu mais reconhecido trabalho. Não é para menos: temos aqui um livro de potência imaginativa surreal. A mente de Miéville não economiza no bizarro, no estranho e no esquisito. Com uma prosa eficiente e personagens apaixonantes, Estação Perdido consegue emocionar, tirar o fôlego, te deixar tenso e com raiva. E te deixar desolado. Críticas sociais aliadas ao melhor que a literatura de gênero, ou especulativa, pode oferecer: os monstros aqui não são apenas metáforas. Eles são realmente monstros. E é preciso enfrentá-los.
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Rafaelmmt 27/07/2020

Esperando o filme!!
Não sou um grande fã de livros de fantasia, pois costumo achar cansativas as longas passagens descritivas. No entanto, a originalidade da história e dos personagens de ?Estação Perdido? compensa demais. Ótimo livro, com certeza recomendo!
Fico no aguardo por uma adaptação em filme ou seriado, seria muito legal!!
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Pantaleoniano 28/07/2021

Bem diferente de qualquer fantasia/ficção científica que conheço. A comparação mais próxima seria Douglas Adams, mas acho que seria injusta com os dois. De qualquer forma, creio que agrade um nicho mais específico do que o grande público.

Às vezes difícil de acompanhar pela quantidade de elementos e pela "aleatoriedade" dos acontecimentos, mas claramente é algo intencional na construção do mundo e dos personagens.

A veia política é clara: às vezes óbvia, às vezes sutil, mas sempre bem representada.
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