steph (@devaneiosdepapel) 12/12/2016Dare Me - Megan AbbottMeninas Malvadas + Cisne Negro = Dare Me.
Eu já não sou adolescente há uns bons dez anos. Mas ainda lembro com nitidez de alguns momentos do ensino médio e como eram a mentalidade das garotas naquela época. A rivalidade, a amizade, a falsidade, o ódio... tudo era em escalas astronômicas, sentido com muita intensidade. E apesar da aparente tristeza e apatia das personagens de Dare Me, é sobre esses sentimentos fortes que iremos ler.
Megan Abbott faz parte daquele time de autores que trata seus personagens com crueza, sem enfeitá-los em nenhum momento. Ela evoca de cada um seu lado mais sombrio, e nos surpreende ao abordar tantos assuntos complexos sem nos sufocar com informações o tempo todo.
O pano de fundo desta história é o ensino médio, mais precisamente a aula de Educação Física, onde as líderes de torcida praticam seus números e acrobacias. O grupo de garotas é abordado a fundo, assim como seus distúrbios alimentares e problemas de autoimagem. Temos a líder suprema, Beth, que é a típica Regina George; a amiga-braço-direito, Addy, que é o cachorrinho de estimação que faz tudo o que Beth pede e uma dúzia de outras meninas que apenas seguem umas às outras e fazem o seu melhor para conquistarem reconhecimento.
O conflito principal se sustenta pela rivalidade entre Beth e Colette, a nova treinadora das cheerleaders. Não senti em nenhum momento que Abbott tentou passar a imagem de que a rivalidade entre mulheres é natural; muito pelo contrário, os momentos de fofocas e rixas entre as garotas me soaram como um lembrete do quão problemático é esse comportamento e como suas consequências podem ser irreversíveis.
O ritmo do livro é lento no início, e vemos apenas vidas monótonas de adolescentes entediadas. Mas a situação muda conforme vamos sendo levados a um enredo cheio de segredos, vingança, e maldade, que se manifesta até nas menores ações e nos menores diálogos.
Addy, que narra Dare Me em primeira pessoa, poderia ser uma personagem sem carisma, mas seus conflitos internos são tão reais e interessantes que me mantiveram presa à ela. É claro que há momentos bobos, mas totalmente compreensíveis por conta da realidade de Addy e de como ela se enxerga e interage com as pessoas à sua volta. E com certeza ela foi a personagem que mais se desenvolveu durante todo o livro, adorei seu amadurecimento.
Gostei muito da sutileza utilizada para tratar a sexualidade de alguns personagens. Achei verossímil e nada forçado. As reviravoltas também foram instigantes e deram um gás na história.
O meu maior problema foi com a escrita de Abbott. Como li em inglês, tive bastante dificuldade para compreender todas as metáforas utilizadas pela autora. Alguns termos também ficaram bem confusos devido à aplicação usada, e isso me fez travar na leitura algumas vezes. Definitivamente não é recomendado para quem tem um inglês mais básico.
Mas no geral é um livro forte que poderia ser simplório, mas caindo nas mãos certas, conseguiu transmitir muito bem a sua mensagem.
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