Phelipe Guilherme Maciel 23/01/2018A usura desta gente transformou esta história num aleijão.Esta peça de teatro conta a história de Zé do Burro, um inocente homem da roça que ao ver seu amado burro ferido de morte, busca todos os meios de curá-lo. Não encontrando meios na medicina convencional e em sua própria devoção, num ato de desespero final, Zé do Burro apela para uma casa de Candomblé e promete a Iansã, sincretizada em Santa Bárbara que em caso de cura de seu burro, iria a pé até uma igreja de Santa Bárbara com uma cruz nos ombros para entrega-la no altar, em dia de festejo da santa, além de doar grande parte de suas posses aos mais pobres.
O burro milagrosamente se cura, e assim começa a odisseia deste humilde homem.
Ao chegar à igreja, o vigário da paróquia, sabendo que a promessa foi feita a um Orixá do candomblé e não a uma Santa católica, proíbe-o de cumprir sua promessa.
O final da trama é um emaranhado de rápidas ações onde todos desejam roubar um pouco mais da alma e das posses do pobre homem, que culmina numa desgraça. Se não quiser spoilers, a resenha acaba aqui.
O livro não é um ataque à Igreja Católica, pois o sincretismo religioso que os africanos faziam com os santos católicos para cultuar seus próprios santos, nada tem a ver com a Igreja e vice versa. O padre, inclusive, tem sentimentos ambíguos em relação com a história do homem, e chega a condoer-se de seu destino fatal.
O que o livro certamente denuncia é a usura dos homens, que se utilizaram da inocência deste homem para rouba-lo tudo o que tinha. O padre lhe roubou a fé. O vigarista da cidade lhe roubou a mulher. Os homens lhe tentavam roubar o pouco dinheiro que tinha, em troca de favores para entrar na igreja. Os jornalistas lhe roubaram a paz e a honra. A polícia lhe roubou a vida.
Após o ato que culmina em sua desgraça, ele acaba que conseguindo entrar na Igreja, porém morto. Como mártir.
Esta peça, além de atuada no teatro, tornou-se HQ e filme em duas oportunidades. Na primeira vez que foi adaptada ao cinema, rendeu ao Brasil e à América Latina a primeira (E até hoje a única) vitória na Palma de Ouro do Festival Internacional de Cannes, na França, após maravilhosa encenação de Glória Menezes, Leonardo Villar e direção de Anselmo Duarte, em 1962.
"(...) Mas a usura dessa gente, já virou um aleijão
Ôôô , ôô... Gente estúpida! Ôôô , ôô... Gente hipócrita!"