Júlio 25/08/2017
Há muito tempo que eu me prometi ler esse livro, não só por ser um livro base no cânone que influenciou alguns escritores que já li (Rushdie, Borges etc) e que ainda quero ler (Mahfouz), mas também pela curiosidade de histórias que tem como origem o oriente, ainda mais o oriente do século IX, o que me dava a impressão de que a obra seria uma espécie de Odisséia árabe em que a mitologia e costumes estariam estampados, permitindo que eu pudesse aproveitar a obra pelo que ela é e com o bônus de adquirir bagagem para leituras futuras.
No geral foi isso que eu obtive, as histórias são repletas de personagens que encarnam as vilanias e virtudes da época e da tradição muçulmana. Histórias essas que são extremamente variadas, indo do fantástico, repleto de gênios e criaturas místicas, ao conto do cotidiano, narrando as desventuras do cidadão comum. Sultões, califas, príncipes, imãs, mendigos, dervixes e ladrões, todos tem sua chance de brilhar. Casamentos feitos horas após o primeiro encontro dos amantes, reinos subaquáticos, pessoas transformadas em animais, muitas, muitas pessoas transformadas em animais, muitos banquetes, muitas provações, muitas decapitações etc. Apesar dessa variedade e do fôlego infinito de Sherazade, os dois aspectos que mais me agradaram na obra foram:
1- A textura da narrativa, principalmente no primeiro volume, em que por várias vezes uma histórias é contada dentro de outra história, e assim por diante, sem que o fio lógico original se perca, e esse aspecto da leitura foi muito interessante de conferir.
2- A engenhosidade nas histórias menos fantásticas, como na história do Barbeiro e de seu seis irmãos, foram as partes mais cômicas e, ainda sim, penosas de se ler. Essa diferença tonal, ainda que nada complexa, me agradou muito mais do que nos contos mais famosos (Alladin, Ali babá e Simbá). Creio, porém, que a maioria das pessoas não iria preferir esses contos mais mundanos aos demais, talvez até achando meio simplista e lugar comum (que afinal de contas realmente o é).
Por fim a leitura é fácil, não tem nada de complexo ou pretensioso na escrita, ou conceitos obscuros de filosofia. No geral é um ótimo livro para fantasiar e alimentar a imaginação.