Padre Sérgio

Padre Sérgio Leon Tolstói




Resenhas - Padre Sérgio


79 encontrados | exibindo 76 a 79
1 | 2 | 3 | 4 | 5 | 6


Arsenio Meira 14/05/2014

Entre a Carne e a Cruz : o embate entre a Fé e a vaidade

Padre Sérgio (1890) resulta da crise (chamada grande crise, de tão famosa que ficou) por que passou Tolstói nos anos anteriores ao lançamento desta pequena obra-prima. Nesse período, o velho Leon condenou toda a sua obra pretérita, cujo acento misógino é nitidamente visível. Essa novela realça um tema que há muito vinha angustiando o genial escritor russo: o amor carnal, visto como nocivo pelo protagonista, porquanto surge como entrave para consumar a necessidade de se reprimir as tentações da carne em prol da força moral existente no homem.

E o Padre reflete: seu impulso de aderir a uma vida monástica teria sido resultado de uma desilusão amorosa. É neste ponto, em particular e sob minha ótica, que Tolstói construiu magnificamente o dilema da vaidade. O padre só tornara-se padre para corroborar uma falsa altivez, uma superioridade inexistente perante os seus iguais. Como se a renúncia se prestasse a diminuir as outras pessoas. Não é por aí, e Tolstói dinamitou esse prurido que até hoje, acho, acomete vários homens voltados diretamente para o Sacerdócio. Não é à toa a analogia tecida e que antagoniza a mulher fatal à imagem do diabo, sempre que o pobre Padre Sérgio se confronta com a tentação. E mais: não deixa de ser um romance de tiro curto a serviço de um grande ajuste de contas com a Igreja ortodoxa; Tolstói já havia denunciado as iniquidades do Templo Ortodoxo, e em Padre Sérgio desmistifica a vida monacal, e expõe com destreza a mercantilização da fé, a ideia cartesiana e castradora incutida pela Igreja ortodoxa segundo a qual o homem pode salvar-se das tentações da vida renunciando a tudo, mediante o ato de confinar-se em um mosteiro. De que adianta a clausura, se o pensamento não permite a morte do desejo sexual?

Padre Sérgio é um personagem do nosso tempo. No livro, ele percebe um profundo elo paradoxal entre a pregação da fé e da moral cristã e os atos reais e sub-reptícios de alguns pregadores. Além de não conseguir fugir a tais tentações, ele acaba fugindo mesmo é do mosteiro por não suportar a hipocrisia dos stáriets; passa, então, a descrer totalmente dos ensinamentos e da prática da Igreja e até a duvidar da existência de Deus. Não foge da religião em si mas daquela religião timbrada, oficial. Termina por buscar a resposta às suas torturantes dúvidas na religião do povo, em quem, segundo Tolstói, está o sentido da própria vida. Procura a prima Máchenka, que já foi rica, sofreu, e agora vive numa pobreza quase extrema. Ela é o elo que o liga ao povo, à sua experiência, e após o encontro com ela Padre Sérgio assume definitivamente a vida de peregrino entre outros miseráveis, consumando na prática a condição tolstoiana para alcançar a salvação da alma.

Padre Sérgio sente todo o sangue do corpo estancando no coração, perde a respiração, mas acaba abrindo a porta, ou pelo menos, deixa uma fresta aberta, e fresta ou não, já não há mais muro ou porta capaz de estancar o sangue que escorre da artéria amorosa da luxúria, essa velha senhora assanhada e sagaz...
pamella 30/01/2015minha estante
Que resenha sensacional! nao tem como não ter vontade de ler o livro depois das suas palavras.


Arsenio Meira 04/02/2015minha estante
Oi Pamella,
Obrigado, Tolstói é gênio, sempre. Espero que que você goste tanto quanto eu.
Abraços.
Arsenio


Alexandre.Domingues 07/02/2015minha estante
Arsenio, muit boa sua resenha. Tive a oportunidade de ler este livro pouco depois de seu lançamento pela Cosac e me surpreendi demais, um grande livro.


@livreirofabio 04/03/2015minha estante
Arsenio, resenha excepcional! Me ajudou a enxergar melhor a "mensagem" do Tolstói, que me parece ter sido um pregador nato, entranhado em suas histórias. Porém, confesso que mais do que a história a carta ao sínodo no final dessa edição me empolgou mais, ali consegui sentir a clareza e a honestidade intelectual do Tolsta.


Thiago 19/02/2017minha estante
Grande Arsenio. Que análise perfeita da obra. Grande leitor. Grande pessoa. Deixou saudades.




raffaele 08/03/2009

Certamente um dos melhores livros que li nos últimos anos, Padre Sérgio é comovente. Tolstói mostra em poucas páginas uma incrível capacidade narrativa, cativando o leitor com a tragédia de Stiepán Kassátski. O escritor quese que poético constrói um personagem intrigante envolvido por orgulhos e abdicações. Consagrado por seus imensos romances, nunca havia me despertado o interesse, hoje vejo que não ler Tolstói seria uma perda lastimável para quem gosta de uma boa literatura. A história é magnífica desde o primeiro parágrafo, narrando a repentina transformação de Kassástski, até o desfecho do livro. Muitos considerarem o final fraco, e classificam este texto como propaganda contra a doutrina da igreja ortodoxa, realmente as críticas são bem fundadas. Mas não se pode negar que apesar dos pontos fracos o livro é bom e Kassástski é personagem fantástico, servindo a um propósito ideólogo.
comentários(0)comente



Nico Henriques 01/03/2009

Simplesmente maravilhoso! Tolstói - talvez o maior escritor que passou por essas bandas - consegue captar todas as ânsias e dúvidas de uma época e sociedade que passaram a duvidar de tudo aquilo que era vigente, como o catolicismo, a hierarquia e outros assuntos da época.
comentários(0)comente



79 encontrados | exibindo 76 a 79
1 | 2 | 3 | 4 | 5 | 6


Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com a Política de Privacidade. ACEITAR